QUATRO POEMAS PARA TRANSFORMAR O SEU ANO NOVO
Postado por DCP em 30/12/2022
Na contramão dos
fogos de artifício, dos shows e dos ritos tradicionalmente realizados no romper
de cada ano, o site DCP reúne quatro poetas incríveis para saudar e
brindar com você o Ano Novo. Quatro poemas sobre o Ano Novo que mostram que a
vida não muda se não a fazemos mudar.
O primeiro poema é
do poeta português Fernando Pessoa, um dos mais queridos e lidos poetas
de todos os tempos. Nasceu em 13 de junho de 1888, Lisboa, Portugal e faleceu
em 30 de novembro de 1935, na sua Lisboa, o poema chama-se Ano Novo.
Ficção de que começa
alguma coisa!
Nada começa: tudo
continua.
Na fluida e incerta
essência misteriosa
Da vida, flui em
sombra a água nua.
Curvas do rio
escondem só o movimento.
O mesmo rio flui
onde se vê.
Começar só começa em
pensamento.
O segundo do
incrível poeta mineiro de Itabira, Carlos Drummond de Andrade, nasceu em
31 de outubro de 1902 e faleceu em 17 de agosto de 1987. O poema chama-se O
Ano Passado.
O ano passado não
passou,
continua
incessantemente.
Em vão marco novos
encontros.
Todos são encontros
passados.
As ruas, sempre do
ano passado,
e as pessoas, também
as mesmas,
com iguais gestos e
falas.
O céu tem exatamente
sabidos tons de
amanhecer,
de sol pleno, de
descambar
como no
repetidíssimo ano passado.
Embora sepultos, os
mortos do ano passado
sepultam-se todos os
dias.
Escuto os medos,
conto as libélulas,
mastigo o pão do ano
passado.
E será sempre assim
daqui por diante.
Não consigo evacuar
o ano passado.
O terceiro do
maranhense Ferreira Gullar, pseudônimo de José Ribamar Ferreira, nasceu
em 10 de setembro de 1930, em São Luís, Maranhão e faleceu em 04 de dezembro de
2016. O poema chama-se Ano Novo.
Meia-noite. Fim
de um ano, início
de outro. Olho o
céu:
nenhum indício.
Olho o céu:
o abismo vence o
olhar. O mesmo
espantoso silêncio
da Via-Láctea feito
um ectoplasma
sobre a minha cabeça
nada ali indica
que um ano novo
começa.
E não começa
nem no céu nem no
chão
do planeta:
começa no coração.
Começa como a
esperança
de vida melhor
que entre os astros
não se escuta
nem se vê
nem pode haver:
que isso é coisa de
homem
esse bicho
estelar
que sonha
(e luta).
O quarto poema de um
pernambucano de Caruaru e radicado no Recife. Faz poemas, histórias infantis,
minicontos, textos de humor e teatro até hoje. Considera-se “um artesão-aprendiz
de literatura e escreve dentro do espírito de que o homem é um animal político
e o político é um animal humano”, refiro-me ao nosso poetamigo Marcelo Mário
de Melo. O seu poema chama-se Roteiro de Ano Novo.
No arco-iris-e-vires
decantando nas
jornadas
o mel o sal e o
saldo
as maldades
descartadas
alegrias e tristezas
belezas incorporadas
no alto a estrela
vermelha
dando rumo às
coordenadas
para transitar
melhor
por atalhos e
estradas.
Nessa sã filosovida
o arco-íris no olhar
novas estrelas
nascentes
sementes a vicejar
as pulsações os
apelos
do verbo recomeçar
na fiação solidária
sempre a malha
alargar
pois a esperança
cresce
conjugando o verbo
andar.
De mãos dadas na
ciranda
cada um entre e
aceite
para tudo haverá
tempo
as batalhas o
deleite
quebrando a pedra
dura
as flores para o
enfeite
a luta contra o
fascismo
com muito fogo e
azeite
o brinde a farra e a
festa
cocada e doce de
leite.
Vamos seguindo assim
no ano que se
anuncia
de janeiro a
dezembro
o mês a semana o dia
sem deixar que a
amargura
acinzente a alegria
afastando do caminho
pedras de desarmonia
brindando por
liberdade
fartura amor e
poesia.
Maravilha, poeta! Abs, Neilton
ResponderExcluirBela seleção. Obrigada, DCP. Maria de Lourdes Hortas
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