Um Livro, Por Favor!
Lourival Pereira Pinto*
*Lourival
Pereira Pinto é professor Dr. do Departamento de Tecnologia da
Informação da UFPE
Certa vez
ouvi um poeta dizer a seguinte frase: “é mais importante formar um leitor do
que descobrir petróleo”. Então me peguei refletindo sobre o significado dessa
frase, e imaginei um mundo onde a formação do cidadão estaria acima dos
interesses econômicos. Seria possível?
Sabemos que
uma utopia nunca é possível, mas esse mundo que imaginei está acima da utopia,
em algum lugar ou tempo no terreno do realizável, do possível. Acredito que
qualquer ação cultural deva pensar a formação de um povo, ou de uma comunidade,
ou de uma pessoa. Se não é possível mais aceitar que o mercado determine as
regras de um desenvolvimento insustentável, ou que as relações de poder
influenciem a formação do cidadão, devemos buscar caminhos que revertam o
processo de exclusão social que a lógica do mercado impõe.
Sabendo
assim, quais são as possibilidades? Deve haver muitas, mas uma delas, e talvez
a fundamental é investir na formação das pessoas. Essa formação tem um longo
caminho a ser percorrido, e não prevê resultados a curto prazo. Mas já sabemos
como dar o primeiro passo nessa maratona infinita, e esse primeiro passo é
formar leitores.
Indiscutivelmente,
um cidadão alfabetizado e letrado tem condições de exercer um papel mais
atuante na sociedade, desde as reflexões acerca do estado de coisas que o
circunda, até na postura crítica em relação aos rumos da sociedade. Muito além
de serem reflexos da sociedade, os cidadãos devem ser livres para transformar
essa sociedade.
Mas como e
onde formar leitores? Leitores formam leitores, então, essa é uma condição
básica para essa ação. No mínimo, podemos prever aqui uma lógica de
multiplicação: um leitor forma dois, dois formam quatro e assim, até o
infinito. Claro que há diversas estratégias para se formar leitores, mas, no
momento, este não é nosso objetivo neste texto. O nosso propósito agora é
discutir ONDE formar leitores.
Não há
dúvidas de que as escolas exercem um papel fundamental nesse campo, porém,
sabemos que nem sempre esse papel é exercido com competência. Defendemos aqui
espaços (ou dispositivos) de ação cultural que possam criar condições para as
pessoas reencontrarem seu papel como leitores.
Em primeira
mão, esses dispositivos podem ser as bibliotecas. Certamente poderão me
questionar: bibliotecas estão ultrapassadas, hoje as crianças pesquisam na
internet, os professores impõem apostilas nas escolas, as crianças têm tablets,
ebooks, etc. Analisados friamente, todos esses argumentos só fortalecem minha
defesa pelas bibliotecas.
Poderia
aqui desfiar um rosário de contra-argumentos, mas vou me deter em apenas três:
1. pesquisar exclusivamente na internet não garante recuperar informações
pertinentes e/ou fidedignas. 2. Apostilas são práticas nocivas, pois fecham o
cerco para possíveis novas informações ou para questionamentos. 3. tablets não
resolvem o problema da leitura.
Então
retornemos às bibliotecas. Elas são espaços de múltiplas possibilidades de
leitura e de informação, permitem momentos de trocas e compartilhamentos e,
além disso, podem reduzir a violência nas comunidades em que estão inseridas.
Na sua relação com a escola, já foi comprovado que estudantes que frequentam bibliotecas
veem reduzidas sua evasão e/ou sua retenção escolar. Mas, para que essas ações
efetivamente aconteçam, as bibliotecas devem ser bem coordenadas e
fortalecidas.
E esses
aspectos passam, necessariamente, pela gestão pública, e muitas vezes me pego
perguntando, porque o poder público não se interessa em possibilitar esse
recurso às populações, principalmente as mais carentes. Não sei a resposta, mas
pensando agora nas comunidades mais carentes, entendo que é nesses lugares que
as bibliotecas devem ser ainda mais valorizadas e fortalecidas. O cotidiano
desses lugares, muitas vezes, facilita um processo de desconfiança e
insensibilidade que toma conta dos moradores.
Uma
biblioteca instalada nessas comunidades pode, além de possibilitar novos conhecimentos
e possibilidades, causar uma transformação cognitiva e social. Um trabalho de
leitura leva ao afeto, e o afeto leva a brutalidade para longe e potencializa a
sensibilidade. E essas transformações se materializam em pessoas mais
reflexivas, críticas, questionadoras e sensíveis. No fundo, o que queremos é
trocar as realidades sombrias das favelas pela sensibilidade e pela esperança.
POEMAS DE NATANAEL LIMA JR,
FREDERICO SPENCER E CARLOS PENA FILHO
Rumor de
estrelas*
Natanael
Lima Jr
Que
céu permanece
infinito
em nós?
Quem
o enxerga
além
da limitada vista?
Companheiros,
não
se dispersem
na
caminhada incerta,
permitam
ascender mundos,
arrolar
sonhos;
permitam
ascender estrelas,
arrefecer
trevas.
Companheiros,
cada
instante é único
na
caminhada de trôpegos e vacilantes
passos.
Sutilíssima
é
a existência humana:
tudo
transcende
e
tudo germina.
*In “À espera
do último girassol & outros poemas”, 2011.
Um silêncio
habita*
Frederico
Spencer
O
silêncio habita
na
casa quarto e sala
no
coração do homem, seus vazios:
casarios
com suas vozes inventadas
neles
os fantasmas da infância impregnada.
Nas
ruas os silêncios
de
todos os homens
são
fantasmas de um tempo
de
labuta e caliça
fabril,
multiplicada
nas
mãos dos homens
a
manhã acorda amordaçada:
da
noite, que sobrou:
o
cio de sua cadela amada.
*In “Abril
Sitiado”, 2011.
A solidão e
sua porta*
Carlos
Pena Filho (1929 – 1960)
Quando
mais nada resistir que valha
a
pena de viver e a dor de amar
e
quando nada mais interessar
(nem
o torpor do sono que se espalha).
Quando,
pelo desuso da navalha,
a
barba livremente caminhar
e
até Deus em silêncio se afastar
deixando-te
sozinho na batalha
a
arquitetar na sombra a despedida
do
mundo que te foi contraditório,
lembra-te
que afinal te resta a vida
com
tudo que é insolvente e provisório
e
de que ainda tens uma saída:
entrar
no acaso e amar o transitório.
*Transcrito do
livro: Antologia de Antologias. Organizado por Magaly Trindade Gonçalves et
all. São Paulo: Musa Editora Ltda., 1997, p. 497.
Diga aí!
"Mas eu não quero conforto. Eu quero Deus, eu quero a poesia, quero
o perigo real, eu quero liberdade, quero a bondade. Quero pecado". (Aldous Huxley , Admirável Mundo Novo)
Diga lá!
Um Livro, Por Favor!
Reviewed by Natanael Lima Jr
on
09:18
Rating:
Prezado poeta,
ResponderExcluirMuito bom visitar o seu rico espaço literário. Segui-lo será muito interessante.
Espero receber outras vezes sua visita em meu "baú" de escritos e versos. Esta sintonia literária é muito gratificante entre pessoas que amam palavras.
Um abraço das "terras do sem fim" do sul da Bahia.
Genny
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ExcluirSaudações,
Natanael Jr