POEMAS DO DOMINGO
Poemas
de Jaci Bezerra, Ivan Marinho, Juareiz Correya, Vital Corrêa de Araújo e Cícero
Melo
Doando sem
cessar dentro de mim
Jaci
bezerra
Tecendo
a estrela madura
e
a cor íntima das romãs
Escrevo
a canção mais pura
para
os olhos da minha mãe
À
luz de sua janela
folheio
velhos carinhos
Sabendo
que igual a ela
estou
no mundo sozinho
À
sombra dos seus cuidados
em
que transversal ficou
Cada
vez mais arruinado
o
menino que ela criou?
Há
uma mágoa contida
nos
seus olhos de faiança
Quando
ela nota que a vida
magoou
sua criança
A
cadeira de balanço
embala
manso meu sono
E
eu descubro, quando a alcanço,
que
o meu é o seu abandono.
*In
Linha d’água, pág. 108
Barroquilhas*
Ivan
Marinho
Nas
madrugadas insones
Sinto o tropel de chegada,
Sem ordem, desarrumadas,
De palavras, letras, nomes.
Sinto o tropel de chegada,
Sem ordem, desarrumadas,
De palavras, letras, nomes.
Balançam,
saltam, deslocam
Sem ritmo ou direção
E de tanta inquietação
Algo parece que evocam.
Sem ritmo ou direção
E de tanta inquietação
Algo parece que evocam.
Todas
de tanto maduras
Encontram-se a se encaixar,
Assim como a despertar
Do sonho que se inaugura.
Encontram-se a se encaixar,
Assim como a despertar
Do sonho que se inaugura.
Conjuminado-se
o ensejo
Com nosso anseio ancestral,
Nivelando ao animal
Nosso instintivo desejo.
Com nosso anseio ancestral,
Nivelando ao animal
Nosso instintivo desejo.
E
preterindo o futuro,
Faz da noite a luz do dia
Faz da noite a luz do dia
Gira
a esfera, por magia,
E amolece o papel duro.
Pois o papel do poeta
É deixar claro o escuro.
E amolece o papel duro.
Pois o papel do poeta
É deixar claro o escuro.
*Poema
do livro Sortilégio Possível, Edições
Bagaço, 2014
Não se vive
por viver
Juareiz
Correya
O
que é uma existência
Sem caminhos e luz
De dias passados
E não construídos
De amanhecer sem horizontes
E anoitecer sem nada?
O que é um homem
Sem fantasia e sonho
Ou com a fantasia apenas
De ganhar dinheiro e aumentar lucros
E o sonho cotidiano seguro
De contabilizar os dias
Com o sangue da ganância
E o coração da sobrevivência?
O que é uma vida
Sem uma perda
Uma aventura inútil
Um salto no escuro
Um suicídio amoroso
Uma história não vivida
Uma emoção despertada
Em qualquer gesto
Palavra ou sorte?
(Jardim Atlântico/Olinda,
18 de agosto, 2005)
Sem caminhos e luz
De dias passados
E não construídos
De amanhecer sem horizontes
E anoitecer sem nada?
O que é um homem
Sem fantasia e sonho
Ou com a fantasia apenas
De ganhar dinheiro e aumentar lucros
E o sonho cotidiano seguro
De contabilizar os dias
Com o sangue da ganância
E o coração da sobrevivência?
O que é uma vida
Sem uma perda
Uma aventura inútil
Um salto no escuro
Um suicídio amoroso
Uma história não vivida
Uma emoção despertada
Em qualquer gesto
Palavra ou sorte?
(Jardim Atlântico/Olinda,
18 de agosto, 2005)
Poema dos
seios*
Vital
Corrêa de Araújo
Regatos,
Eu
os sorvo
Milhos
túrgidos,
Eu
os debulho
Cordas
violáceas,
Eu
as vibro
Vibro,
vibro
Vibro.
*In
Poesia Pernambucana Hoje, pág. 44
A terceira
pele
Cícero
Melo
Procuro
a carne da palavra adusta,
Aquela que insorvida se consome,
Aquela cujo selo cai à fronte
Das palavras irmãs e se incrusta
Nas pedras da razão, no verbo nômade,
No dedilhar de febres e de angústias,
No delírio senil da sombra rústica,
Longa noite de sal e medo insone.
Procuro a carne da palavra augusta,
Aquela que se eleve e se prolongue
Em mistério sutil, sedosa e onde
Repouse mar, celebração e bússola.
Procuro a carne da palavra morta
Que se aviva, me bate e me conforta.
Aquela que insorvida se consome,
Aquela cujo selo cai à fronte
Das palavras irmãs e se incrusta
Nas pedras da razão, no verbo nômade,
No dedilhar de febres e de angústias,
No delírio senil da sombra rústica,
Longa noite de sal e medo insone.
Procuro a carne da palavra augusta,
Aquela que se eleve e se prolongue
Em mistério sutil, sedosa e onde
Repouse mar, celebração e bússola.
Procuro a carne da palavra morta
Que se aviva, me bate e me conforta.
POEMAS DO DOMINGO
Reviewed by Natanael Lima Jr
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10:09
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