WALT WHITMAN, PLENO DE VIDA AGORA
Postado por DCP em 30/05/2021
[Curadoria de Natanael Lima Jr*]
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Whitman (1819-1892), considerado “o bardo do eu”
Foto: Reprodução
Walt Whitman nasceu em West Hills Huntington, EUA, em 31 de maio de 1819. Foi poeta e ensaísta, considerado o fundador do “verso livre”. Paulo Leminski o considerava o grande poeta da Revolução americana, como o poeta Maiakovsky seria da Revolução russa. Sua obra Folhas de Relva (1855) é considerada um marco na literatura universal, principalmente dentro do gênero poético. Whitman faleceu na cidade de Camden, EUA, em 26 de março de 1892, aos 73 anos.
A ti, leitor
Tu, leitor, que
palpitas de vida e orgulho e amor
assim como eu, a ti,
por isso os cantos que se seguem!
– Walt Whitman, em “Folhas de Relva”. [seleção e tradução Geir Campos; ilustrações Darcy Penteado]. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1964; 2002.
Pleno de vida agora*
Pleno de vida agora, consistente, visível,
Eu, quarenta anos vividos, no ano oitenta e três
anos dos Estados,
Ao homem que viva daqui a um século, ou dentro de
quantos séculos for,
A ti, que ainda não nasceste, dirijo este canto.
Quando leias isto, eu, que agora sou visível, terei
me tornado invisível,
Enquanto tu serás consistente e visível, e darás
realidade a meus poemas, voltando-te para mim,
Imaginando como seria bom se eu pudesse estar
contigo e ser teu camarada:
Faz de conta que eu estou contigo. (E não o duvides
muito, porque eu estou aí nesse momento.)
* –
Walt Whitman, “Pleno de vida agora”. Em “O prazer do poema. Uma antologia
pessoal”. [tradução e organização Ferreira Gullar]. Rio de Janeiro: Edições de
Janeiro, 2014.
A ti, Ó Democracia*
Venha, farei o continente indissolúvel,
Farei a mais esplêndida raça sobre a qual o sol
jamais brilhou,
Farei divinas terras magnéticas,
Com o amor dos camaradas,
Com o amor de toda vida dos camaradas.
Plantarei o companheirismo copioso como árvores ao
longo de todos os rios da América e ao longo das margens dos grandes lagos e
por todas as pradarias,
Farei cidades inseparáveis, cada uma com os braços
em volta do pescoço da outra,
Pelo amor de camaradas,
Pelo másculo amor de camaradas.
A ti, isto de mim, Ó Democracia, a fim de servi-la
ma femme!
A ti, a ti estou trinando estas canções.
* –
Walt Whitman, em “Grandes Poetas da Língua Inglesa do século XIX” [organização
e tradução de José Lino Grünewald] Edição bilíngue – Rio de Janeiro: Editora
Nova Fronteira, 1988.
A base de toda metafísica*
E agora cavalheiros,
Uma palavra digo para permanecer em vossas mentes e
memórias,
Como base e também finale para toda metafísica.
(Assim para os estudantes o velho professor
Ao término de seu curso repleto.)
Tendo estudado o novo e o antigo, os sistemas Grego
e Germânico,
Tendo estudado e exposto Kant, Fichte e Schelling e
Hegel,
Exposto o saber de Platão, e Sócrates maior do que
Platão,
E, maior que Sócrates pesquisado e exposto, Cristo
divino havendo
longamente estudado,
Vejo hoje em reminiscência aqueles sistemas Grego e
Germânico,
Vejo os filósofos todos, igrejas cristãs e cédulas
de dez dólares vejo,
No entanto sob Sócrates claramente vejo, e sob
Cristo o divino vejo,
O caro amor do homem pelo seu camarada, a atração
de amigo por amigo,
Dos bem casados marido e mulher, de crianças e
pais,
De cidade por cidade e de terra por terra.
* –
Walt Whitman em “Grandes Poetas da Língua Inglesa do século XIX” [organização e
tradução de José Lino Grünewald] Edição bilíngue – Rio de Janeiro: Editora Nova
Fronteira, 1988.
Murmúrios da morte celestial*
Murmúrios
da morte celestial sussurrados ouvi,
Conversa
labial da noite, coros sibilantes,
Passos
ascendendo suavemente, aragens místicas vogavam amenas e baixo,
Ondulações
de rios invisíveis, marés de uma corrente a fluir, sempre a fluir,
(Ou será o
salpicar de lágrimas? as ilimitadas águas das lágrimas humanas?)
Vejo, vejo exatamente em direção ao céu, imensas
massas de nuvens,
Lugubremente devagar elas flutuam, silenciosamente
dilatando-se e mesclando-se,
Com às vezes uma entristecida estrela, remota e
semi-eclipsada,
Aparecendo e desaparecendo.
(Provavelmente algum parto, algum nascimento solene
e imortal;
Impenetrável sobre as fronteiras para os olhos,
Alguma alma está passando por cima.)
* –
Walt Whitman, em “Grandes Poetas da Língua Inglesa do século XIX” [organização
e tradução de José Lino Grünewald] Edição bilíngue – Rio de Janeiro: Editora
Nova Fronteira, 1988.
Broadway
Que
apressadas correntes humanas, ou de dia ou de noite!
Que
paixões, ganhos, perdas, ardores, nadam em tuas águas!
Que
redemoinhos de maldade, alegria e tristeza, te contêm!
Que
curiosos olhares interrogativos — cintilações de amor!
Olhar
irônico, inveja, desdém, menosprezo, esperança, aspiração!
Tu és
portal — tu és arena — tu, da miríade de extensas linhas e grupos!
(Apenas
tuas lajes, parapeitos, fachadas podem contar suas histórias inimitáveis;
Tuas ricas
janelas e enormes hotéis — tuas amplas calçadas;)
Tu dos
infindos pés de passo curto, deslizando, arrastando!
Tu, como o
próprio mundo multicolorido — como a infinita, fértil e escarnecedora vida!
Tu
disfarçada, grandiosa, indizível exibição e lição!
*– Walt Whitman, em “Grandes Poetas da Língua Inglesa do século XIX”
[organização e tradução de José Lino Grünewald] Edição bilíngue – Rio de
Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1988.
A um ser estranho*
Estranho
ser que passas! não sabes com que ansiedade ponho
meus olhos
em ti,
bem podes
ser aquele que eu andava buscando ou aquela que
eu andava
buscando
(isso me
ocorre como num sonho),
algures
certamente eu já vivi contigo uma vida de alegrias,
tudo é
lembrado ao passarmos um pelo outro, fluidos,
afeiçoados,
castos, amadurecidos,
cresceste
junto comigo, foste menino comigo ou menina comigo,
comi
contigo e dormi contigo, teu corpo não se fez exclusivo
nem meu
corpo ficou meu exclusivo,
tu dás a
mim o prazer de teus olhos, rosto, carne, ao cruzarmos,
tomas-me a
barba, o peito, as mãos, em troca,
eu não
estou para falar contigo, mas para pensar em ti quando
me sento
sozinho ou quando à noite desperto sozinho,
estou à
espera, não duvido de que estou para encontrar-te outra vez,
com isso
estou por ver que não te perco.
* –
Walt Whitman, em “Folhas de Relva”. [seleção e tradução Geir Campos;
ilustrações Darcy Penteado]. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira,
1964; 2002.
Aos que Falharam*
Aos que
falharam, grandes na aspiração,
aos
soldados sem nome caídos na vanguarda do combate,
aos calmos
e esforçados engenheiros, aos pilotos nos barcos,
aos
super-ardorosos viajantes,
a tão
sublimes cantos e pinturas sem reconhecimento
– eu gostaria
de erguer um momento coberto de louros
alto, bem
alto, acima dos demais:
A todos os
truncados antes do tempo,
arrebatados
por algum estranho espírito de fogo,
tocados por
morte prematura.
* –
Walt Whitman, em “Folhas de Relva”. [seleção e tradução Geir Campos;
ilustrações Darcy Penteado]. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira,
1964; 2002.
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