SEIS POEMAS DE JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO
Postado por DCP I 25 de agosto de 2023
Curadoria: Natanael
Lima Jr.*
José
Inácio Vieira de Melo (1968), alagoano radicado na Bahia, é poeta,
jornalista e produtor cultural.
Publicou
os livros Códigos do silêncio (Salvador: Letras da Bahia, 2000), Decifração
de abismos (Salvador: Aboio Livre Edições, 2002), A terceira romaria
(Salvador: Aboio Livre Edições, 2005), A infância do Centauro (São
Paulo: Escrituras Editora, 2007), Roseiral (São Paulo: Escrituras
Editora, 2010), Pedra Só (São Paulo: Escrituras Editora, 2012), Sete
(Rio de Janeiro: 7Letras, 2015), Entre a estrada e a estrela (Rio de
Janeiro: Mórula Editorial, 2017), Garatujas selvagens (Cajazeiras:
Arribaçã Editora, 2021) e as antologias 50 poemas escolhidos pelo autor
(Rio de Janeiro: Edições Galo Branco, 2011) e O galope de Ulisses (São
Paulo: Editora Patuá, 2014).
Organizou Concerto lírico a quinze vozes – Uma coletânea de novos poetas da Bahia (Salvador: Aboio Livre Edições, 2004), Sangue Novo – 21 poetas baianos do século XXI (São Paulo: Escrituras Editora, 2011) e Concerto lírico – 15 poetas 15 anos depois (Guaratinguetá: Editora Penalux, 2019). Publicou os CDs de poemas A casa dos meus quarenta anos (Salvador: Aboio Livre Edições, 2008) e Pedra Só (Salvador: Aboio Livre Edições, 2013). Foi coeditor da revista literária Iararana (2004 a 2008). Participa das antologias Pórtico Antologia Poética I (Salvador: Pórtico Edições, 2003), Sete Cantares de Amigos (Salvador: Edições Arpoador, 2003), Roteiro da poesia brasileira – Anos 2000 (São Paulo: Global, 2009), Autores Baianos: Um panorama 2 (Salvador: P55 Edição, 2014) Orillas de América Literaria – Poesía Brasileira Contemporánea (Cachoeira: Portuário Atelier Editorial, 2020) e Poemas de amor e guerra (Rio de Janeiro: Villa Olivia, 2020). No exterior, participa das antologias Voix croisées: Brésil-France (Marselha: Autre Sud, 2006), Impressioni d’Italia – Piccola antologia di poesia in portoghese con traduzione a fronte (Nápoles: U.N.O., 2011), En la otra orilla del silencio – Antologia de poetas brasileños contemporáneos (Cidade do México: Unam / Ediciones Libera, 2012), Traversée d’océans – Voix poétiques de Bretagne et de Bahia (Paris: Éditions Lanore, 2012), A Arqueologia da Palavra e a Anatomia da Língua (Maputo, 2013), Mini-Anthology of Brazilian Poetry (Placitas: Malpais Review, 2013) e Tudo é sempre despedida - 50 poetas brasileiros contemporâneos (Maputo, 2022).
Coordenador
e curador de vários eventos literários, como a Praça de Poesia e Cordel,
na 9ª, 10ª e 11ª Bienal do Livro da Bahia (2009, 2011, 2013), em Salvador, o Cabaré
Literário, na I Feira Literária Ler Amado, em Ilhéus (2012), e a Flipelô
– Festa Literária Internacional do Pelourinho (2017 a 2023), em Salvador,
assim como os projetos A Voz do Poeta (2001) e Poesia na Boca da
Noite (2004 a 2007), ambos em Salvador, e Uma Prosa Sobre Versos
(2009 a 2014), na cidade de Maracás-BA. Tem sido convidado, com frequência,
para vários eventos por todo o Brasil.
Em
2018, esteve na Cidade do México, a participar do VIII Festival de Poesía
Las Lenguas de América, representado o Brasil e os países de Língua
Portuguesa, e em Cartagena das Índias, na Colômbia, onde participou dos
festivais de poesia XXII Festival de Poesía de Cartagena e Sílaba de Agua –
Fiesta de la Palabra y las Artes. Recentemente participou do XXVIII
Festival Internacional de Poesía de Bogotá e do XIII PoeMaRío – Festival
Internacional de Poesía en el Caribe, em Barranquilla, Colômbia. Tem poemas
traduzidos para alemão, árabe, espanhol, finlandês, francês, inglês e italiano.
123 Dentre os prêmios conquistados ao longo da sua trajetória, destacam-se o
Prêmio O Capital 2005, com o livro A terceira Romaria, o Prêmio QUEM
2015, da Revista Quem, da editora Globo, na categoria Literatura - Melhor
Autor, com o livro Sete, e o Prêmio de Poesia Hilda Hilst 2021 da UBE -
União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, com o livro Garatujas
Selvagens.
A obra
de José Inácio Vieira de Melo comparece como parte de uma dramaturgia
mítico-filosófica na tese de doutorado de Igor Fagundes, professor doutor de
Poética da Filosofia na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Seus estudos
resultaram no livro Poética na Incorporação – Maria Bethânia, José Inácio
Vieira de Melo e o Ocidente na encruzilhada de Exu (Guaratinguetá: Editora
Penalux, 2016).
Entre
2020 e 2021 foi curador e apresentador da série de saraus virtuais Poesia na
Boca da Noite, veiculada pelo Instagram, em que recebeu, a cada semana, uma
poeta e um poeta, sempre de estados brasileiros diferentes, que se revezavam na
conversa com o anfitrião e apresentavam seus poemas já publicados ou inéditos,
bem como a leitura de obras de outros autores.
SEIS
POEMAS DE JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO SELECIONADOS DO LIVRO O FILHO DO SOL
HABITAT
A minha voz é o cântaro
que enche as fronteiras
e ecoa nos píncaros da lua.
Finco o olhar nos instantes
e acredito na eternidade.
Sou um estrangeiro sem
bússola,
mas a cada movimento que faço
estou sempre a ampliar
espaços.
Eu sou minha casa
e tenho asas.
ROTA INFINITA
Minhas palavras estão sem sono
e o silêncio grita teu nome,
mar que admiro.
Com os sentidos atentos, canto
aos céus,
aguardando teus gestos se
desenvolverem.
E quando chega a noite, tua
estrela cresce
na minha respiração, nas
minhas veias.
A tua imagem entra pelas
minhas retinas
e acende lâmpadas nas minhas
células
e meu animal interior orvalha
poesia.
E todas as sensações vibram
pela caatinga
e sinto viagens que não se
explicam.
O amor tem sempre rota
infinita.
SARÇA ARDENTE
Os incêndios do corpo
revelam a sede de se perder
para assim se descobrir.
Somos templos
que recebem todos os ventos
e saem com eles, por aí,
carregados de incertezas.
Uma vontade ganha forma
e veste o espírito
com uma couraça de luz.
Sim, é preciso acabar
com a brutalidade
dentro das cavernas.
Agora é tempo
de forjar uma novo ser.
TOTEM PARA FRIDA KAHLO
Não há guarda-chuva
que contenha os raios de dor
que esfacelaram
o corpo dessa menina.
Somente nas asas da arte
seus estilhaços se reconhecem
integralmente e são gente.
Somente nas asas da arte
o sofrimento de cada instante
se transfigura em algo maior,
bêbado de beleza.
Sim, Rilke,
toda beleza é terrível!
E a existência de Frida
só foi possível
dentro - ou perpassada -
por essa terrível/trágica
força estética.
Do sofrimento e das
imperfeições
de seu corpo franzino,
Frida ergueu um imensurável
monumento - um totem único
ao povo latino.
O que havia era
a eternidade de uma cama.
Frida preferiu montar em um
cavalete
e com seus matizes galopar
infinitos
e virar chamas.
Frida arde a cada instante.
É dor, é brasa, é sangue.
É cor, é arte, é sonho.
CICLO
Uma mariposa
acende as espadas do voo
sobre o labirinto do silêncio.
Um candeeiro ondula lembranças
e me envolve em espirais
até lançar aurora no meu
povoado
onde cigarras vestidas de
prata
gemem seus violinos eternos.
E do alto daquela serra
sinto o farol que desvanece as
encruzilhadas
e as veredas do meu chão se
abrem
em um manancial de umbuzeiros
e licuris.
E como é boa essa brisa morna!
E como se inscreve na minha
pele
o abraço do arruamento de
garranchos
gravando fundo em minha alma
catingueira
o imenso canto das cigarras.
Agora, já é tarde no meu
povoado.
Sinto os punhais dos
mandacarus
girando na penumbra e se
ajuntando
nas letras deste poema.
Firma-se a noite
e o vento assopra uma canção,
laranjal de estrelas jogando
luz
nas algarobeiras da Terra.
E a Lua é uma cimitarra,
luzeiro fino, luzeiro fino,
cortando a noite em
madrugadas.
SUÍTE DE AMOR, ÓDIO E GUERRA
I
Nesta noite
um canhão tenso
aponta para as entranhas
do meu chão.
Nesta noite,
tenso, penso
em como tudo mudou.
Penso em ti,
penso na cozinha
onde comíamos pão.
E fartos, ficávamos
tranquilos.
Havia tempo para envelhecer.
Agora, nos ronda
uma onda de destruição
e as estrelas não brilham
nem nas novelas.
Esvaziaram nosso sonho.
Conectados ao nada,
assistimos à promoção
do medo
de olhos arregalados.
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Ficha Técnica:
Título: O
filho do sol
Autor: José
Inácio Vieira de Melo
Gênero: Poesia
Ano: 2023
Editora: Mondrongo
Formato: 14 x
21 cm
Preço: R$
42,00
Pedidos: https://www.editoramondrongo.com.br/o-filho-do-sol/p
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*Natanael Lima Jr.
@natanaeljr12
Capricorniano. Pernambucano. Apaixonado por
literatura e livros.
É graduado em Pedagogia.
Pesquisador, produtor cultural,
Editor do site ‘Domingo com Poesia’
– DCP e
da Imagética Edições. Fez a
sua estreia
com a plaquete “Clarear”,
poemas, 1982, Edições Pirata, Recife/PE.
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