ÁLVAREZ DE AZEVEDO E NATIVIDADE SALDANHA – FRENTE A FRENTE
Por DCP em 12/09/2021
Álvarez
de Azevedo
nasceu em São Paulo, em 12 de setembro de 1831. Foi um destacado escritor da
segunda geração romântica. Foi poeta, dramaturgo, contista, ensaísta e expoente
da literatura gótica brasileira. É patrono da Cadeira nº 2 da Academia Brasileira
de Letras. Seus poemas retratam seu mundo interior, foi conhecido como o poeta
da dúvida. Devido a sua morte prematura, todos os trabalhos de Álvares de
Azevedo foram publicados postumamente. A sua obra compreende: Poesias diversas, Poema do Frade, O Drama
Macário, o romance O Livro de Fra
Gondicário, Noite na Taverna, Cartas, vários Ensaios (incluíndo
"Literatura e Civilização em Portugal", "Lucano",
"George Sand" e "Jacques Rolla") e Lira dos Vinte Anos. Escreveu muitas cartas e ensaios, traduziu
para o português o poema “Parisina”,
de Lorde Byron, e o quinto ato de “Otelo”
de William Shakespeare. Suas principais influências foram: Goethe, François-René de
Chateaubriand, mas principalmente Alfred
de Musset.
Machado de Assis publicou na coluna “Semana Literária” do jornal Diário do
Rio de Janeiro de 26 de junho de 1866 uma análise da Lira dos Vinte Anos. Ali escreveu: “Álvares de Azevedo era realmente um grande talento; só lhe faltou o
tempo, como disse um dos seus necrólogos. [...] Era daqueles que o berço vota à
imortalidade. Compare-se a idade com que morreu aos trabalhos que deixou, e
ver-se-á que seiva poderosa não existia naquela organização rara. Em tão curta
idade, o poeta da Lira dos vinte anos deixou documentos valiosíssimos de um
talento robusto e de uma imaginação vigorosa. Avalie-se por aí o que viria a
ser quando tivesse desenvolvido todos os seus recursos”.
Azevedo faleceu no Rio de Janeiro, em
25 de abril de 1852, aos 20 anos de idade.
Natividade
Saldanha
nasceu em Santo Amaro do Jaboatão (PE), em 8 de setembro de 1796. Foi poeta,
advogado, músico e ativista político. Formou-se em Direito na Universidade de
Coimbra. Retornando ao Recife abriu um escritório de advocacia, passou a sofrer
perseguição do governo brasileiro, foi expulso do país e refugiou-se na
Inglaterra e depois na Venezuela. Sobre a sua morte há várias versões, entre
elas: que morreu em Cali (Colômbia) fuzilado; que morreu afogado em uma vala em
Bogotá; que desapareceu após uma sessão de júri onde estaria sendo julgado e
que morreu em Caracas (Venezuela). Foi professor de humanidades em Bogotá.
Escrevia textos poéticos sobre feitos e figuras da época, contando as glórias
de Pernambuco. Patrono da Cadeira nº 5 da Academia Pernambucana de Letras. Suas
principais obras: Poemas oferecidos aos amigos e amantes do
Brasil (1822); Discurso sobre a
tolerância (1826); Poesias
(1875).
Baseado em alguns raros registros sobre a sua
vida, Natividade Saldanha faleceu no ano de 1830, provavelmente em Bogotá (Colômbia),
aos 34 anos.
ÁLVAREZ DE AZEVEDO E NATIVIDADE SALDANHA – FRENTE A
FRENTE
Soneto
Álvarez
de Azevedo
Pálida,
à luz da lâmpada sombria,
Sobre
o leito de flores reclinada,
Como
a lua por noite embalsamada,
Entre
as nuvens do amor ela dormia!
Era
a virgem do mar! Na escuma fria
Pela
maré das águas embalada!
Era
um anjo entre nuvens d´alvorada
Que
em sonhos se banhava e se esquecia!
Era
mais bela! O seio palpitando...
Negros
olhos as pálpebras abrindo...
Formas
nuas no leito resvalando...
Não
te rias de mim, meu anjo lindo!
Por
ti - as noites eu velei chorando,
Por
ti - nos sonhos morrerei sorrindo!
Aos filhos da Pátria
Natividade
Saldanha
Filhos
da Pátria, jovens brasileiros
Que
as bandeiras seguis do márcio nume
Lembrem-vos
Guararapes, e esse cume,
Onde
brilharam Dias e Negreiros!
Lembrem-vos
esses golpes tão certeiros,
Que
às mais cultas Nações deram ciúme,
Seu
exemplo segui, segui seu lume,
Filhos
da Pátria, jovens brasileiros.
Esses,
que alvejam campos, níveos ossos,
Dando
a vida por vós constante e forte,
Inda
se prezam de chamar-se nossos.
Ao
fiel cidadão prospera a sorte
Sejam
iguais aos seus os feitos vossos
Imitais
vossos pais até na morte.
Adeus, meus sonhos
Álvarez
de Azevedo
Adeus,
meus sonhos, eu pranteio e morro!
Não
levo da existência uma saudade!
E
tanta vida que meu peito enchia
Morreu
na minha triste mocidade!
Misérrimo!
Votei meus pobres dias
À
sina doida de um amor sem fruto,
E
minh’alma na treva agora dorme
Como
um olhar que a morte envolve em luto.
Que
me resta, meu Deus? Morra comigo
A
estrela de meus cândidos amores,
Já
não vejo no meu peito morto
Um
punhado sequer de murchas flores!
Soneto
Natividade Saldanha
Se no seio da pátria
carinhosa,
Onde sempre é
fagueira a sorte dura,
Inda lembras, e
lembras com ternura,
Os meigos dias da
união ditosa;
Se entre os doces
encantos de que goza
Teu peito divinal,
tua alma pura
Suspiras por um
triste e sem ventura,
Que vive em solidão
cruel, penosa;
Se lamentas com mágoa
a minha sorte,
Recebe estes meus
ais, oh minha amante,
Talvez núncios fiéis
da minha morte.
E se mais nós não
virmos, e eu distante
Sofrer da parca dura
o férreo corte:
Amou-me, dize então,
morreu constante.
Natividade Saldanha é patrono da cadeira que ocupo na APL. Muito me alegra a homenagem.
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