SEIS POEMAS DE RICARDO REIS
Postado por DCP em 17/10/2021
“Ricardo Reis é um dos mais importantes heterônimos
de Fernando Pessoa. Foi imaginado pelo poeta em 1913 para dar voz aos poemas de
índole pagã. Ricardo Reis nasceu em 19 de setembro de 1887, no Porto. Recebeu
uma educação rígida em colégio de jesuítas, tornando-se um latinista por
educação e ‘um semi-helenista por educação própria’. Formou-se em medicina e,
em 1919, expatriou-se no Brasil para fugir do regime republicano português.
As primeiras obras de Ricardo Reis foram publicadas
na revista Athena, fundada por
Fernando Pessoa em 1924. Entre 1927 e 1930, o poeta publicou várias odes na
revista Presença, de Coimbra. A ideia
desenvolvida em sua obra faz parte do pensamento greco-romano: a clareza, o
equilíbrio, as boas formas de viver, o prazer, a serenidade. Além do
epicurismo, Ricardo Reis possuía também como influência o estoicismo, que
propõe a aceitação do acontecimento das coisas e a rejeição às emoções e
sentimentos exacerbados.”
SEIS
POEMAS DE RICARDO REIS
A CADA
QUAL
A cada qual, como a ‘statura, é dada
A justiça: uns faz altos
O fado, outros felizes.
Nada é prêmio: sucede o que acontece.
Nada, Lídia, devemos
Ao fado, senão tê-lo.
AGUARDO,
EQUÂNIME
Aguardo, equânime, o que não conheço –
Meu futuro e o tudo.
No fim tudo será silêncio, salvo
Onde o mar banhar nada.
AQUI,
NESTE MISÉRRIMO DESTERRO
Aqui, neste misérrimo desterro
Onde nem desterrado estou, habito,
Fiel, sem que queira, àquele antigo erro
Pelo qual sou proscrito.
O erro de querer ser igual a alguém
Feliz, em suma – quanto a sorte deu
A cada coração o único bem
De ele poder ser seu.
AOS
DEUSES
Aos deuses peço só que me concedam
O nada lhes pedir. A dita é um jugo
E o ser feliz oprime
Porque é um certo estado.
Não quieto nem inquieto meu ser calmo
Quero erguer alto acima de onde os homens
Têm o prazer ou dores.
COMO
SE CADA BEIJO
Como se cada beijo
Fora de despedida,
Minha Cloe, beijemo-nos, amando,
Talvez que já nos toque
No ombro a mão, que chama
À barca que não vem senão vazia;
E que no mesmo feixe
Ata o que mútuos fomos
E a alheia soma universal da vida.
ESTÁS
SÓ
Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge.
Mas finge sem fingimento.
Nada ‘speres que em ti já não exista,
Cada um consigo é triste.
Tens sol se há sol, ramos se ramos buscas,
Sorte se a sorte é dada.
Que pena ninguem comentar com ou sem originalidade tão belas poesias. Sei que são já muito conhecidas,e que "no fim tudo será silêncio". Mas que se diga que a frase "talvez nos toque no ombro a mão que chama à barca que não vem senão vazia" é das mais notáveis da língua portuguesa
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