O ANTI(VERSO) DE ROGÉRIO GENEROSO
Postado
por DCP em 28/02/2021
Rogério
Generoso I Foto: Reprodução
Rogério
Generoso
(da Silva), poeta recifense nascido em 20/09/1963, começa suas atividades
literárias em 2003, participando de oficina literária ministrada pelo também
poeta, Marcus Accioly. Em 2004 cria o Movimento Cultural Invenção de Poesia, a
partir de recitais poéticos, oficinas literárias e intervenções nas Bibliotecas
Populares do Recife, em Casa Amarela e Afogados.
Em 2005 cria a SARAL - Semana
Alternativa Recifense de Arte Literária. Ainda em 2005 participa da Coletânea
Marginal 5 da Prefeitura do Recife. Entre 2007 e 2011 íntegra a Diretoria da
UBE.
Entre 2009 e 20013, coordena a Casa da
UBE na FLIPORTO. Em 2010 lança o livro NOUMENON,
seu primeiro trabalho solo. A partir de 2013 à 2019, coordenou a Plataforma de
Lançamentos da Bienal Internacional do Livro em Pernambuco.
Em 2018 lança o livro ATRAVÉS. É produtor executivo da FLIPO.
Editor das Edições Moinho.
CINCO POEMAS DE ROGÉRIO GENEROSO
EXISTENCIAL
Mover montanhas
cravadas no peito.
Gritar silêncios de
ópera bufa aperta.
Arranhar coração com
dedos de carinho.
Caminhar no pátio nu
sem malícia.
Morrer longe sem nome
e sobrenome.
Na aurora começar a
noite do dia.
Andar só acompanhado
de adeuses.
Comer pão na manteiga
com vinho do Porto.
Eis o drama: escolher
entre azul e o laranja.
Passaporte para o
infinito não é eternidade.
É o começo do fim
(timeless).
Ontem não dormir para
hoje acordar.
O automático
prospera; o puro é pueril.
Ninguém é mais feliz
aos doze anos.
CONSIDERAÇÕES
DE UM MORTO
Eu
morri.
Estendi
a mão tarde demais
para
que escapasse da sentença;
morri
identificado sem engano
morri
na lembrança de alguém
como
nêspera fora da estação
com
baba escorrendo pela boca
dores
abdominais e cefaleia;
minha
palavra vadia morreu comigo
mirrada
migrada monstruosa;
eu
morri com denodo de quem ama
as
coisas perdidas antes de conhecê-las.
Morri
sem sepultura e de olhos abertos
na
espera de ver a floração dos ipês;
morri
fazendo sexo sozinho amando
sozinho
com duas alianças penduradas
no
meu peito de homem só; são duas
da
manhã e não há quem creia no que
eu
diga, ou que divirja do outro; ouço já
a
música fúnebre, um réquiem mesmo;
a
tampa do caixão fechando o dia;
eu morri.
POEMA DE
VENCER A NOITE
Ó
esses temores no meio da noite
essa
febre-pavor que evapora
suores
inacabáveis da alma
que
voam lírios-pássaros
delirando
por dentro do pecado
a
circunstância última de onde
retiro-me
da esperança.
Ó
essa monstruosa febre e tudo
que
dissolve a minha fronte:
o
pânico da vida, as coisas feitas
por
medo, próprio das pessoas
vencidas
pelo silêncio.
Ó
insanas e intermináveis lutas
panteras
e dragões químicos
acesos
incendiados no próprio
fogo
de suas narinas roxas.
Ó
essas construções cercadas
por
tapumes navais, de onde operários
erguem
a memória para que existas
debruçada
na janela, que nem poderia
esperar-te
aberta de tão fechada de solidão.
Ó
arquiteturas eternas
(como
um peixe), quando me dormirei
tranquilo
o sono do engenheiro calculista
que
pela manhã vê o monumento alcançar
a
outro pavimento?
Por
agora ofereço o poema
A
roupa amarela do tempo
no
armário do sonho: o poema
que
funde o poema em que um homem
fecunde
palavras, que consumam
a
outro homem que as escravize
no
íntimo, ou a memória limpa
nos
canais do silêncio (a roupa do sonho)
que aterrisse no meio
desta noite.
TEMPORAL
Há
um temporal aqui fora
igual
ao que em meu peito
assola
a cem por hora.
Há
um sol que se estende
pela
orla, adentra o continente
e
poente se vai no entardecer.
O
sol não arde em meu peito
e
tudo é finito lá fora: deus vão
é
esse tempo da hora.
Há
um dobre de sinos em silêncio
uma
flor que não abre suas pétalas
e
um apartamento ainda na planta.
Esse
tempo é de ruir igrejas
fezer
extinto o minúsculo jardim
e
desconstruir a casa dos sonhos.
Tudo
desaparecendo em derredor
meus
olhos encarnados são duas
naves que buscam o
céu aberto.
UM ANTIVERSO E
A POESIA PARA CLÁUDIA
Só
solidão acolhe o deserto que sou.
Eu
vi Cláudia.
Eu
vi flores aonde jardins não havia.
Eu
vi cores onde só escuros se via.
Eu vi Cláudia.
Parabéns ao DCP por trazer o poeta Rogério Generoso, poesia que merece ser linda, poesia da nova safra pernambucana. Gostei muito.
ResponderExcluirParabéns poeta Rogério Generoso, o seu trabalho é belo e reflexivo. Avante!
ResponderExcluirRogério é visceral! Viva Rogério!
ResponderExcluirGrande poeta!
ResponderExcluirLouco sempre pensei assim, vi em mim a inquietação da juventude. Caminhos não traçados, passos desconexos em busca do nada. Onde estou?, pra onde vou?. A dor na carne da desorientação é espasmodica e torturante. Meus amigos escolares por onde andam?. Só minhas lembranças sem direção é o meu presente de um passado desorientado.
ResponderExcluirMarcos Melo
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