FRED CAMINHA E SAMUCA SANTOS – FRENTE A FRENTE
Postado por DCP em 31/10/2021
Apresentação e seleção dos poemas por
Valmir Jordão¹
Fred Caminha
faz parte da Geração 80 da Poesia Recifense, ele fez medicina, mas não chegou a
clinicar, conviveu com Erickson Luna, Francisco Espinhara, Jorge Lopes, Chicão,
Samuca Santos, Hector Pellizzi, Zizo e com a maioria dos poetas do Balaio de
Gato, fanzine que teve mais de uma dezena de edições entre meados de 80 e anos
2000. Participou do Movimento dos Escritores Independentes - MEI-PE e da
efervescência cultural dos saraus nas ruas, bares, praças, sindicatos e
periferias da Veneza pernambacana. E foi um grande divulgador do seu trabalho
nas diversas localidades da cidade. A sua poética é uma denúncia em defesa dos
menores abandonados nas ruas e outras nuances da urbanidade.
Samuca Santos
é poeta, radialista e performer, participou e fundou o Bandavuô, Movimento dos Escritores
Independentes, Balaio de Gato (fanzine),
fez apresentações com vários músicos da sua geração, entre eles; Nado Nego
Preto e Evandro Negro Bento. Publicou vários livros de pequeno porte e
graficamente de bom gosto. A sua poesia é elegante, mas, a lírica é
radicalmente social e existencial. E fala sobre a dificuldade de ser negro,
desempregado e viver de aluguel em Peixinhos, um bairro do subúrbio entre
o Recife e Olinda. Um Blackbird
recifense e periférico.
FRED CAMINHA & SAMUCA SANTOS – FRENTE A FRENTE
Boa Vista
Fred
Caminha
O que mais dizer
sobre as casas da Boa
Vista,
se a boa vista
não sensibiliza as
más vistas?
Quantos insensíveis!!!
ao ar e arte das
fachadas,
tornando-as
invisíveis,
malfadadas
ao lodo, toldos,
placas...
que cortam feito faca
cega que nega
a Boa Vista dos que
vêem,
lêem e avistam
suas paredes
bordadas,
frutos de mãos fadas
de
escravos-operários-artistas.
Re.
visão
Samuca Santos
Nada de pena
De sísifo
E sua pedra
Ladeira acima
Do alto
.Vê-la rolando
Ladeira abaixo
É seu aprendizado
: todo dia nasce
Um novo dia
E a vida
Não é só mitologia
Crônica
de uma cidade louca
Fred Caminha
Hoje, qualquer dia, na
Conde da Boa Vista
o sinal se abre aos
choros e risos:
a prazo e à vista
no asfalto tomado de
assalto.
Há coca, há cola e
Coca-Cola,
no adulto, na
criança, na sacola...
O suicida dá o salto
para o alto
e para baixo, na
noite cheia
de luzes, alegrias e
cruzes...
Rola fumo nos ares.
Rola álcool nos
bares.
Hoje é qualquer dia,
na Conde da Boa
Vista!
Nessa imensa larga
pista
sou, a mais, um
artista!
Insone,
pra alberto
Samuca Santos
A amiga mostrou o
sofá
E sobre ele
Travesseiro lençóis
Perfumados de carinho
E prontos
Pra noite de sono
Quiçá de sonhos
Bons
Mas da estante
O poeta
(e sua oração pelo
poema)
Me fez sorrir
Aos pássaros da
alvorada
Entoando carpe diem
Rap
do menor
Fred Caminha
Sem cama nem mama
escola ou Coca-Cola
bota mola
cheira cola...
o menor de pouca
idade
no centro da cidade.
O humano foi à lua
mas ainda hoje vejo
crianças comendo lixo
na rua.
O humano foi à lua
mas ainda hoje vejo
polícia matar meninos
de rua.
Ars
poética
Samuca Santos
A ideia está no ar
Pegue-a
Usando a suave firmeza
Com que se aperta
A mão do amigo
:quente
Nem morno nem brasa
A mão que acalma o
filho
Molda-se na argila
E faz versos pra
amada
Pegue
Areia pra fazer
cristal
Farinha pra bolo de
feijão
Matéria espiritual
Carinho zelo tesão
Agora solte o poema
...................
¹Valmir Jordão é poeta, compositor e performer
Aplausos e reverência aos dois Grandes Poetas: Samuca Santos e FRed Caminha! Grata ao amigo e Poeta Vamir Jordão pela seleção dos poemas e ao nosso DCP - sob a batuta do Amigo e Poeta Natanael Lima! Uma ótima tarde!
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