DÉCIO PIGNATARI E PAULO LEMINSKI – FRENTE A FRENTE
Postado por DCP em 22/08/2021
Décio
e Leminski – frente a frente no DCP
Fotos:
reprodução I Arte: DCP
O DCP
traz mais um grande encontro com notáveis poetas brasileiros que marcaram época
no cenário literário nacional. Décio
e Leminski são dois emblemáticos
nomes, que juntamente com os irmãos Campos, Haroldo e Augusto, conseguiram
desenvolver poemas visuais, que associam o lirismo a um tom plurissignificativo
e, às vezes, satírico e crítico.
Décio Pignatari foi um poeta e ensaísta brasileiro. Um dos mais importantes poetas do movimento concretista. Foi também professor, teórico da comunicação e tradutor. Nasceu em Jundiaí, São Paulo, no dia 20 de agosto de 1927. Filho de imigrantes italianos, ainda pequeno mudou-se com a família para a cidade de Osasco, onde passou sua infância e adolescência. Em 1948 ingressou no curso de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
As primeiras poesias de Décio foram publicadas na "Revista Brasileira de Poesia", em 1949. Sua estreia na literatura se deu com a publicação do livro "Carrossel", em 1950. Em 1952, Décio Pignatari, Haroldo e Augusto resolvem fundar um órgão de imprensa que registrasse a nova poesia - o Concretismo, com a inauguração da revista "Noigandres", que na primeira edição, os três defendiam uma nova forma de poesia, com a palavra pensada em todas as dimensões – semântica, sonora e visual.
Entre suas obras poéticas destacam-se: “Poesia/Pois É/Poesia”, “Terra”, “Dollar/Cristo” e “Coca Cola”, onde denuncia o domínio de uma fórmula sobre as massas e, a ironia é a chave do poeta no anagrama: beba coca cola / babe cola / beba coca / babe cola caco / caco / cola / cloaca.
Faleceu em São Paulo, no dia 2 de dezembro de 2012, aos 85 anos.
Paulo Leminski [Filho] nasceu na cidade de Curitiba, Paraná, em 24 de Agosto de 1944. Filho de Paulo Leminski e Áurea Pereira Mendes. Foi poeta, escritor, crítico literário, letrista. Sua poesia deixou marcas, porque ele inventou uma maneira própria de escrever (trocadilhos, brincadeiras, ditados populares e influência do haicai), como também se utiliza muito das gírias de uma forma bem criativa.
Leminski recebe influencias dos poetas modernos franceses, Mallarmé, Rimbaud e vários outros que vivenciaram posturas de ruptura, além de que o poeta é formado em um contexto de contracultura de resistência. Essa resistência mostra um elemento que segue para o espírito das vanguardas (concretismo). Podemos citar as posturas marginais que encontramos em seus poemas.
Entre as suas obras, destaca-se “Catatau” (1975), um livro emblemático, considerado “maldito” marcado por exacerbado experimentalismo linguístico e narrativo.
Faleceu em 7 de junho de 1989, na mesma cidade em que nasceu, aos 45 anos.
DÉCIO PIGNATARI E PAULO LEMINSKI – FRENTE A FRENTE NO DCP
[quando
eu tiver setenta anos]
Paulo Leminsky
quando eu tiver
setenta anos
então vai acabar esta
adolescência
vou larga da minha
vida louca
e terminar minha
livre-docência
vou fazer o que meu
pai quer
começar a vida com
passo perfeito
vou fazer o que minha
mãe deseja
aproveitar as
oportunidades
de virar um pilar da
sociedade
e terminar meu curso
de direito
então ver tudo em sã
consciência
quando acabar esta
adolescência
beba coca
cola
babe cola
beba coca
babe coca
caco
caco
cola
cloaca
*Décio
Pignatari
Incenso
fosse música
Paulo Leminski
isso de querer ser
exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além
torre
de babel (1960)
Décio Pignatari
TORRE DE BABEL
TORRE DE BELÉM
TURRIS EBURNEA
TOUR EIFFEL
TOUR DE FORCE
TOWER OF LONDON
TOUR DE NESLE
TORRE DI PISA
TORRE A ESMO
ENEREATLRIE
TBOIOCRDEFO
EARREEDBTSF
RRUSIOSOEEO
OTEBEDTTALO
ULORBTEOAOF
ROOSLNRRETE
MNPDERFRRLM
ETDEUWEREIN
URUD
Dor
elegante
Paulo Leminski
Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Com se chegando
atrasado
Chegasse mais adiante
Carrega o peso da dor
Como se portasse
medalhas
JANEIRO/FEVEREIRO
Décio Pignatari
Calendário Philips 1980
Nem só a cav
idade da boca
Nem só a língua
Nem só os dentes
e os lábios
fazem a língua
Ouça
as mãos
tecendo a língua
e sua linguagem
É a língua
têxtil
O texto
que sai das
mãos
sem palavras
Uma coroa, um milhão
de dólares
Ou coisa que os valha
Ópios, édens,
analgésicos
Não me toquem nesse
dor
Ela é tudo o que me
sobra
Sofrer vai ser a
minha última obra.
Parada
cardíaca
Paulo Leminski
Essa minha secura
essa falta de sentimento
não tem ninguém que
segure,
vem de dentro.
Vem da zona escura
donde vem o que
sinto.
Sinto muito,
sentir é muito lento.
Amor, então,
também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se
encarrega
de transformar em
raiva.
Ou em rima.
Gostei bastante de sua ideia de criar um diálogo entre Pignatari e Leminski. Genial!
ResponderExcluirA proposta é essa, trazer uma pequena mostra dialógica da produção literária desses grandes vates.
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