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OS ÚLTIMOS POEMAS DE PABLO NERUDA



Por Natanael Lima Jr




“O peso dos anos e a doença aproximam-no da melancolia. 
A morte transparece e está presente. 
Mas Neruda reafirma a fé na palavra, sua ferramenta, memória, esperança”.





Pablo Neruda (1904-1973)
Crédito da foto, possivelmente, Sara Facio





A Coleção L&PM Poket, vol. 60, lançou a 1ª edição em julho de 1997 e a reimpressão em julho de 2004 do livro “Últimos Poemas – O Mar e os Sinos”, do poeta chileno Pablo Neruda, Prêmio Nobel de Literatura em 1971.

Segundo nota do tradutor, Luiz de Miranda: “era intenção de Neruda colocar títulos em todos os poemas. Somente pode fazê-lo em uns poucos"; nos outros, foram colocados  como título o primeiro verso ou parte dele.


Também em nota dos organizadores, em destaque na contracapa: “intimamente o poeta conversa com o mar e suas diferentes formas. O sino ainda quer tocar. O peso dos anos e a doença aproximam-no da melancolia. A morte transparece e está presente. Mas Neruda reafirma a fé na palavra, sua ferramenta, memória, esperança. Este livro, o último escrito pelo poeta, foi concluído em seu leito de morte, em setembro de 1973. A grande voz de Neruda se levanta pela última vez, cheia de nostalgia e melancolia, mas como querendo condensar nestes últimos poemas o sentido de toda a sua obra. Na sua leitura, poderíamos dizer, como o poeta à sua amada Matilde: “Foi belo viver enquanto vivias.””.




Pablo Neruda e Matilde Urrutia
Fotógrafo desconhecido




CINCO POEMAS DE PABLO NERURA
(Extraídos do livro “Últimos Poemas – O mar e os Sinos”)




INICIAL

O dia não é hora por hora.
É dor por dor,
o tempo não se dobra,
não se gasta,
mar, diz o mar,
sem trégua,
terra, diz a terra,
o homem espera.
E só
seu sino
está ali entre os outros
guardando em seu vazio
um silêncio implacável
que se repartirá
quando levante sua língua de metal
onda após onda.

De tantas coisas que tive,
andando de joelhos pelo mundo,
aqui, despido,
não tenho mais que o duro meio-dia
do mar, e um sino.

Eles me dão sua voz para sofrer
e sua advertência para deter-me.
Isto acontece para todo o mundo,
continua o espaço.

E vive o mar.

Existem os sinos.


OBRIGADO, VIOLINOS

Obrigado, violinos, por este dia
de quatro cordas.
É puro som do céu,
a voz azul do ar.


CADA DIA MATILDE

Hoje a ti: és longa
como o corpo do Chile, e delicada
como uma flor de anis,
e em cada rama guardas testemunho
de nossas indeléveis primaveras.
Que dia é hoje? Teu dia.
E amanhã é ontem,
não tem acontecido,
não se foi nenhum dia das tuas mãos,
guardas o sol, a terra, as violetas
em tua pequena sombra quando dormes.
E assim cada manhã
me presenteias a vida.


NÃO UM CASO DOENTIO   

Não um caso doentio,
nem a ausência de grandeza, não,
nada pode matar o melhor de nós,
a bondade, sim senhor, que padecemos:
- bela é a flor do homem, sua conduta
e cada porta é a bela verdade
e não a sussurrante aleivosia.

Sempre ganhei, por ter sido melhor,
melhor que eu, melhor que fui,
a condecoração mais taciturna:
-recuperar aquela pétala perdida
de minha melancolia hereditária
-buscar mais uma vez a luz que canta
dentro de mim, a luz inapelável.


AQUI

Vim aqui para contar os sinos
que vivem no mar,
que soam no mar,
dentro do mar.

Por isso vivo aqui. 





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