“LIBERTINAGEM”: RESUMO DA OBRA DE MANUEL BANDEIRA
Postado por DCP em 28 DEZ 2022
Por https://guiadoestudante.abril.com.br/autor/da-redacao/ Atualizado e Publicado em 23 DEZ 2022
Em versos livres de aparente simplicidade e
intensa voltagem poética, o pernambucano trouxe de volta o lirismo para
literatura do país
Lírico, na acepção original da palavra, é o
texto feito em versos para serem recitados com acompanhamento da lira,
instrumento musical de cordas, muito difundido na Antiguidade. Por extensão, no
sentido atual, um texto lírico é aquele feito para ser musicado, que tem na
musicalidade sua característica marcante.
O que Manuel Bandeira fez para a literatura
brasileira com Libertinagem, seu primeiro livro realmente modernista,
publicado em 1930, foi reinventar o lirismo. De fato, Bandeira tinha o dom da
musicalidade, sempre presente em seus escritos, repletos de rimas, assonâncias,
aliterações, refrões; um ritmo, enfim, único e envolvente.
Certa feita, Bandeira classificou a si mesmo
de “poeta menor” – o que é uma injustiça, uma vez que é considerado um dos
melhores criadores de verso livre de nossa literatura, apresentando um domínio
impressionante de todas as formas poéticas. Tudo isso lhe possibilitou escrever
poemas aparentemente simples, mas de grande densidade, beleza e alcance.
Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho
nasceu no Recife, em 19 de abril de 1886. Adolescente, mudou-se para o Rio de
Janeiro e estudou no Colégio Pedro 2º. Iniciou em São Paulo o curso de
engenharia, mas a tuberculose o impediu de concluí-lo. A fim de curar-se da
doença, recebeu tratamento no sanatório de Clavadel, na Suíça, onde teve
contato com o melhor da poesia simbolista e pós-simbolista em língua francesa,
estilo que influenciou de forma marcante seus primeiros escritos, como Cinza
das Horas e Carnaval, lançados em 1917 e 1919, respectivamente.
De volta ao Rio, sua linguagem poética sofreu
a transformação que o encaminhou para o modernismo, juntamente com outros
escritores da época. Entretanto, Bandeira não participou da Semana de Arte
Moderna, por discordar dos veementes ataques ao estilo que o influenciara no
início da carreira. Escreveu, na chamada “fase heroica” do modernismo, Ritmo
Dissoluto (1924) e Libertinagem, este último composto de 38 poemas,
dois deles em francês.
Em Libertinagem, o poeta atinge
plenitude de tema e linguagem, tocando a essência do coloquial com uma simplicidade
propositada. A técnica de versos livres está profundamente presente, e a
temática esbarra ora na melancolia (Não Sei Dançar), ora na ironia (Pneumotórax),
na interiorização de vultos familiares (O Anjo da Guarda), no contexto
do dia-a-dia (Poema Tirado de uma Notícia de Jornal), nas paisagens
brasileiras (Mangue) e até em suas preocupações estéticas na poesia (Poética).
Um pouco de tudo isso está presente no excelente Vou-me Embora pra Pasárgada.
“A poética de Libertinagem mantém-se viva nas
obras maduras de Bandeira, onde não raro um ardente sopro amoroso envolve as
imagens femininas, deixando-as porém intactas e nimbadas de uma alta e
religiosa solitude”, observa o crítico literário Alfredo Bosi, em História
Concisa da Literatura Brasileira.
Manuel Bandeira entrou para a Academia
Brasileira de Letras em 1940 e morreu em 13 de outubro de 1968, no Rio de
Janeiro. Foi sepultado no Mausoléu da Academia, no Cemitério São João Batista.
Título: Libertinagem
Autor: Manuel Bandeira
Vou-me Embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d”água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
– Lá sou amigo do rei –
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
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*Esse
texto faz parte do especial “100 Livros Essenciais da Literatura Brasileira”,
publicado em 2009 pela revista Bravo!
![“LIBERTINAGEM”: RESUMO DA OBRA DE MANUEL BANDEIRA](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEje7Q126mVQ7sabPdQ2VJCa7Ssk4ZaSumvO2zY7yfBY01LiEd-fzleF_ixBlESrw8lh0hpBrBG89Y0ORezUYT4ucRC15D0VwNr-idM6Dto7cQ3_0c4LI5zLcYQMDm6McT8212QB1X3rV7Mk93tGbIiDItTJJ8-LhctrGdlb5LtSVUlqsqfI5hBOGnbP/s72-c/Manuel%20Bandeira%202.webp)
Sou leitora constante de Bandeira. Para mim, um dos maiores e mais cultos poetas brasileiros do século XX. Parabéns DCP pela ótima postagem.
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