LUIS MANOEL SIQUEIRA: AS MÃOS QUE ESCONDEM O CHORO
Postado por DCP em 29|05|2022
AS
MÃOS QUE ESCONDEM O CHORO*
Quando
conheci MacCoy, sentado num banco de praça, tinha as mãos nos olhos escondendo
o choro. Então parei o avião e desci. O tempo estava escuro no altar da igreja
do amor perdido, como se fosse assim o Adeus Claridade chegando. Eu fiquei com
o coração apertado. E só tinha aquele avião carregado de lixo. Nada de um
consolo. Então eu disse:
-
Chore não, MacCoy. O Alamem ainda está longe. Venha comigo que eu vou lhe
proteger dos seus inimigos!
Aí
levei pra debaixo do viaduto, pois a praça estava cercada de feras malfeitoras.
O Dedício me ajudou com as cobertas e uma sopa quente de carne boa. Comprei
pão. Depois fiquei comprando biscoitos pelos dias vante pra não ver mais choro.
De águas bastavam as do Potengi. Do Rio São Francisco. Da pia do padre Suzano.
Água
foi quem afogou Maria de vestido e tudo. Virou sargaço e saudade no caminho de
Alamem. O professor dos pescadores falava disso tudo. Mostrava no mapa as
coisas bonitas do mundo, antes de se desenganar e ir embora também, pois todo
mundo um dia encontra seu caminho de um jeito ou de outro.
MacCoy
ficou morando comigo e Dedício debaixo do viaduto, e nunca mais inimigo nenhum
perseguiu. Nunca mais escondendo os olhos chorando. Toda guerra precisa
coragem. Toda ela!
Um
dia encontrei um urso pequeno e macio. Botei no avião e trouxe pra MacCoy. O
coronel do primeiro andar viu. Foi um dia alegre na minha vida, Jum! Passei a
noite toda cantando os cajueiros floridos.
*Texto
extraído do livro Farewell Acaju, Recife, PE: Ed. Coqueiro, 2016.
Luis
Manoel Siqueira é escritor e geólogo pernambucano.
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