EXTREVISTA COM A ESCRITORA LOURDES SARMENTO

 Postado por DCP em 31/10/2021










Lourdes Sarmento pertence
a Academia Pernambucana de Letras –
APL I Foto: Arquivo da autora








Lourdes Maria Mendonça Sarmento, filha de Neide Mendonça Sarmento e Paulo Medeiros Sarmento nasceu na cidade do Recife, na rua das Crioulas, 78, no bairro das Graças. No casarão dos seus avós do lado materno, Antoinette Deluche Bedel de Mendonça e João Pinheiro de Mendonça Filho e uma doce tia/mãe Odete e a tia/avó Henriette Deluche, casada com o português José da Silva. É poeta, contista, cronista, pesquisadora e jornalista. Publicou 28 livros e participa em mais de 130 antologias nacionais e internacionais, tendo também diversos trabalhos jornalísticos apresentados em diversos países, como: Washington e Miami (USA), Peru, Portugal, Argentina e México. Organizou a antologia Poésia du Brésil, publicada em Paris, 1997. É detentora de diversos prêmios literários nacionais e numerosas homenagens. Pertence a várias Academias de Letras e Associações Nacionais e Internacionais, entre elas: Academia Pernambucana de Letras, Academia de Letras e Artes do Nordeste, Academia de Artes e letras de Pernambuco, Academia Recifense de Letras, Academia de Letras do Brasil-PE., União Brasileira de Escritores-PE., Academia Carioca de Letras, Academia de Estudos Literários e Linguísticos de Anápolis-GO., Associação Internacional de Escritores e Jornalistas (México), Academia de Poesia de Petrópolis e da União Brasileira de Escritores-RJ. 





Domingo com Poesia - Como aconteceu a presença da poesia na sua vida?

 

Lourdes Sarmento - Sem dúvidas na infância. A minha mãe Neide me ensinava versinhos. Preferia dizer versos nos aniversários dos meus amiguinhos e amiguinhas do que saborear docinhos. O sonho do meu avô era que eu me tornasse uma pianista. Na sala principal um piano alemão me aguardava. Estudei piano, todavia errava muito para admirar os pássaros e as borboletas que trafegavam nos jardins do cassarão. A festa da natureza falava mais alto. As nossas calçadas tinham tapetes vermelhos dos altivos jambeiros da rua das Creoulas.

 

 

DCP - Você gosta de música?

 

LS - Gosto imensamente de música, especialmente a música clássica é a minha terapia. Acredito que a minha vida estava determinada: Na Palavra. Certo dia tinha entre 7 e 8 anos, ouvi minha mãe conversando com meu avô que eu não estudava piano corretamente. Parei e disse: “Sou poetisa e escrevo um jornal do que acontece aqui em casa, além das cartas que faço para as empregadas enviar noticias para suas famílias”. Minha mãe pediu-me para ver um poema. Entreguei o poema que comparava o rio Capibaribe a um corpo de mulher. Mamãe disse que desejava ler o poema com calma. Ela não me devolveu o poema sobre o Recife. Nascia o traço sensual que existe na minha poesia até o presente.

 

DCP - O jornal infantil tornou-se, também, uma realidade?

 

LS - Sim corria no meu sangue, também, a paixão pela noticia. A informação precisa. A jornalista também nasceu na infância. A Comunicadora, assim como a presença constante do aparelho telefônico de brinquedo.

 

DCP - Você trabalhou em quais jornais?

 

LS - A minha primeira casa foi o Jornal do Commercio. De estagiaria passei para uma coluna assinada de entrevistas. Havia uma escolha: seria uma coluna com empresários e personalidades, ou com escritores, médicos, advogados que se destacavam nas suas profissões.

 

DCP - Como jornalista você ficou apenas no Jornal do Commercio?

 

LS - Eu e um grupo de amigos tínhamos um Movimento de Arte Educacional do Recife. Fui a idealizadora e a presidente do grupo, durante o tempo que permaneceu o Movimento. Trabalhávamos com artistas plásticos, escultores, pintores, desenhistas. Meu foco era levar educação artística aos colégios. Criamos três galerias de artes; nos Colégios Damas, Nobrega e Marista. No Jornal do Commercio a dona do espaço era Ladjane Bandeira. Assim o jornalista Antônio Camelo convidou-me para ter uma coluna “Roteiro Artístico”, no Diario de Pernambuco: Problema resolvido.

 

DCP - Qual foi o evento mais marcante para esse Movimento de Arte Educacional?

 

LS - A exposição de 50 desenhos e guaches de DI Calvalcanti em Intercâmbio Artístico – Cultural com o MUSEU de ARTES Contemporânea da Universidade de São Paulo, sob a direção do Prof. Walter Zanini. Tivemos o apoio da Universidade Federal de Pernambuco. A exposição foi realizada no Teatro de Santa Izabel, no final de 1966. Mesmo trabalhando no JC fui Assessora de Comunicação Social nas livrarias Morderna, do Grupo Cassimiro Fernandes. Realizei muitos lançamentos de livros de escritores e poetas na livraria Moderna, localizada à Rua Ubaldo Gomes de Mattos, fazendo intercâmbio com o Rio de Janeiro e São Paulo. Logo depois fui ser Assessora de Imprensa na TELPE – Telecomunicações de Pernambuco S/A. Ali realizei meus sonhos como jornalista; Editei Revistas, Jornal Telpe Noticias e um Informativo semanal. Tive que deixar o Jornal do Commercio. Representando a Telpe tinha um relacionamento com todos os órgãos da Imprensa.

 

DCP - Como ocorreram suas palestras e livros fora do Brasil?

 

LS - Como jornalista e escritora representei o Brasil, através de conferências palestras nos Estados Unidos, em Washington, Miami; Lima (Peru); Cidade do México, Lisboa (Portugal) e Buenos Aires (Argentina). Em Paris (França) além de lançar o meu livro “Vingt-cinq poemas de Passion”, pela Unesco, fui convidada para organizar a Antologia “Poesie du Brésil”, edição bilíngue, com 83 poetas brasileiros – Editora Vericuetos – Chemins Scabreux, Paris, 1997. Como escritora tenho livros de contos, crônicas, pesquisas históricas, ensaios, biografias. Num total de 28 livros em português, inglês, francês e espanhol.

 

DCP – O que representou para você a organização da antologia bilíngue, em Paris?

 

LS - Organizar uma antologia bilíngue, em Paris, a fim de apresentar um Panorama da Poesia Brasileira, não foi tarefa fácil, sobretudo num país continental como é o Brasil, as dificuldades aumentam. Obedecendo a um critério de convidar os mais conhecidos poetas que se distinguiram no seu território, foram reconhecidos em outros estados ou se projetaram no exterior, trata-se de uma atitude mais sensata, todavia o organizador não é compreendido, porque a maioria dos poetas acham que têm um nome dentro da literatura e que não podem ser omitidos. O numero de poetas era limitado: 83 participantes. Confraternização e reconhecimento ao meu trabalho literário que venho exercendo ao longo da vida, com paixão e devoção, posso dizer que o momento é de regozijo. Outra parte de mim é Reflexão, é o gesto de mergulhar no meu universo interior e tentar compreender 83 vozes do Brasil, sendo estudada por vários professores franceses, sobretudo na Sorbonne III, inicialmente através da professora Anne Marie Quint, quando declarou no lançamento da nossa Antologia, ser a primeira Antologia sobre poesia brasileira, editada em Paris, após um silêncio de 30 anos. Desejo falar sobre uma viagem proustiana que, sem saber, o meu inconsciente percorria dia após dia. Sendo neta de uma francesa pelo lado materno, Antoniette Deluche casada com um sergipano João Pinheiro de Mendonça Filho, quando pequena prometi que um dia mostraria o Brasil, a menina de oito anos, que logo mais adiante perdeu os seus avós, ambos muito jovens.

 

DCP - Como você define o Poeta, o Artista?

 

LS - O poeta conduz a luz, transforma o absurdo, proclama o belo e possibilita a existência da comunicação, ingressando num reino do qual emana o grito dos homens, a natureza que nos circunda, o exercício espiritual; uma doação que transcende em relação à sua obra. Qualquer expressão de arte instala a beleza, da colheita do Tempo; toma forma de carne e de espírito que pode ser a senha da paz, nestes anos de violência que vem se instalando na paisagem do cotidiano. Quase todo artista tem consciência de que a sua profissão sacia a fome existencial, porque sem ela seriam fantoches, percorrendo o tempo. Estes são os que vivem da arte e para arte. Cumprimos os nossos estágios, corrigimos as nossas falhas, aprimoramos o nosso fazer poético, atravessamos as dificuldades que as próprias circunstâncias vão impondo ao homem, sabedores de que participar da intelectualidade é viver numa segura avaliação reflexiva, entre situação conhecidas ou estranhas. Como um domador das palavras, seu habitat pode ser a janela de sua casa aberta ao mundo, o mundo que ele aprisiona dentro de si, para depois proclamar a beleza, o absurdo, o contraditório, gerados repetidas vezes no útero do mundo. Na paixão, no amor ele é o momento. É o operário da comunicação entre os homens e Deus. Salienta-se, no entanto, que a matéria prima do seu trabalho requer pleno conhecimento do seu fazer poético. Na poesia não pode apenas existir inspiração, é trabalho árduo, é exercício diário, é o pleno conhecimento da sua missão de chegar ao cerne das coisas dos fatos, do sentimento. É ter a humildade de saber que a poesia merece cuidados especiais e esperar o seu momento, sem querer impor a sua presença num panorama poético, no seu árduo caminho.



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3 comentários

  1. Aplausos querida Lourdes Sarmento! Sua entrevista é rica em informações sobre a sua e nossa literatura... É densa e leva o Recife/Brasil para outros Mundos mais distantes! Parabéns maia uma vez querida Poeta! Sucesso sempre!

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  2. Parabéns Lurdinha !
    Sua poesia honra a literatura de nosso Estado !
    Amei sua definição sobre o Poeta !
    Sucesso e felicidades!

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