ZÉ DANTAS: 100 anos do maior Compositor Gonzaguiano
Por
Ivaldo Batista*
Postado
por DCP em 21/02/2021
Peço
a Deus que me dê inspiração
Pra
lembrar em versos que faz 100 anos
Que
nasceu um desses pernambucanos
Um
dos filhos ilustres do sertão
Que
representou bem a região
O
Nordeste se sente envaidecido
Por
esse talento reconhecido
E
o legado que ele nos deixou.
O
que Doutor Zé Dantas receitou
Através
de Gonzaga tenho ouvido.
Natural
de Carnaíba das Flores
Situada
no Alto Pajeú
Solo
onde reina o Mandacaru
Deu-nos
o maior dos compositores
Gonzagão
foi servido de valores
Os
doutores escalados no Baião
Executaram
bem essa missão
Mas
ZÉ DANTAS foi quem se destacou.
Tudo
que doutor Zé Dantas criou
Gonzagão
cantou pra nossa nação.
Esse
gênio nasceu em Fevereiro
Que
é mês de carnaval e confete
Seu
registro, diz dia Vinte e Sete
Sou
tiete desse nobre guerreiro
Pernambuco,
Estado Brasileiro
Tem
orgulho de vê esse menino
Que
nasceu e cresceu tão nordestino
Em
Mil Novecentos e Vinte e um.
Com
um talento raro incomum
Só
podia ser obra do divino.
É
Seu José de Souza Dantas Filho
Nome
do cidadão carnaubano
Como
pernambucano me ufano
De
vermos nessa estrela tanto brilho
Com
vocês esses versos eu compartilho
A
fim de resgatar sua memória
Ele
é referência e fez História
Um
exemplo para toda nação.
Revelado
por nosso Gonzagão
Um
e outro já partiram pra glória.
Falando
sobre os seus genitores
Seu
pai foi importante fazendeiro
JOSÉ
DE SOUZA DANTAS, homem ordeiro
Ex
prefeito da cidade de Flores
Comerciante
cheio de valores
Da
burguesia rural nordestina
Que
queria o filho na medicina
Sua
mãe Josefina Alves Siqueira.
Dona
“Santu” Uma mulher guerreira
Esses
pais decidiram a sua sina.
Zé
Dantas Filho deixou Carnaíba
Foi
morar lá perto do litoral
Mudou
pra estudar na capital
Desce
lá de riba feito um escriba
Nessa
arte não há quem o proíba
A
vontade da família foi feita
Veio
estudar pra passar receita
Chegou
ao Recife com Nove anos.
Estudou
mas traçou também seus planos
Nossa
gente se deu por satisfeita.
Dos
colégios que ele frequentou
Em
Recife tem Nóbrega e Marista
Também
o Americano Batista
Onde
José Dantas Filho estudou
Com
dezessete anos ele criou
Compôs
Xote, Toadas e Baião
Era
grande a sua produção
Do
modo nordestino e brejeiro.
Crônicas
do Folclore brasileiro
Tá
presente em sua composição.
Seus
trabalhos eram sempre mostrados
Pelo
colégio em uma revista
Era
no Americano Batista
Onde
seus textos eram publicados
Os
costumes nordestinos narrados
Ali
treinava um compositor
Com
toda liberdade pra compor
Sem
jamais esquecer sua missão.
Ele
só veio de lá do sertão
Pra
cidade estudar e ser doutor.
Seu
Zé Dantas nasceu pra ser artista
Revelado
ainda de menor
Afirmou
Armando Souto Maior
Esse
excepcional folclorista
Que
foi seu colega lá no Marista
Testemunhou
Zé Dantas batucando
Uma
caixa de fósforos usando
E
compondo ali de improviso.
Vinha
dos corredores esse aviso
Um
compositor está se formando.
Essa
etapa da vida então termina
Ele
corre atrás do ideal
Pari
passu a vida musical
Ingressou
no curso de Medicina
Como
sua família determina
O
pai dele jamais quis aceitar
Vê
o filho na música atuar
Mas
um dia mudou de opinião.
Depois
que conversou com Gonzagão
Eu
conheço quem pode confirmar.
Precisava
estudar e ser doutor
Seguiu
firme o curso de Medicina
O
destino quem sabe vaticina
Determina
o improvisador
José
Dantas seguiu compositor
Ali
no meio Universitário
A
despeito do pai que era agrário
Nessa
área ele foi se envolvendo.
O
doutor nessa arte foi crescendo
E
a vida lhe deu outro cenário.
Mil
novecentos e quarenta e sete
Fica
aqui registrado no cordel
Que
Zé Dantas foi vê no grande hotel
O
Rei do Baião que era manchete
Recebeu
de Zé Dantas e promete
Aproveitar
sua composição
Que
em breve fará a gravação
Ao
gravar, foi um sucesso total
Nasceu
a parceria ideal
De
Zé Dantas com o Rei do baião.
Forró
de MANÉ VITOR e Vem MORENA
Zé
Dantas viu suas composições
Agradarem
em cheio as multidões
Pra
alegria do amor de Helena
Que
pra o doutor Zé Dantas acena
As
duas canções que foram gravadas
Já
estavam por demais aprovadas
Consagrando
Zé Dantas o autor.
E
o Rei do Baião, grande cantor
Uma
das parcerias consagradas.
O
curso de Zé Dantas terminou
Em
Quarenta e Nove ele saiu
Cursou
Medicina e concluiu
Pra
o Rio ele logo se mudou
Em
Cinquenta quando por lá chegou
Procurou
explorar a sua arte
Do
mundo artístico ele é parte
Participou
de Shows e gravações
Com
Gonzaga e outras produções
Seu
Zé Dantas tornou-se estandarte.
Lá
no Rio foi fazer residência
No
Hospital que é dos Servidores
Era
um dos neófitos doutores
Destacou-se
por sua inteligência
Logo
provando sua competência
Quando
teve concurso aproveitou
Preparou-se
no teste e passou
E
entrou pra o quadro efetivo.
Nesse
hospital foi gestor ativo
Nem
com isso, seu dom abandonou.
Em
Recife lá na Rádio Jornal
Em
Cinquenta, ele pode estrear
E
no Rio também pode atuar
No
Programa na Radio Nacional
“Na
Hora do Baião” foi tão legal
Ouvir
muitos causos do contador
De
personagens foi imitador
Revelou
contos do Nordeste pobre
No
programa em um horário nobre
Tava
ali o doutor compositor.
Sobre
sua esposa eu me lembro
Yolanda
Dantas é de Pernambuco
De
Recife, chão de Joaquim Nabuco
Esses
dois se conheceram, relembro
Foi
num dia de sete de setembro
Num
feriado em Serra Talhada
Começou
com uma simples olhada
Numa
Vila chamada Caiçarinha
Com
dezessete anos e tão novinha
A
professorinha foi conquistada.
Foi
assim que Zé Dantas conheceu
Dona
Yolanda Dantas, querida
Encontrou
o amor de sua vida
Foi
assim que tudo aconteceu
Esse
encontro no sertão ocorreu
Ele
estudante de medicina
Galanteador
ganhou a menina
Que
era filha de um leiloeiro.
E
Zé Dantas filho do fazendeiro
Elegante
essa conquista assina.
Iniciou
assim a relação
Mas
eles não se casaram no ato
Em
Mil Novecentos e Cinquenta e quatro
É
que foi selada a união
Oito
anos depois o coração
Da
mulher que inspirou a letra “I”
Viu
seu amor, desse mundo partir
Para
o que chamam de vida eterna
Ela
ficou sem chão, procurou perna
Mas
no mundo precisou prosseguir.
Ela
tinha três filhos pra criar
E
seguir firme era sua tônica
Criou
duas filhas: Sandra e Mônica
E
um filho também pra educar
Zé
Dantas Neto pra continuar
Tornou
se doutor e mora no Rio
Yolanda
encarou o desafio
Só
a morte é quem lhe submete
Janeiro
de Dois Mil e Dezessete
Sua
morte não matou o seu brio.
Foram
quinze anos de parceria
Mais
de Cinquenta músicas gravadas
Todas
elas são marcas registradas
Da
junção que o destino fazia
O
Brasil inteiro todo curtia
Aplaudia
cada nova canção
De
Zé Dantas, um mestre do Baião
Gonzagão
garimpou nobre parceiro.
Mais
um pernambucano e brasileiro
Pra
decantar a nossa região.
Vou
citar algumas canções aqui
VOLTA
DA ASA BRANCA e SABIÁ
ADEUS
IRACEMA e MARIÁ
CASAMENTO
DE ROSA e LETRA I
O
DELEGADO NO COCO ouvi
TREZE
DE DEZEMBRO e o TORRADO
VOZES
DA SECA e FEIRA DE GADO
CARTÃO
DE NATAL e CHEGOU SÃO JOÃO.
ACAUÃ
e ABC DO SERTÃO
QUADRILHA
é BOM e o MACHUCADO.
PRONDE
TU VAI LUI e LENDA DE SÃO JOÃO
DANÇA
DA MODA e PEGA PENEIRA
QUANDO
O INVERNO CHEGA e RENDEIRA
PERFUME
NACIONÁ, PISA PILÃO
O
BOM QUE O COCO TEM e TUDO É BAIÃO
TÁ
LEGAL e O QUE É QUE TU QUER
RIACHO
DO NAVIO e RAQUÉ
PIRIRIM,
ADEUS RIO DE JANEIRO.
O
CIRCO, O RIACHO DO IMBUZEIRO
NÓS
NUM HAVE e MANÉ e ZABÉ.
O
CALANGO e SAMARICA PARTEIRA
NOITES
BRASILEIRAS e SETEMBRINA
MUIÉ
FEIA, NO TERREIRO DA USINA
PAULO
AFONSO e PASSO DA RANCHEIRA
SIRI
JOGANDO BOLA é de primeira
A
DANÇA DA MODA e ALGODÃO
CANGOTE
CHERÔSO e FORRÓ DE ENTÃO
CHORA
CARRINHO e CINTURA FINA.
CHEGADA
DE INVERNO e CORINA
IMBALANÇA
e CAFÉ na relação.
MINHA
FULÔ, SÃO JOÃO NO ARRAIÁ
LASCANDO
O CANO e AI MEU BEM
SÃO
JOÃO ANTIGO e XEM NHEM NHEM
VAI
TER CASAMENTO, NUM VÔ CHORÁ
MEU
PAPAGAIO e NA BEIRA MAR
SANSÃO
e DALILA, OLHA A PISADA
AI
AMOR e AS QUATRO IMBIGADA
BALANÇA
A REDE e CABRA A PESTE.
ADEUS
SAUDADE e CABRA DO NORDESTE
FORRÓ
DE MANÉ VITOR e FARINHADA.
XOTE
DAS MENINAS e CAXAMBU
Teve
o BALAIO DE VEREMUNDO
SÓ
VALE QUEM TEM é coisa do mundo
BALAIO,
FORRÓ EM CARUARU
SÃO
JOÃO NA ROÇA e REI BANTU
No
XOTE MIUDINHO a gente vai
VEM
MORENA é sucesso que não cai
CADÊ
O PEBA, AQUELA CASINHA.
FORRÓ
DO QUELEMENTE e MARIQUINHA
ALMA
DO BRASIL, DERRAMARO O GAI.
José
Dantas grande compositor
Pra
criar versos era um celeiro
Retratando
o Nordeste brasileiro
Como
folclorista pesquisador
Da
cultura foi um divulgador
Do
Nordeste fez toda exposição
Abordando
os temas do sertão
Novenas,
festas e as farinhadas.
As
poesias e brigas relatadas
Casamento
e muita confusão.
Zé
Dantas viveu o mundo rural
Xico
Nóbrega assim me falou
Esse
cotidiano transportou
E
botou na construção musical
Esse
compositor foi triunfal
Mergulhou
fundo nessa produção
Dando
aula de interpretação
Aos
poucos, a medicina que cura.
Foi
perdendo espaço para cultura
José
Dantas foi show na criação.
Seu
Zé Dantas doutor admirado
Destacou-se
enquanto humorista
Além
do bom humor foi folclorista
Já
escutei um causo seu contado
Quem
ouviu garante ter gostado
Era
fonte de entretenimento
Foi
proveitoso esse casamento
O
baião ganhou outro pioneiro
Na
canção Gonzagão foi um parceiro
Que
deu voz a esse grande talento.
Por
quarenta e um anos, viveu
O
Baião chorou sua despedida
Sua
obra eterniza sua vida
Ele
vive em tudo que escreveu
Nessa
breve vida desenvolveu
Um
acervo gigante pra cultura
Contribuiu
demais a criatura
Vejam
entre os clássicos musicais.
Suas
músicas são tradicionais
E
cantores fazem nova leitura.
Seu
Zé Dantas sofreu um acidente
Em
fevereiro de sessenta e um
Não
sei se havia remédio algum
Pra
tratar o doutor que é paciente
José
Dantas ficou muito doente
Por
romper um ligamento no pé
Tomou
a cortisona e nessa fé
O
remédio aliviava as dores.
Os
efeitos, pois nem tudo são flores
Comprometeu
o fígado de Zé.
Um
ano depois Zé Dantas morreu
Em
onze de março em sessenta e dois
Muitas
homenagens seguem depois
Todas
elas, o cabra mereceu
Lembro
algumas que ele recebeu
Na
Academia é imortal
Ganhou
um busto na terra natal
Cada
homenagem a Zé foi bela.
É
nome de Rua em Casa Amarela
No
bairro do Recife a, capital.
Homenageando
o compositor
Num
compacto do Rei do Baião
Luiz
Gonzaga gravou XÔ PAVÃO
PROFECIA,
outra composição
Cantou
também outra exaltação
De
Onildo Almeida do Agreste
E
de outro, também cabra da peste
Antônio
Barros lá da Paraíba.
Ao
nosso mestre lá de Carnaíba
Que
deixou chorando todo Nordeste.
As
canções de Zé Dantas alcançaram
Um
patamar bonito de se vê
Muitos
artistas da MPB
Já
gravaram e também regravaram
Com
diversos arranjos interpretaram
Alguns
deles, eu tenho relacionado:
Ivon
Cury, Quinteto Violado
Carmélia
Alves, Hermeto pascoal.
Gonzaguinha
e Wilson Simonal
Ivan
Ferraz e Elba têm cantado.
Gonzagão
gravou Zé Dantas primeiro
Dominguinhos
também teve a vez
Maria
Bethânia e Marinês
Marisa
Monte e Jackson do Pandeiro
Flávio
José e Alcymar Monteiro
Alceu
Valença e Gilberto Gil
Geraldo
Azevedo e outros mil
Até
Chico Buarque que encanta.
E
Marina Elali também canta
As
canções do avô pelo Brasil.
Encerrando
o cordel do doutor
Segundo
José Teles: O mais lírico
Com
o meu conhecimento empírico
Digo:
Foi o maior compositor
Em
tão pouco tempo pode compor
Dezenas
de letras com qualidade
Revelou
sua versatilidade
E
sua relação umbilical.
Que
ele teve com o mundo rural
Descreveu
pra o homem da cidade.
*Ivaldo
Batista
é poeta, professor, escritor e cordelista pernambucano
Está republicado no blog: www.robsonsampaio.com.br. A coluna Cidades Online - Teatro da Vida (Causos), frases, poesias e notícias, aos domingos. Divulguem e mandem notas e denúncias para o e-mail: rsampaioblog@gmail.com. Ab e obg.
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