POEMAS ESCOLHIDOS DE OLGA SAVARY
Postado por DCP em 23/05/2021
[Curadoria de Natanael Lima Jr.]
Olga Savary I Foto: Reprodução
Olga Savary foi uma escritora, poeta, contista, romancista, crítica, ensaísta, tradutora e jornalista. Nasceu em 21 de maio de 1933, em Belém do Pará. Faleceu em 15 de maio de 2020, em Teresópolis, Rio de Janeiro, aos 86 anos.
Foi uma das mais brilhantes tradutoras brasileiras, traduziu mais de 40 obras de literatura hispano-americana, incluindo autores como Jorge Luís Borges, Julio Cortázar, Octavio Paz, Pablo Neruda, Laura Esquivel, Federico García Lorca, Carlos Fuentes, Mario Vargas Llosa, entre outros.
A poeta Olga Savary como gostava de ser chamada, tem inúmeros livros publicados, tendo sido laureada com vários dos principais prêmios nacionais de literatura, entre eles o Prêmio Jabuti de Autor Revelação, pelo livro Espelho Provisório, concedido pela Câmara Brasileira do Livro (1971), o Prêmio de Poesia, pelo livro Sumidouro, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte (1977), e o Prêmio Artur de Sales de Poesia, concedido pela Academia de Letras da Bahia pelo livro Berço Esplêndido (1987).
SEIS POEMAS ESCOLHIDOS
DE OLGA SAVARY
Nua e crua*
Não tendo pra onde voltar é que me largo pra rua,
Eu que seria leito de rio, leito de mar, maré,
Sem porto ou barco, peixe fora d´água, pássaro no
voo
Mas quede a asa?
*Hai Kays. São Paulo: Roswitha Kempf, 1986.
Pássaro*
A noite não é tua
mas nos dias
— curtos demais para o voo —
amadureces como um fruto.
Tuas asas seguem as estações.
É tua a curvatura da terra.
Pássaro, metáfora de poeta.
*Sumidouro.
São Paulo: Massao Ohno / João Farkas Editores, 1977.
Pedido*
[A Manuel Bandeira]
Quando eu estiver mais triste
mas triste de não ter jeito,
quando atormentados morcegos
– um no cérebro outro no peito –
me apunhalarem de asas
e me cobrirem de cinza,
vem ensaiando de leve
leve linguagem de flores.
Traze-me a cor arroxeada
daquela montanha – lembra?
que cantaste num poema.
Traze-me um pouco de mar
ensaiando-se em acalanto
na líquida ternura
que tanto já me embalou.
Meu velho poeta canta
um canto que me adormeça
nem que seja de mentira.
*Espelho provisório. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1970.
Água Água
[A Walmir Ayala]
Menina sublunar, afogada,
que voz de prata te embala
toda desfolhada?
Tendo como um só adorno
o anel de seus vestidos
ela própria é quem se encanta
numa canção de acalanto
presa ainda na garganta.
*Espelho provisório, 1970.
Além de mim*
Quero apenas
Além de mim, quero apenas
essa tranquilidade de campos de flores
e este gesto impreciso
recompondo a infância.
Além de mim
- e entre mim e meu deserto -
quero apenas silêncio,
cúmplice absoluto de meu verso,
tecendo a teia do vestígio
com cuidado de aranha.
*Repertório selvagem: Obra Reunida. Rio
de Janeiro: Biblioteca Nacional; MultiMais Edições; Universidade de Mogi das
Cruzes, 1998.
Mapa de esperança*
Vinha pisando sobre toda a praia,
o sangue quieto — ou quase quieto —,
os pensamentos leves como espumas
e os cabelos soltos como nuvens.
Trágica como princesa de elegia,
meu estandarte é o desespero,
minha bandeira, indecisão.
Ainda assim, alegria, te festejo.
*Altoanda. Massao Ohno, de 1970.
Belíssima seleção de poemas de Olga Savary! PEDIDO e MAPA DE ESPERANÇA são os que mais me tocam.
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