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O BAILE DE LUZ DE CLÁUDIO AGUIAR

 

Postado por DCP em 20/06/2021

[Curadoria de Natanael Lima Jr.]









Cláudio Aguiar é escritor, poeta e Doutor

pela Universidade de Salamanca (Espanha)

Foto: Reprodução









O livro Baile de Luz, Ibis Libris, Rio de Janeiro, 2019, com magistral prefácio da escritora, poetisa e Doutora de Arte e Filosofia (RJ), Mirian de Carvalho. A obra é uma emocionante viagem poética, uma rica coletânea de imagens, memórias, emoções e alumbramentos. Sonetos maravilhosos, domínio maduro da palavra. Um lirismo que verbera a subjetividade de um poeta singular.

 

O ritmo dessa balada de luz nos traz claridade e encantamento: “A poesia que nos ensina a ver como se víssemos pela primeira vez, a subverter permanentemente o já visto”.

 

Muitos foram os poemas aqui lidos e meditados, neste seu deslumbrante Baile de Luz: “Balada dos últimos arcanjos”, “Ode ao fogo”, “Testemunho”, “A caminho de Porto”, “Pesadelo de vassalo”, “Ausência”, “Murano ao entardecer”, “O cativo”, “O vento e a pedra”, “Floresta dourada”, “Arma passional”, “Alegorias dispersas”, “Os seres e as sombras”, “Da amorosa contradição”, “Tourada”, “Conselhos”, entre tantos, e o iluminado poema homônimo “Baile de Luz”, que “da claridade a luz dançando aflora / antes que cheque o fim que nos devora”.

 

Cláudio Aguiar é cearense, formado pela Faculdade de Direito do Recife e Doutor pela Universidade de Salamanca (Espanha). Pertence a várias entidades literárias e culturais brasileiras, entre as quais de destacam a Academia Pernambucana de Letras, Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e a Academia Carioca de Letras. Presidiu a Fundação Miguel de Cervantes de Apoio à Pesquisa e à Leitura da Biblioteca Nacional e é o atual presidente do PEN Clube do Brasil. Publicou cerca de trinta livros nos gêneros de romance, teatro e ensaio. Tem livros traduzidos e publicados em russo, francês e espanhol. Baile de Luz é o seu terceiro livro de poemas. 





CINCO POEMAS SELECIONADOS DO LIVRO BAILE DE LUZ
















BAILE DE LUZ

 

Acordado ou dormindo os sonhos meus

trazem cheiro de éter, sem lembranças,

enquanto os ventos sopram pelo céu,

engravidando as últimas manhãs.

Perdida a rota, fecho os olhos sãos

e o espaço evola o riso dos falseios

para que surjam todos gestos vãos

dos que não sabem vir do extremo ao meio.

E de repente os olhos são fechados;

da claridade a luz dançando aflora

antes que chegue o fim que nos devora.

Invisível arpão dos enforcados,

vem libertar quem pensa estar já salvo

do estertor que reclama um longo salmo!

 

 

TESTEMUNHO

 

Ao lado vejo a imagem clara e nua

que caminha no bosque à sombra tua.

Não tens no corpo nenhuma ferida,

porque já retornaste à plena vida.

Hoje aprendi, com passos sobre a rua,

que ali morreram deusas, sonhos, lua,

talvez ornados, prontos pra partida,

matéria solta, livre da guarida.

Um dia, quando o tempo mais passar,

entenderás o que te vou dizer,

pois a mim não mais sonhos só virão

criar fantasmas, monstros rebrotar,

porque no fogo corpos vêm trazer

nossas almas em longa combustão.

 

 

A CAMINHO DE PORTO

 

A Lucila Nogueira

 

Parrerais, parrerais!

Me abrigo no teu verde,

no entanto quero mais.

 

Estão em todos os sentidos,

galhardamente alegres,

germinais e estendidos.

 

Parrerais, parrerais!

andando pelo Vouga,

não quero chegar jamais.

 

Verdes vinhas, verdes são

os caminhos dos teus vinhos,

como os sonhos que me dão.

 

 

AUSÊNCIA

 

Não são ausentes os que estão fora de nós,

mas os que não podem sair de nossa mente;

ou os que amamos no passado e hoje, sós,

não conseguimos esquecê-los no presente.

Um dia vi um, dois, três, muitos, talvez mil

rostos alegres, sorrindo com a manhã.

Então os preservei na lembrança infantil

como se não tivesse fim aquele afã

de pensar que na vida nada vai mudar.

Porém, como é tristonho comprovar com anos,

que o rosto de criança deixa de sorrir

e vemos que tudo é somente um repassar

de sonhos ou um somar de muitos desenganos,

até que a morte vem e diz: “Tu vais partir”.

 

 

PESADELO DE VASSALO

 

A Ângelo Monteiro

 

Ah! Se hoje eu fosse nomeado rei,

pelo congresso ou por alguma lei,

os meus amigos não os contaria,

nem a mão sobre a caneta eu poria.

Ah! Se hoje eu fosse nomeado rei,

sem o congresso ou sem ouvir a grei,

até meus passos alguém contaria

e o mundo sem vontades criaria,

iam adivinhar todos os meu gostos.

Ah! Se hoje eu fosse nomeado rei,

pelo congresso ou por alguma lei,

pessoas ficariam sem os rostos,

nem sei do meu o que seria feito,

até de rir eu perderia o jeito.





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