CONTO DO DOMINGO
Mareia
(conto) de Ducabellaflor
Ducabellaflor
é contista
e
da Academia de Letras
do
Jaboatão dos Guararapes
Contemporizando
os passos, tropeçou os olhos por sobre o mar e avistou a sôfrega solidão que
dentro de si era imensidão. Era ínfima perante as coisas que a rodeara, todas
elas, sem exceção. Os matizes das ondas contemplavam suas faltas e ela ia
vogando, concomitantemente ao passo da natureza, nas profundezas do oceano. Dia
após dia era arrastada e levada escudada pelo cantar dos ventos.
Enquanto ia deixando-se limpar pelo
salgado encanto ardente que dali expurgara, depositava nas beiras das quebradas
canoas as amarguradas habitações estrangeiras que lhe emprestara destreza nas
ausências. Como era pequena- pensava.
Com volátios suspiros, cada vez mais
naufragava e se esvaia, imbricada por sob as espumas tenras que compunham o
cenário mirífico litoral. Sol e Lua iluminavam em soslaio a metamorfose da vida
que ali se dava e ela incansável se desfazia paulatinamente nas contrações que
o mar ofertava.
Embebedada de delitos dolosos e um
tanto quanto inocentes, paradoxalmente foi se rendendo, se entregando e se
oferecendo e dali nunca mais se apartou. Já não era dona de suas terras, agora;
parte da esfera das águas cristalinas.
Até hoje, dizem, clama os olhares dos
que descalços passam, consternados pela beleza do lugar. Não era Sereia, nem
Semideusa, nem rainha da beleza, seu nome era Mareia- metade mar, metade areia-
Deusa que serenava e sustentava as profundezas das águas salobras.
CONTO DO DOMINGO
Reviewed by Natanael Lima Jr
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