ADELMAR TAVARES, O TROVADOR
Por
Natanael Lima Jr*
Publicado
por DCP em 21/02/2021
Adelmar
Tavares foi eleito para ABL em 25/03/1926
Foto: Reprodução
Adelmar
Tavares da
Silva Cavalcanti foi advogado, professor, jurista, magistrado e poeta, nasceu
no Recife, PE, em 16 de fevereiro de 1888, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em
20 de junho de 1963. Ficou conhecido nacionalmente por suas trovas, sendo
considerado o maior cultor desse gênero no Brasil, reconhecido como o
Príncipe dos Trovadores Brasileiros.
Foi eleito para a Academia Brasileira
de Letras, em 25 de março de 1926 e presidiu a ABL, instituição máxima das
letras brasileiras em 1948. Foi membro da Academia Brasileira de Belas Artes,
membro e patrono da Academia Brasileira de Trovas. Sua obra poética
caracteriza-se pelo romantismo, lirismo e sensibilidade, sendo recorrentes
temas como o da saudade e o da vida simples junto à natureza.
Publicou Descantes (1907), Trovas e
trovadores (1910), Miriam, luz dos
meus olhos (1912), A poesia das
violas (1921), Noite cheia de
estrelas (1925), A linda mentira
(1926), Poesias (1929), Trovas (1931), O caminho enluarado (1932), A
luz do altar (1934), Poesias
escolhidas (1946), Poesias completas
(1958).
*Natanael
Lima Jr.
é capricorniano, poeta, produtor cultural, editor do DCP e da Imagética Edições
CINCO POEMAS DE ADELMAR TAVARES
A CIDADE DE
RECIFE*
Pátria
do meu amor! Recife linda,
como
te guarda o meu saudoso olhar!
Velas
ao longe... Os coqueirais de Olinda,
e
uma terra a nascer da água do mar...
Um
céu de estrelas que entrevejo ainda.
Sob
as pontes, o rio a se estirar...
Noites
de lua... que saudade infinda...
brancas...
que dão vontade de chorar...
Filho
ingrato, parti... Mas nem um dia,
deixei
de te lembrar, por mundo alheio,
onde
me trouxe a glória fugidia.
Pátria,
quando eu morrer, piedosa e boa,
dá
que eu durma o meu sono no teu seio,
como
um seio de Mãe que ama e perdoa...
*Noite cheia
de estrelas, 1925.
A VIDA TEM
DOIS CAMINHOS*
A
vida tem dois caminhos.
Um,
todo cheio de flores,
todo
cheio, outro, de espinhos...
Uns
pela estrada florida,
passam,
bem longe das dores,
só
tendo flores na vida.
Outros,
bem tristes, se vão,
trazendo
os pés nos espinhos,
e
espinhos no coração.
*
Deus!
Senhor dos dois caminhos
da
vida que a gente trilha,
tem
pena de minha filha,
da
filha de meus amores
que
é tão pequenina, assim...
Junca-lhe
a estrada de flores!
Deixa
espinhos para mim!
*Luz dos meus
olhos, Myriam, 1912.
SERENIDADE*
Nunca
de mim se ouviu um só protesto
de
maldição, de cólera aturdida,
sequer
uma palavra, ou mesmo um gesto
de
malquerer a quem mais quis na vida.
Arrasto
como a um fardo, a alma ferida,
e
a dor que me crucia, manifesto,
sem
jamais inculpar de fementida,
aquela
que em meu sonho amo, e requesto.
Em
perdendo-a, perdi toda a alegria
do
coração que em mágoas apunhalo.
Perdi
a luz!... Fechou-se o sol que eu via!...
Tudo
abateu com a queda desse amor,
tão
forte, que ainda sinto o seu abalo,
tão
grande, que ainda escuto o seu fragor.
*Noite cheia
de estrelas, 1925.
MISTÉRIO*
"Conheço
um coração, tapera escura."
Bilac. (Tarde)
A
Clementino Fraga
Que
voz foi essa em meu ouvido?
Alguém
falou no meu ouvido...
Que
doce e estranha vibração
toma-me,
agora, o coração?...
-
Ninguém falou no teu ouvido...
Esses
rumores todos são,
mistério
sem explicação,
coisas
de velho coração...
Mas
esse aroma revivido
ao
meu olfato? A exalação
que
estou sentindo, de um vestido,
que
era o jasmim do seu vestido,
que
me não mente o coração?
-
Oh, nada sentes!... Nada... Não...
Esses
perfumes todos são,
do
teu espírito abatido,
mera,
fugaz perturbação.
Coisas
de velho coração...
Ah
que bem disse um Poeta, um dia,
que
o triste, humano coração,
quando
com o tempo envelhecia,
era
também casa vazia,
de
assombração...
*O caminho
enluarado, 1932.
TROVAS
Não
sei porque, quando canto,
por
mais alegre a canção,
tem
uma gota de pranto
que
vem do meu coração.
*
Eu
vi o rio chorando
quando
te foste banhar,
por
não poder te banhando,
dar-te
um abraço, e ficar...
*
Oh
lindos olhos magoados,
de
tanta melancolia...
-
Da tristeza desses olhos
é
que vem minha alegria.
*
Amar
é obra perdida
mas,
que dissessem, queria,
se
não fosse amar na vida,
a
vida, que valeria?!
*
As
penas em que hoje estou,
disse-as
ao Sol, - fez-se triste.
Disse-as
à Noite, - chorou...
Disse-as
a ti, e sorriste...
*
Não
lamento a minha lida,
nem,
pobre, choro os meus ais.
Quem
tem um amor na vida,
tem
tudo! Para que mais?
*
Vou
vivendo a minha vida,
como
Deus quer e consente.
-
Sou como a folha caída,
levada
pela corrente.
*
Trovas,
- cantiga do povo,
alma
ingênua dos caminhos,
de
lavradores, cigarras,
mulheres,
e passarinhos...
*
Para
esquecer-te, outras amo,
mas
vejo, por meu castigo,
que
qualquer outra que eu ame,
parece
sempre contigo...
*
Para
de amor cantar mágoas,
foi
que se fez o violão,
que
a gente aperta no peito,
e
encosta no coração...
*
Quem
tiver amor, esconda,
faça
por muito esconder,
que
as coisas da alma da gente,
ninguém
carece saber...
*
Só
peço o dia em que eu morra
faça
uma noite de lua,
todo
troveiro descante,
todo
violão saia à rua.
*
Quando
eu morrer, levo à cova,
dentro
do meu coração,
o
suspiro de uma trova
e
o gemer de um violão...
*
A
morte não é tristeza,
é
fim... É destinação...
Tristeza
é ficar na vida
depois
que os sonhos se vão...
*
Depois
de mandar-te embora
foi
que - cego! - percebi,
que
eras a felicidade
que
eu tinha em mãos, e perdi.
*
Bem
sei que amar custa muito,
custa
a vida querer bem,
mas
custa o dobro da vida,
na
vida não ter ninguém.
*
Oh
linda trova perfeita,
que
nos dá tanto prazer!...
-
Tão fácil, - depois de feita...
tão
difícil, de fazer...
*
Para
definir o Poeta,
Só
mesmo em versos defino.
-
É um homem que fica velho,
com
o coração de menino...
*
Minha
Mãe, minha velhinha,
Deus
te abençoe, e acompanhe,
porque
uma Mãe neste mundo,
quanto
mais velha, mais Mãe.
*Poesias
completas, 1958.
Gostei muito de conhecer melhor o trabalho deste consagrado poeta. Obrigada Natanael Lima!
ResponderExcluirLindas poesias, belas trovas
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