VERNAIDE WANDERLEY, O PROTAGONISMO DA NOITE
Postado por DCP em 28/03/2021
PROTAGONISMO DA NOITE*
(Para Lílian Arradi)
O sono pode ser um
fugitivo impiedoso que destrói nossos olhos.
De sua memória acesa,
saltavam textos diversos. Rascunhos de histórias embaralhavam-se como se fossem
peças de um jogo noturno: desertos, oásis e barcos teciam velas para que fosse
possível navegar nas correntes da linguagem.
A noite reinou
absoluta e acesa com direito à coroa.
Nada de substantivo
fora escrito nos atropelos daquela noite. Versos não se juntavam, rimas e
letras caíam como se zombassem de seu ofício. As palavras saltavam como peças
de um caleidoscópio. Pedaços de vidros coloridos explodiam-se em rosáceas
vermelho sangue e amarelo-laranja.
Já bem avançada, a
noite começou a esquecer suas humanidades. Num impulso, mergulhou no silêncio
inviolável e cortante da própria alma, lembrava um ser mítico decidido a ter
asas cortadas. Perdia a sensatez, a alma era o lugar dos sonhos dos homens,
mulheres e crianças de todo universo.
Lugar de cantos e
excesso de luz, mágico e santificado onde cabia apenas a leveza dos pertences
humanos em desuso. Na entrada não haviam placas impeditivas, talvez como uma
estratégia ardilosa porque nos sonhos também há espaço para a tragédia!
Quase sempre, os notívagos
escorregam, perdem o prumo
jogam ao relento suas humanidades
palavras, encargos, pecados e tralhas.
Afoitos e desarmados
mergulham (sem saber nadar)
nos lugares santos e privados,
lá... onde só deuses do olimpo,
do céu, das serras e montanhas
têm entrada liberada,
fincam morada e velam gerações.
*Extraído do livro “Geometria das Pedras – Poemas
reunidos”, Novoestilo, Recife, 2019.
Gosto muito da literatura forte e bela de Vernaide!
ResponderExcluirParabéns pra ela! Parabéns ao DCP pela postagem!