Poemas da Semana
Poemas de Paulo Leminski, Vital Corrêa de Araújo,
Natanael Lima Jr., Juareiz Correya e Regina Helena Andrade Mendes
Foto: Paulo Leminski
Nomes a menos*
Paulo Leminski
Nome
mais nome igual a nome,
uns
nomes menos, uns nomes mais.
Menos
é mais ou menos,
nem
todos os nomes são iguais.
Uma
coisa é a coisa, par ou ímpar,
outra
coisa é o nome, par e par,
retrato
da coisa quando límpida,
coisa
que as coisas deixam passar.
Nome
de bicho, nome de mês, nome de estrela,
nome
dos meus amores, nomes animais,
a
soma de todos os nomes,
nunca
vai dar uma coisa, nunca mais.
Cidades
passam. Só os nomes vão ficar.
Que
coisa dói dentro do nome
que
não tem nome que conte
nem
coisa pra se contar?
*Transcrito do livro Toda poesia Paulo Leminski
Insônia do
tempo*
Vital Corrêa
de Araújo
Aprendi
insônia no teu retrato
ouvindo
vísceras, esculpindo os ossos do tempo
lentamente
com astúcia
vendo
através do teu rosto a anatomia da ternura
e
do obstáculo.
Vi
milênios de areia amontoarem-se
à
sombra de tuas pálpebras sonâmbulas
vi
a luz inacabando-se, as portas do éden
entreabrindo-se
para
receberem as primeiras criaturas
antes da aurora
vi
olhos morrerem de temor do futuro.
Tudo.
A insônia dos anos, as doenças da alma
os
sedimentos do tédio
a
continuação dos instantes
o
amontoado de desenganos
as
horas demorando, a sucessão dos enterros
a
ininterrupta dor
as
expostas vísceras das épuras, as fraturas
do
tempo inconcluso, ferruginoso.
*Transcrito de Poesia Pernambucana Hoje – Volume I
Voz por toda parte*
Natanael Lima Jr.
um
acordo fiz contra o acordo:
sangrar
de vez a voz
e
ser grito e lábios eternamente
um
acordo fiz contra o acordo:
ser
palavras qual extensão da vida
e
ser mãos, olhos e alma
um
acordo fiz contra o acordo:
jamais
limitar os sonhos
e
viver até desflorescer
um
acordo fiz contra o acordo:
jamais
ressuscitar a dor,
ser
amor presente
e
voz por toda parte
*Transcrito de À espera do último girassol & outros
poemas
Intimidade
Juareiz Correya
eu gosto
do teu cheiro de dentro
de dizer que te mato
de prazer de cansaço
de perder os meus braços
navegando em teu mar
eu gosto
dessa carne que arde
mais cedo e mais tarde
pelos cantos da casa
de fazer minha rede
no vai-vem dessas pernas
(no aconchego das coxas)
de cair de cabeça
nos segredos da gruta
eu gosto
desse gosto mais doce
que o teu corpo oferece
de tanto gozar
do teu longo arrepio
dessas voltas do cio
desse amor sem parar
do teu cheiro de dentro
de dizer que te mato
de prazer de cansaço
de perder os meus braços
navegando em teu mar
eu gosto
dessa carne que arde
mais cedo e mais tarde
pelos cantos da casa
de fazer minha rede
no vai-vem dessas pernas
(no aconchego das coxas)
de cair de cabeça
nos segredos da gruta
eu gosto
desse gosto mais doce
que o teu corpo oferece
de tanto gozar
do teu longo arrepio
dessas voltas do cio
desse amor sem parar
Decisão
Regina Helena Andrade Mendes
Regina Helena Andrade Mendes
Estanco
a mão sobre o papel
Decidida a não prosseguir.
Que as palavras continuem a guardar
Na redoma do abstrato
A inspiração que me faz companhia.
Que o silêncio brinde o êxito
Sorvendo a submissão das palavras
E o incensurável do não escrito.
Que deguste a consonância
Sentindo a pulsação da quietude
E a ausência da tinta.
Que espalhe cinzas sobre a branca folha
Sem aconselhar tristeza.
Que guarde na profundez do cuidado
A mudez perfeita
Como verdade que ganhou distância
E adormeceu nas trevas da memória.
Decidida a não prosseguir.
Que as palavras continuem a guardar
Na redoma do abstrato
A inspiração que me faz companhia.
Que o silêncio brinde o êxito
Sorvendo a submissão das palavras
E o incensurável do não escrito.
Que deguste a consonância
Sentindo a pulsação da quietude
E a ausência da tinta.
Que espalhe cinzas sobre a branca folha
Sem aconselhar tristeza.
Que guarde na profundez do cuidado
A mudez perfeita
Como verdade que ganhou distância
E adormeceu nas trevas da memória.
Poemas da Semana
Reviewed by Natanael Lima Jr
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