ADRIANA PERRUCI & CECÍLIA VILANOVA – FRENTE A FRENTE
Postado por DCP em
21/11/2021
Apresentação e seleção dos poemas por
Valmir Jordão*
Mulheres
em movimento
Adriana Perruci e Cecília Vilanova. Duas mulheres, duas feministas militantes, duas cidadãs imunes ao canto da sereia demagoga, duas leoas em luta por suas crias, duas místicas e duas poetisas queridas amigas e partícipes da cena poética no Recife desde os anos 90. Elas ainda hoje resistem e saem às ruas, bares, teatros, sindicatos, escolas e universidades para apresentarem os seus trabalhos autorais e vende-los em formatos de livretos e fanzines, também nas noites recifenses. Adriana Perruci vem de Woodstock ao Hare Krishna à alimentação natural em sua filosofia de vida alternativa. Cecília Vilanova é oriunda do movimento trotskysta e do movimento por moradia e habitação populares ao Vale do Amanhecer. Frente a frente, duas poetisas representantes da garra feminina dessa geração poética na cidade do Recife.
Adriana Perruci traz
consigo a harmonia do verso desde tenra idade. Tudo começou na sua
pré-adolescência, no Poço da Panela, no bairro de Casa Forte, no Recife. Sempre
participava recitando seus versos em encontros artísticos na escola e nas
festinhas da comunidade. Na juventude, já mais madura, passou a ser cobrada a
escrever os seus ditos em saraus. Foi aí que escreveu seu primeiro poema, "A
Cor do Sentir". Suas poesias foram publicadas na Coletânea Marginal Recife 4 (FCCR,
2005). Tem poesias publicadas nos jornais de grande circulação e em fanzines da
cidade. É assídua nos saraus de Olinda e Recife. Participou das edições da Recitata no Festival de Literatura do
Recife “A Letra E A Voz”, com grande sucesso de público e crítica. Atualmente,
desenvolve atividade poética ininterrupta, mesclando ao ofício de
artesã-culinária e de pintora, com suas pinturas sem esboços (o pincel direto
na superfície). É autora de dois livros poéticos inéditos, aguardando a
oportunidade de publicação, intitulados: "O
Ser Que Incomodou A Todos" e o "Cabeça
em Versos", com ilustração de suas pinturas.
Cecília Villanova
nasceu em Caruaru, aos 2 anos veio morar no Recife. Aos 16 anos começou a escrever versos e
frequentar os recitais de poesia na saudosa Livro 7. Fez parte da segunda
geração do Movimento de Escritores
Independentes de Pernambuco (MEI-PE). Foi publicada em vários jornais de
poesia, tais como: Lítero-Pessimista (do qual foi coeditora em sua 7ª edição),
Balaio de Gato, Caos, entre outros. Coautora dos folhetos Curtíssimo, Curta
Poema, 2 em 1 Poemas. Autora dos folhetos Poetimargem, Poemas e Versudiversus.
Mantendo a tradição de vender folhetos desde poesia desde 1998, além do Recife,
esteve no Rio de Janeiro, Brasília e Porto Alegre. Teve poesias publicadas no
Jornal Folha de Pernambuco. Participou do CD Independente "Vários Poemas Vários- 25 Poetas Contemporâneos 1965-1999".
Em 2003, publicou seu 1º livro de poesias, o Armazém Poético. Está inserida na Coletânea Poética Marginal Recife III, editada pela Fundação de
Cultura da cidade do Recife. Em 20015 participou da equipe editorial do projeto
"Ruas Literárias do Recife".
Mantém o blog Versudiversus.
ADRIANA PERRUCI &
CECÍLIA VILANOVA – FRENTE A FRENTE
Bêbada
Adriana Perruci
Bêbada no compasso
bêbada no cansaço
bêbada no teu braço
bêbada no abraço
Bêbada no baço
na bílis
no álcool
haxixe
Bêbada no amor!
Bêbada dervixe!
FOTOgrafia
Cecília Vilanova
Quando enfim findar-me o dia,
não me transformarei em pó;
decompor-me-ei em palavras, sons,
nas mais variadas fontes
manuscritas, digitadas.
Estarei viva
nos olhos de quem lê,
na língua dos que soletram-me
e nos sinais gráficos que agora decifras.
Eu sou o poema que agora lês,
a curvatura das letras,
as reticências...
O ponto final.
A
Cor do Sentir
Adriana Perruci
Translúcida solidão
Condição concebida
na ida e na vinda
no fincar da minha
vida
a íris opaca colorida
fez-se clara, reluzente
através da
transparência
que é sentida.
AUTOEXÍLIO
Cecília Vilanova
Deu vontade
De ir embora,
Bater a porta,
Fechá-la para sempre.
Sair
E não me deixar entrar.
........
Indolente atravessei o dia
Energia consumida
Sem identificação
Indolente atravessei o dia
Alegria contida
Em expansão
Indolente atravessei o dia
Calmaria refletida
Nem água nem pão
(Adriana Perruci)
.....
Eu entro e saio de mim o dia inteiro.
Respiro: expiro, inspiro.
Piro e giro no mundo inteiro.
Sou eu, meu eterno estrangeiro.
(Cecília Vilanova)
...............
*Valmir Jordão é poeta, compositor, performer e colaborador do site DCP
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