QUATRO GRANDES POETAS MARANHENSES
Postado
por DCP I em 13/06/2023
Por
Natanael Lima Jr.*
Poesia
para quê? Eis a instigante indagação que paira nestes tempos de informações
descartáveis, tempos duros, obscuros. Objeto de contemplação para alguns, de
desafeição por outros, a poesia segue o seu fanal. Quem se interessaria ainda
por ela? Críticos e alguns poucos poetas têm defendido a necessidade da sua
existência, como resposta a tais indagações. A poesia resiste hoje, ontem, no
futuro, resistirá sempre “para melhorar o homem”, como dissera o poeta
Octavio Paz, e ainda como afirmara Sophia de Mello Breyner Andresen, “A
poesia é das raras atividades humanas que, no tempo atual, tentam salvar uma
certa espiritualidade. A poesia não é uma espécie de religião, mas não há
poeta, crente ou descrente, que não escreva para a salvação da sua alma – quer
essa alma se chame amor, liberdade, dignidade ou beleza.”
Na busca
da afirmação desses propósitos, o site Domingo com Poesia – DCP reúne um
grupo especial de poetas maranhenses que marcaram época no cenário literário
brasileiro. Quatro grandes e notáveis poetas: Gonçalves Dias, Sousândrade,
Raimundo Correia e Ferreira Gullar.
Gonçalves
Dias, nasceu
Antônio Gonçalves Dias, em 10 de agosto de 1823, em Caxias, Maranhão. Foi um
poeta, professor, jornalista e teatrólogo brasileiro. É lembrado como o grande
poeta indianista da Primeira Geração Romântica. É Patrono da cadeira nº 15 da
Academia Brasileira de Letras. Escreveu a maior parte de suas obras, inclusive
a famosa “Canção do exílio” (1846), na qual expressa o sentimento da solidão e
do exílio. Faleceu no dia 3 de novembro de 1864, em Guimarães, Maranhão; Joaquim
de Souza Andrade, conhecido por Sousândrade, nasceu em 9 de julho de
1833, em Guimarães, Maranhão. Foi um importante escritor e poeta brasileiro. Formou-se
em Letras pela Sorbonne, em Paris, onde fez também o curso de engenharia de
minas, viveu também por muitos anos em Nova York (EUA). Publicou o seu primeiro
livro de poesia “Harpas selvagens” (1857) e o seu mais importante livro “O
Guesa” (1871). Faleceu em São Luís, Maranhão; Raimundo Correia,
registrado com o nome de Raimundo da Mota de Azevedo Correia, nasceu em 13 de maio
de 1859, em São Luís, Maranhão. Foi um destacado magistrado, professor,
diplomata e poeta. Publicou o seu primeiro livro de poesia “Primeiros sonhos”
(1879), com características ligadas ao Romantismo. No tocante ao seu segundo
livro “Sinfonias” (1883), com nítidas características parnasianas. Segundo os
cânones dessa escola, ele foi um dos mais notáveis da nossa língua, formando
com Alberto de Oliveira e Olavo Bilac a famosa Trindade Parnasiana. Ele foi o
primeiro ocupante da cadeira nº 5 da Academia Brasileira de Letras. Faleceu em
13 de setembro de 1911, em Paris, França; Ferreira Gullar é o pseudônimo
de José de Ribamar Ferreira, nasceu em São Luís do Maranhão em 10 de setembro
de 1930. Foi um notável poeta, ensaísta, memorialista, biógrafo, tradutor e
crítico de arte. Gullar foi admirado e reverenciado por inúmeros poetas
brasileiros de sua geração. Vinícius de Moraes declarou que o seu “Poema sujo”
foi “o mais importante poema escrito no Brasil (e não só no Brasil) nos últimos
dez anos, pelo menos”. Publicou inúmeros livros. Recebeu os mais destacados
Prêmios, entre eles: Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (1976),
Prêmio Machado de Assis (2005), Prêmio Camões (2010), Prêmio ABL de Literatura
Infantojuvenil (2011), Grã-Cruz da Ordem do Mérito Cultural (2016), Magnum opus
“Poema sujo” (1976). Ocupou a cadeira nº 37 da Academia Brasileira de Letras.
Faleceu em 4 de dezembro de 2016, aos 86 anos, no Rio de Janeiro.
QUATRO POEMAS DE GONÇALVES DIAS, SOUSÂNDRADE, RAIMUNDO CORREIA E
FERREIRA GULLAR
MINHA
TERRA
Gonçalves
Dias
Quanto é
grato em terra estranha
Sob um
céu menos querido,
Entre
feições estrangeiras,
Ver um
rosto conhecido;
Ouvir a
pátria linguagem
Do berço
balbuciada,
Recordar
sabidos casos
Saudosos
— da terra amada!
E em
tristes serões d'inverno,
Tendo a
face contra o lar,
Lembrar o
sol que já vimos,
E o nosso
ameno luar!
Certo é
grato; mais sentido
Se nos
bate o coração,
Que para
a pátria nos voa,
P'ra onde
os nossos estão!
Depois de
girar no mundo
Como
barco em crespo mar,
Amiga
praia nos chama
Lá no
horizonte a brilhar.
E vendo
os vales e os montes
E a
pátria que Deus nos deu,
Possamos
dizer contentes:
Tudo isto
que vejo é meu!
Meu este
sol que me aclara,
Minha
esta brisa, estes céus:
Estas
praias, bosques, fontes,
Eu os
conheço — são meus!
Mais os
amo quando volte,
Pois do
que por fora vi,
A mais
querer minha terra,
E minha
gente aprendi.
Paris,
1864
GUESA
ERRANTE
Sousândrade
Canto
Terceiro
As
balseiras na luz resplandeciam
oh! que
formoso dia de verão!
Dragão
dos mares, na asa lhe rugiam
Vagas, no
bojo indômito vulcão!
Sombrio,
no convés, o Guesa errante
De um
para outro lado passeava
Mudo,
inquieto, rápido, inconstante,
E em
desalinho o manto que trajava.
A fronte
mais que nunca aflita, branca
E pálida,
os cabelos em desordem,
Qual o
que sonhos alta noite espanca,
"Acordem,
olhos meus, dizia, acordem!"
E de
través, espavorido olhando
Com olhos
chamejantes da loucura,
Propendia
p'ra as bordas, se alegrando
Ante a
espuma que rindo-se murmura:
Sorrindo,
qual quem da onda cristalina
Pressentia
surgirem louras filhas;
Fitando
olhos no sol, que já s'inclina,
E rindo,
rindo ao perpassar das ilhas.
- Está
ele assombrado?... Porém, certo
Dentro
lhe idéia vária tumultua:
Fala de
aparições que há no deserto,
Sobre as
lagoas ao clarão da lua.
Imagens
do ar, suaves, flutuantes,
Ou
deliradas, do alcantil sonoro,
Cria
nossa alma; imagens arrogantes,
Ou qual
aquela, que há de riso e choro:
Uma
imagem fatal (para o ocidente,
Para os
campos formosos d'áureas gemas,
O sol,
cingida a fronte de diademas,
índio e
belo atravessa lentamente):
Estrela
de carvão, astro apagado
Prende-se
mal seguro, vivo e cego,
Na
abóbada dos céus, negro morcego
Estende
as asas no ar equilibrado.
AS POMBAS
Raimundo
Correia
Vai-se a
primeira pomba despertada...
Vai-se
outra mais... mais outra... enfim dezenas
Das
pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia
sanguínea e fresca a madrugada.
E à
tarde, quando a rígida nortada
Sopra,
aos pombais, de novo elas, serenas,
Ruflando
as asas, sacudindo as penas,
Voltam
todas em bando e em revoada...
Também
dos corações onde abotoam
Os
sonhos, um a um, céleres voam,
Como voam
as pombas dos pombais;
No azul
da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas
aos pombais as pombas voltam,
E eles
aos corações não voltam mais.
CANTIGA
PARA NÃO MORRER
Ferreira
Gullar
Quando
você for se embora,
moça
branca como a neve,
me leve.
Se acaso
você não possa
me
carregar pela mão,
menina
branca de neve,
me leve
no coração.
Se no
coração não possa
por acaso
me levar,
moça de
sonho e de neve,
me leve
no seu lembrar.
E se aí
também não possa
por tanta
coisa que leve
já viva
em seu pensamento,
menina
branca de neve,
me leve
no esquecimento.
*Natanael Lima Jr. é capricorniano, poeta, pedagogo, pesquisador, editor da Imagética Edições e do site Domingo com Poesia - DCP
Quatro fabulosos poetas que se destacam na história da Literatura Brasileira! Parabéns DCP.
ResponderExcluir