A Produção Literária Brasileira Contemporânea

por Natanael Lima Jr*

















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O livro “Literatura brasileira hoje”, escrito e organizado por Manuel da Costa Pinto, mestre em teoria literária e literatura comparada pela USP e colunista da Folha de S. Paulo apresenta um panorama da produção literária brasileira contemporânea.

O livro, segundo o autor, não tem a pretensão enciclopédica. Os textos apresentados não são verbetes que elencam um grande número de obras da literatura atual, mas, leituras que procuram identificar singularidades. Cada um dos autores abordados constitui uma espécie de campo de força, que segundo o autor, aponta para certas tendências ou dicções presentes em outros escritores, cujo número ultrapassa em muito os 60 capítulos dispostos no livro. Esses autores são mencionados no interior dos capítulos estabelecendo-se correlações e diálogos. Para facilitar ainda mais a leitura, ao final do volume há um índice onomástico dos autores e as relações que se estabelecem entre eles.

Afirma o autor que o critério de escolha dos escritores analisados tem algo de imponderável: “crítica literária também é risco – mesmo quando não expressa uma opinião, mas procura entender a importância que os autores e obras adquiriram dentro de nosso sistema literário.”

A obra faz parte da coleção “Folha Explica” e apresenta 60 autores: 30 poetas e 30 prosadores. De Manuel de Barros (nascido em 1916) a Tarso de Melo (1976), de Lygia Fagundes Telles (1923) a Nelson de Oliveira (1966). Eles compõem um número amplo o bastante para ser representativo no que de mais relevante se tem produzido na atualidade. Dezenas de outros autores aparecem também, nos comentários à obra dos 60, para criar junto com eles um panorama único da nossa literatura.

Na parte primeira do livro, o autor enfoca a produção poética brasileira hoje e aponta duas ideias que são consensuais, a ponto de terem virado lugares-comuns. A primeira diz que um dos seus traços dominantes é o diálogo cerrado com a tradição. Mas não qualquer tradição. O marco zero, por assim dizer, seria a poesia que emergiu com a Semana de Arte Moderna de 22. A segunda ideia, decorrente da primeira, é que essa linhagem modernista se bifurca em dois principais eixos: uma vertente mais lírica, subjetiva, articulada em torno de Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade; e outra mais objetiva, experimental, formalista, representada por Oswald de Andrade, João Cabral de Melo Neto e a poesia concreta.

Nomes consagrados como Manuel de Barros, Ferreira Gullar e os irmãos Haroldo e Augusto de Campos a poetas das novas gerações como Age de Carvalho, Carlito Azevedo e Claudia Roquette-Pinto, faz com que a poesia brasileira apresente um cenário variadíssimo de tendências que se cruzam e se influenciam reciprocamente, destaca o autor.

Na segunda parte, o autor dedica à prosa produzida hoje no Brasil. O leitor atento detectará as inúmeras variações que cada um dos autores faz sobre essa condição do sujeito moderno. Cada autor incluído na obra ocupa um universo próprio, habitado ora por personagens meticulosamente construídas (como acontece nas obras de Lygia Fagundes Telles, Rubem Fonseca ou Zulmira Ribeiro Tavares), ora por personagens que se insinuam numa paisagem deteriorada (como na prosa de Luiz Ruffato, André Sant’Anna ou Marcelo Mirisola).
  
*Natanael Lima Jr é poeta, pedagogo, produtor cultural e editor
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