A VINHA POÉTICA DE TACIANA VALENÇA
Postado
por DCP em 28/03/2021
Taciana Valença I Foto: Reprodução
Taciana Valença é
pernambucana do Recife, administradora por formação (UFPE-1988), assessora
literária, escritora, poeta, compositora, produtora cultural e diretora de intercâmbio
estadual da União Brasileira de Escritores.
São de sua autoria os
livros infantis Malu em apuros e Especialmente criança, o de Poemas, Febre,
e o livro de crônicas Sumiço do ovo. Além disso, tem
participação em diversas antologias.
Idealizadora e
responsável pelo projeto Conversando Perto de Casa, na Livraria Jaqueira,
editora da revista Perto de Casa, idealizadora do Navegando em poesias,
apresentadora do Destaque Literário na Cultura Nordestina Letras e Artes e no
programa Conversando Perto de Casa na Cultura Nordestina.
Links onde são
encontrados textos, poemas, crônicas e haikais da autora:
https://ensaiandopoesias.blogspot.com/
https://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=27346
https://www.facebook.com/taciana.valenca.5/
https://www.facebook.com/tacianalvalenca
CINCO
POEMAS DE TACIANA VALENÇA
Momento
Contudo, restou-me
desabar no sofá.
Cabelos molhados, camiseta,
um filme bobo, meio cabeça.
Um resto de vinho do porto,
uma sombra de tristeza...,
o ensaio de um poema.
Saudade rondando a sala.
Vinha ébria d'algum lugar.
Aproveitando-se da noite insone,
acomodou-se lentamente,
resolvida a me acompanhar....
Um rastro amarelado de luz,
vindo do corredor,
ofuscava meu olhar perdido
entre alegria e dor...
Liga
não
Vou me afogar
nessas trufas,
de licor,
Whisky,
maracujá...
Morrer de rir
desta tua ruga,
só porque saí
para andar na chuva,
só porque deu vontade
de vagar.
Já disse, era um anel,
só um anel de pedra azul,
cor de mar, de céu,
tão dia, tão blue.
Liga não,
o que é um anel
neste carrossel
que me deixa tonta?
Anel blue,
trufas, má companhia,
tuas rugas coloridas.
Tá tudo tão confuso!
Não precisa lembrar,
da mesa mexicana,
da pimenta, mezcal.
Larva intacta, bandana.
Às vezes era verde,
vermelho paixão (o anel),
laranja, talvez.
Seria furta-cor? Tão eu...
Que viagem, hein?
Achou meu anel?
Tua
música
A música chegou.
Levantou meu cabelo,
sentiu gosto,
sentiu cheiro.
Passou as mãos
em meus joelhos.
Até a brisa da praia
jogou em mim.
Descarada assim.
Degustei a letra,
em cada vogal
que me coube.
Assim, como chapéu.
Dizem dessas coisas
de carapuça.
Ahhh, como me coube.
Ahhh, como coube
em mim a tua música.
Vertente
seca
Tempo passa,
logo ali, na janela,
logo ali no terreiro,
logo ali na estradinha,
donde o carro
levantou poeira.
Donde passou a moça,
na motocicleta,
num agarro
na cintura do rapaz.
E enquanto a galinha cisca,
eu penso se ela pensa,
ou mesmo se é bom
o pensar...
o pesar...
Volto a olhar o terreiro,
onde o tempo passa lento,
e o sol demora a deitar.
Não mais tendo o que ver,
ele se deita, então,
até a ordem do galo
ou o apito da chaleira,
num deleite sobre o fogão.
A senhora me olha,
rabo de olho, desconfiada.
Detalhes que emocionam,
ar livre, cerca fechada.
Ela não iria me entender.
Cadeira do lado de fora,
ali, juntinho da porta,
à espera do alguém
que foi ali e já volta.
Bordadeiras num fuxico,
de chinela e saia,
um fogão solto ao relento,
jogado sobre as tralhas.
Uma casa que se foi,
me deu vontade de entrar,
pelas frestas sol se ia,
convidando ao luar.
Senti falta do violão,
dessas cordas de anoitar,
aquecendo a leve friagem,
com canção e poetar.
Só
poema
Poema,
carta astuta,
substituta,
carta coringa,
ecoando sentimentos.
Rio de felicidades,
corredeira de lamentos.
Poema não se explica
nem se acredita.
Coringa, apenas coringa,
cheio de manha
e de mandinga.
Poema é poema
e mais nada.
Coisa privada
aberta ao público
para passeio.
Erra quem pensa
que nele se enquadra.
Não há quadrante certo
para incerta inspiração.
Um quê de delírio
disfarçado de brilho,
feito treva iluminada.
Dilaceramento
sem anestésico,
um ajeitar do que se rejeita.
Um brinde às divindades
e ao silêncio dos covardes.
Um moer sentimentos,
esfregar de nódoas
humanas.
Um amanhã
pegando o trem do ontem
com passagem para hoje.
Um beco sem saída,
labirinto ou infinito.
Não importa se soluço ou riso.
Não importa
se a madeira é lisa
ou talhada.
Poema é só poema
e mais nada.
Amo essa poeta talentosíssima!!!!
ResponderExcluirObrigada.
ExcluirMaravilha!
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