10 POEMAS QUE VÃO ILUMINAR O SEU DIA
Postado por DCP em 13/08/2023
Homenagem do site ‘Domingo com Poesia – DCP’ ao DIA DOS PAIS.
Uma pitada de poesia é o suficiente para perfumar um século inteiro
(José Martí)
1
- Envelhecer (Mário Quintana)
Antes, todos os caminhos iam.
Agora, todos os caminhos vêm.
A casa é acolhedora, os livros
poucos.
E eu mesmo preparo o chá para
os fantasmas.
2 - Meu Pai (Ferreira Gullar)
meu pai foi
ao Rio se tratar de
um câncer (que
o mataria) mas
perdeu os óculos
na viagem
quando lhe levei
os óculos novos
comprados na Ótica
Fluminense ele
examinou o estojo com
o nome da loja dobrou
a nota de compra guardou-a
no bolso e falou:
quero ver
agora qual é o
sacana que vai dizer
que eu nunca estive
no Rio de Janeiro
3 - Teus velhos sapatos
manchados de terra (Vinicius de Moraes)
Meu pai,
dá-me os teus velhos sapatos
manchados de terra
dá-me o teu antigo paletó
sujo de ventos e de chuvas
dá-me o imemorial chapéu
com que cobrias a tua
paciência
e os misteriosos papéis
em que teus versos inscreveste.
meu pai,
dá-me a tua pequena
chave das grandes portas
dá-me a tua lamparina de
rolha,
estranha bailarina das
insônias
meu pai, dá-me os teus velhos
sapatos.
4 - O pai (Pablo Neruda)
Terra de semeadura inculta e
brava,
terra que não tem estreitos
nem sendas,
minha vida sob o sol treme e
alarga.
Pai, os teus olhos doces nada
podem,
como nada puderam as estrelas
que me abrasam os olhos e as
fontes.
O mal de amor cegou a minha
vista
e nesta fonte doce do meu
sonho
refletiu-se outra água
estremecida.
Depois… Pergunta a Deus por que
me deram
o que me deram e por que
depois
soube da solidão de terra e
céu.
Olha, minha juventude foi
broto
puro que ficou sem abrir,
perdeu
sua doçura de sangues e de
sucos.
O sol que cai e cai
eternamente
cansou-se de beijá-la… E sendo
outono,
Pai, os teus olhos na podem.
Escutarei na noite tuas
palavras:
menino, meu menino…
e na noite imensa seguirei
com as minhas e as tuas
chagas.
5 - Os Velhos (Carlos Drummond
de Andrade)
Todos nasceram velhos —
desconfio.
Em casas mais velhas que a
velhice,
em ruas que existiram sempre —
sempre
assim como estão hoje
e não deixarão nunca de estar:
soturnas e paradas e
indeléveis
mesmo no desmoronar do Juízo
Final.
Os mais velhos têm 100, 200
anos
e lá se perde a conta.
Os mais novos dos novos,
não menos de 50 — enormidade.
Nenhum olha para mim.
A velhice o proíbe. Quem
autorizou
existirem meninos neste largo
municipal?
Quem infringiu a lei da
eternidade
que não permite recomeçar a
vida?
Ignoram-me. Não sou. Tenho
vontade
de ser também um velho desde
sempre.
Assim conversarão
comigo sobre coisas
seladas em cofre de
subentendidos
a conversa infindável de
monossílabos, resmungos,
tosse conclusiva.
Nem me veem passar. Não me dão
confiança.
Confiança! Confiança!
Dádiva impensável
nos semblantes fechados,
nos felpudos redingotes,
nos chapéus autoritários,
nas barbas de milênios.
Sigo, seco e só, atravessando
a floresta de velhos.
6 - Velhas árvores (Olavo
Bilac)
Olha estas velhas árvores,
mais belas
Do que as árvores moças, mais
amigas,
Tanto mais belas quanto mais
antigas,
Vencedoras da idade e das
procelas…
O homem, a fera e o inseto, à
sombra delas
Vivem, livres da fome e de
fadigas:
E em seus galhos abrigam-se as
cantigas
E os amores das aves
tagarelas.
Não choremos, amigo, a
mocidade!
Envelheçamos rindo.
Envelheçamos
Como as árvores fortes
envelhecem,
Na glória de alegria e da
bondade,
Agasalhando os pássaros nos
ramos,
Dando sombra e consolo aos que
padecem!
7 - Páscoa (Adélia Prado)
Velhice
é um modo de sentir frio que
me assalta
e uma certa acidez.
O modo de um cachorro
enrodilhar-se
quando a casa se apaga e as
pessoas se deitam.
Divido o dia em três partes:
a primeira pra olhar retratos.
A segunda pra olhar espelhos,
a última e maior delas, pra
chorar.
Eu, que fui louca e lírica,
não estou pictural.
Peço a Deus,
em socorro da minha fraqueza,
abrevie esses dias e me
conceda um rosto
de velha mãe cansada, de avó
boa,
não me importo. Aspiro mesmo
com impaciência e dor.
Porque sempre há quem diga
no meio da minha alegria:
“põe o agasalho”
“tens coragem?”
“por que não vais de óculos?”
Mesmo rosa sequíssima e seu
perfume de pó,
quero o que desse modo é doce,
o que de mim diga: assim é.
Pra eu parar de temer e posar
pra um retrato,
ganhar uma poesia em
pergaminho.
8 - Pior Velhice (Florbela
Espanca)
Sou velha e triste. Nunca o
alvorecer
Dum riso são andou na minha boca!
Gritando que me acudam, em voz
rouca,
Eu, Náufraga da Vida, ando a
morrer!
A Vida, que ao nascer, enfeita
e touca
D’alvas rosas a fronte da
mulher,
Na minha fronte mística de
louca
Martírios só poisou a
emurchecer!
E dizem que sou nova… A
mocidade
Estará só, então, na nossa
idade,
Ou está em nós e em nosso
peito mora?!…
Tenho a pior velhice, a que é
mais triste,
Aquela onde nem sequer existe
Lembrança de ter sido nova…
outrora…
9 - Envelhecer (Hermann Hesse)
(…)
Para os velhos é bom e são
Borgonha tinto ao pé da
lareira,
E depois uma morte ligeira –
Porém só mais tarde, hoje não!
10 – A voz do meu pai (Manoel
de Barros)
Abro os olhos.
Não vejo mais meu pai.
Não ouço mais a voz de meu
pai.
Estou só. Estou simples.
Não como essa poderosa voz da
terra
com que me estás chamando, pai
—
porque as cores se misturam
em teu filho ainda
e a nudez e o despojamento
não se fizeram em seu canto;
mas, simples por só acreditar
que com meus passos incertos
eu governo a manhã
feito os bandos de andorinha
nas frondes do ingazeiro.
APLAUSOS MEU QUERIDO TIMONEIRO DO NOSSO DOMINGO COM POESIA! Os poemas homenageando este Domingo Dia do Pais foram escolhidos a dedo e merece nossa Reverência! Abraço forte e Saudoso aos Pais que já estão festejando no Céu! Bom domingo para todos que fazem acontecer nosso DOMINGO COM POESIA!
ResponderExcluirObg pelo comentário e visita ao site. Forte abs
ExcluirExcelente seleção, obg poeta. Abs, Neilton
ResponderExcluirGratidão mestre
ExcluirAmei a seleção dos poemas. Parabéns! Feliz Dia dos Pais!
ResponderExcluirQue bom q vc gostou! Volte sempre!
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