OS PILARES DA NOSSA PROSA. LITERATURA PARA PRINCIPIANTES


Por Douglas Menezes*




Machado, Graciliano e João
Imagens: Reprodução Google



Quem curte um pouco de Literatura Brasileira deve ter observado com certa atenção que três autores sustentam todo o desenvolvimento das nossas letras com relação à prosa. Tudo o mais se tornou satélite girando em volta dessas figuras. E mesmo aqueles escritores que produziram uma obra de qualidade insuspeitável aqui e ali sofreram influência, e por isso os chamo de satélites, o que não os tornam menores.

Machado de Assis, Graciliano Ramos e Joao Guimarães Rosa são esses pilares aos quais me refiro. Machado de Assís criou o romance psicológico brasileiro com Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro e Quincas Borba. Aliás, ele criou a Literatura Moderna do Brasil, criou o herói problemático, criou a Literatura realista de aprofundamento psicológico, dissecando as entranhas da alma humana. Pôs a nu a hipocrisia de uma sociedade burguesa decadente já no século Dezenove. Tem em Capitu, de Dom Casmurro, não apenas o símbolo de uma mulher fatal, propensa à traição, mas como uma vítima de uma sociedade preconceituosa a nunca questionar as ações masculinas. Bentinho é um personagem no mínimo questionável quanto à traição de sua mulher. E até hoje a dúvida persiste, romance a gerar mais de uma interpretação, como todo bom livro.

Depois chega Graciliano Ramos, outro gigante, a criar discípulos na literatura Brasileira. Ele, inclusive, um influenciado por Machado de Assis. Dois romances bastaram para fazer do escritor alagoano um astro de primeira grandeza dentro das nossas letras: Angústia e São Bernardo formaram, a partir de suas publicações, uma legião de satélites de vidas próprias, autores que acrescentaram algo mais à Literatura do Brasil. Graciliano apronfundou Machado, colocou a visão política ao lado da psicologia, mantendo a mesma linguagem enxuta, essencial, sem enfeite, igual ao mestre carioca. Ambos partiram de uma postura particular, regional, para atingir a universalidade dos dramas humanos.

Já Guimarães Rosa reinventou, recriou e criou a linguagem literária. Foi o mais moderno de todos. Rei dos neologismos. Um cultor de um vocabulário regional que se mistura a uma erudição pouco vista nas Letras Brasileiras. Ler Guimarães não é fácil. Seu Grande Sertão, Veredas é uma obra prima difícil de ser ultrapassada. Foi o mais radical dos três. E como os outros dois, conseguiu tornar sua obra universal sem perder o regional, os campos de Minas Gerais, o Sertão com todo o seu aspecto mágico.

Machado, Graciliano e Guimarães são, com justiça, monstros sagrados, clássicos no sentido mais verdadeiro. Depois deles, a Literatura Brasileira nunca mais foi a mesma. Claro, para melhor.




*Douglas Menezes é escritor, professor de literatura e membro-fundador da Academia Cabense de Letras. 
OS PILARES DA NOSSA PROSA. LITERATURA PARA PRINCIPIANTES OS PILARES DA NOSSA PROSA. LITERATURA PARA PRINCIPIANTES Reviewed by Natanael Lima Jr on 01:04 Rating: 5

Um comentário

  1. Gostei de do destaque a 3 grandes nomes da ficção brasileira.Mas poderia ter incluido Clarice Lispector, pela sua importância no aprofundamento dos personagens e pela renovação que trouxe à narrativa contemporânea.

    ResponderExcluir

Recent in Recipes

3/Food/post-list