BARTYRA SOARES: LOUVAÇÃO EM “OS DOIS MUNDOS DE MADALENA”
Postado por DCP
em 21/11/2021
LOUVAÇÃO
Bartyra
Soares*
Deus seja louvado!
Este foi o grito dos personagens no livro de
Lourdes Nicácio e Silva, Os Dois Mundos
de Madalena, porque a sabedoria e premonição de Madá adivinharam que
choveria no Sertão e seus passos arrancaram-na do Recife e levaram-na de volta
para o seu chão, seu marido José, seus filhos, sua vida de mulher forte e
audaz. Uma sertaneja acostumada a varar tempos de sóis e luas abrasados –
fogaréu que “cozinhava e fazia ferver” a terra, a sua terra natal.
Deus
seja louvado, porque
esse romance deu-me a oportunidade de ler uma das mais belas cenas do livro
passadas no Sertão: “Gosto de ver você dançando, dando aqueles passos... Dança
tão bonito, mulher!’ – Disse olhando-a intensamente. Madalena firmou o corpo
esguio. Ajeitou a saia rodada. E, como se ouvisse violas e pandeiros, dançou
cantando: ‘Ora vi, orai e viva,/ora vi, orai e viva, /Viva São Gonçalo, viva’...
José aproximou-se. Também dançou para ela...”
Deus
seja louvado, porque li
uma das mais belas cenas ocorridas no Recife, mas que se reporta ao Sertão,
quando Dra. Wilma, – personagem da capital – pergunta a Madalena quando
chegaram à Capela Dourada: “Você acha que aqui tem mais ouro que o pôr do sol
do São Francisco, Madá?” E ela: “Tem nada! Aquilo lá parece coisa encantada. É
ouro do mesmo quilate surgindo todo santo dia. Ouro tão verdadeiro! Quero ver
se tem algum ladrão no mundo capaz de roubar o ouro daquele crepúsculo!”
Deus seja louvado pela solidariedade sertaneja do menino
na doação, aos retirantes, da cabritinha: “Mas se eu não tivesse dado a minha
Berrinha pra eles comerem, ninguém teria chegado a lugar nenhum. E eram tantos
os idosos e crianças!”
Enfim,
Deus seja louvado, porque ao
terminar a leitura de Os Dois Mundos de Madalena ressoavam nos meus ouvidos os
ecos de um livro didático, belo, poético, sofrido, humano. Um romance pejado de
magníficas lições de grandeza e dignidade. Um livro escrito com as mãos do
coração de uma sertaneja de Belém do São Francisco que, no asfalto recifense,
agora imprime a marca dos seus passos de excelente escritora que entregou aos
leitores este presente que veio das terras longínquas do Sertão pernambucano
para alojar-se na sensibilidade de nosso coração.
Lourdes
Nicácio e Silva jamais arrancou de dentro de si as raízes do seu tão amado
Sertão. Por isso mesmo, sabe que lá, nas ocasiões das despedidas não é praxe
dizer: “Até logo!” “Adeus!” “Até a volta!” Basta tão somente: “Até chover!” E
quando a chuva acontece, a vida renasce. E é tão bonito ver o verde surgir por
toda parte, a terra dando de beber à sua gente e aos animais, a alegria
explodindo em todo lugar, até mesmo nas águas do Velho Chico, majestosamente
viajando, viajando...
Daí
ser comovente saber da festa dos personagens num só grito cantar e rezar: Deus seja louvado - Chuuvaaaaaa!!!
*Bartyra Soares nasceu em Catende-PE. É
poeta, contista, ensaísta e articulista. Publicou 20 livros. Detém 16 prêmios
literários: 3 em Coimbra (Portugal), 1 em Lima (Peru), os demais dividem-se entre
as cidades do Rio de Janeiro e do Recife. Participou de dezenas de antologias.
Destaques para “Poésie du Brésil” (Paris – França) e “Um Livro é um Amigo”
(Coimbra – Portugal). Em 1984, tomou posse na Academia de Letras e Artes do
Nordeste – ALANE. Em 10 de agosto de 2015, elegeu-se para a Academia
Pernambucana de Letras – APL, tomando posse em 27 de outubro do mesmo ano.
Ocupa a Cadeira 37.
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