OS CÍRCULOS AMOROSOS DE PAULO CALDAS

Por Natanael Lima Jr

A proposta é trazer uma seleção (pessoal) dos poemas publicados no livro “Círculo Amoroso & Outros Poemas”, Bagaço, 2016, do conhecido e renomado escritor pernambucano Paulo Caldas. Tarefa nada fácil selecionar, distinguir, hierarquizar, quando se trata de obra literária de excelente qualidade. Mas, a tentativa é válida, e vamos realizá-la por puro prazer sensorial-mental. Tudo foi pensado e muito bem elaborado pelo autor. O livro é estruturado em cinco Círculos: Das paixões vividas, Dos desejos frustrados, Dos sonhos adolescentes, Das raízes e Dos amores perdidos. Vale destacar que o referido livro recebeu “Menção Honrosa”, do Prêmio Edmir Domingues (Poesia/2017), em comemoração aos 116 anos de fundação da Academia Pernambucana de Letras (APL). Então, mãos à obra.

CÍRCULO DAS PAIXÕES VIVIDAS

O SOL ALÉM DA MINHA RUA

O sol além da minha rua

Espia entre folhas inibido

Conduz com luz de olhos claros

O amor pelas sombras escondido

Ilumina inquieta incita

Se espalha pelo mundo refletido

Nave de voo incandescente

Nos leva ao céu de amor tingido

Quando noite envolto em mistérios

Tristonho sonha sonhos mal dormidos

Na agonia das horas, insone espera

Se entregar ao amor amanhecido

CÍRCULO DOS DESEJOS FRUSTRADOS

OLHOS DE SOL

Olhos da noite

Tênues lumes

Pairam sobre

A nau dos solitários

Olhos de sol

Luz do horizonte

Lascivos te guiam

Ao porto dos amantes

CÍRCULO DOS SONHOS ADOLESCENTES

PRIMA MUSA

Olinda

Tempo dos cinquenta

Sonhos simples

Vida lenta

No terral dos inventos

Calaram os sinos da Sé

Perdi a prima-musa

Sumiu o som de Helena

CÍRCULO DAS RAÍZES

ASFIXIA

Amanhece o Recife

Transparece a cidade

Entre as luzes de ontem

E o verso insone do último bardo

Antigo, só o desfrutar das águas

Dos vestígios de chuva nasce o lodo

Nos telhados que cobre teus desejos

Hoje, teu despertar em fumaça enegrecido

Sufoca os sonhos do poeta adormecido

CÍRCULO DOS AMORES

DESENLACE

Finda paixão

A ausência pune o peito

O tédio enraíza

À dor ao coração se inclina

É golpe de faca cega

Rompe, traumatiza

O tempo passa tempo

E não ameniza

É marca ferrada

Que não finda