Ao pé da letra
por Frederico
Spencer*
Img: Reprodução
Vários escritores se dedicam a
escrever sobre futebol. Alguns até surgiram no cenário literário vindos das
colunas dos jornais onde faziam comentários futebolísticos, como é o caso do
escritor pernambucano Nélson Rodrigues.
Às vésperas de uma copa do mundo, um
grande número de escritores se entrega ao deleite de discutir o vai e vem da
bola - fruto das paixões da meninice, onde a gorduchinha escravizou a todos
pelo resto de suas vidas, como também, as vinculações do futebol com a máquina
estatal.
É comum o fato de se fazer esta
aproximação letárgica onde se misturam a magia do futebol e a posse deste como
meio de promoção e/ou como pano de fundo para as articulações políticas de
ditaduras e também de democracias para o encobrimento de ações de corrupção. A
politização deste evento é, sem sombra de dúvida, o resto do caldo que sobra no
prato degustado por todos.
Nesta panela se misturam: a paixão do
torcedor, os resultados dos jogos, o desempenho dos atletas, a mãe do juiz, os
interesses de uma tecnocracia profissional e também a manipulação política do
evento, onde a autoestima do povo é alimentada através da quantidade de gols
sofrida pelo time contrário. Um caso clássico difundido em todo o país foi a
copa do mundo dos anos 70, disputada no México, onde a ditadura militar cobrou
dos jogadores a vitória final.
Posto em campo a autoestima de
torcedores vinculada às vitórias do time do coração - transferência psicológica
da capacidade de luta particular na vida. As apropriações destas aspirações
como meio de ganho de capital e também da subtração da satisfação de um povo
como forma de manutenção das estruturas políticas e sociais - a literatura,
enquanto observatório dos movimentos de uma sociedade, não poderia ficar de
fora deste tapetão onde pés e mãos jogam o mesmo jogo.
*Frederico
Spencer é
poeta, sociólogo e psicopedagogo
Ao pé da letra
Reviewed by Natanael Lima Jr
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08:03
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