RASTROS & ATALHOS: SENTIMENTO, VERACIDADE E HUMANIDADE
Por
Maria Carolina Costa*
Rastros
& Atalhos, poemas
Imagética
Edições, 2019
Com um design singelo e encantador,
“Rastros & Atalhos” (Imagética Edições, 2019) é a coletânea das poesias
feitas pelo vívido e exímio poeta, José Geraldo. A obra é um verdadeiro convite
à leitura, acessível a todos os mais diversos públicos, que poderão desfrutar
de uma literatura eminentemente humanista, crítica e reflexiva.
As 58 poesias, claramente redigidas
com precisão e sentimento, versam sobre a simplicidade da vida, a complexidade
de vivê-la e das relações humanas/sociais. O autor foi feliz em descrever o ato
de poetar, como
“[...] manter se
recluso,
calar galáxias,
levitar cosmos
vociferar tons da
alma.”
Verdadeiramente, uma fantástica
conceituação que conseguiu transpor em palavras um ato tão profundo, no qual “o partir do desconhecido, o ousar a
subjetividade, validando o verbo” que imprime sentimento, veracidade e
humanidade, faz da poesia, objeto e intervenção.
Ao abordar sobre diversas temáticas,
ganha notoriedade as delícias e os dissabores de ser “Ser humano”, no seu
sentido mais profundo, enigmático e (des)conhecido. Ao se referir sobre o amor,
se revela a beleza, a simplicidade e a grandiosidade nos versos do “Teu olhar”,
“Confesso” e a “Artesã”, cuja poesia dedicada a sua mãe e seus irmãos, narra em
4 estrofes carregadas de puro sentimento, uma das cenas mais belas, tristes e
forte de sua história.
Encontra-se também nos demais poemas,
o retrato das aflições e do gozo; do cansaço e do vigor; do contentamento e
descontentamento; da desesperança e da esperança que permite afirmar “o sonho não acabou”; dos anseios; da
saudade de quem já se foi, mas que permanece no coração; das confissões da
alma; da generosidade e do altruísmo daquele que é capaz de sentir a dor dos
desconhecidos; da insatisfação e inquietação que proporciona reflexão, na qual
expressa o desejo de transformação.
O autor revela em seus versos, que o
ato da escrita, pode ser também um ato político, uma vez que, repudia a
neutralidade e o fechar dos olhos às injustiças, se posicionando como um porta
voz dos injustiçados, dos esquecidos, dos explorados por um sistema que aliena,
viola e pauperiza o homem enquanto ser social. É admirável a sua capacidade de
capturar o movimento dialético do real e o transpor em palavras, instigando no
leitor a sua capacidade crítica, e a fuga da apatia.
De forma crítica e consistente, tece
comentários acerca do oportunismo presente nos políticos aproveitadores, que “semeiam demagogias predatórias”; da
polarização política e ideológica presente no atual momento histórico
brasileiro, na qual “cada um ergue sua espada, mostra o seu brilho cortante”,
retratando assim a fragilidade do regime democrático que parece sucumbir, na
avalanche de uma autocracia que nada tem de disfarçada.
Rico em metáforas e figuras de
linguagem, que adornam o corpo textual, a coletânea provoca a quem ler, o
exercício da imaginação e da emoção. A disposição das palavras e dos versos
parecem bailar no papel, expressando o movimento das palavras, o movimento de
construção e desconstrução. É quase impossível parar de ler, uma vez que se
inicia. A palavra de José Geraldo, é como semente plantada, regada, que brota e
continua crescendo.
*Maria Carolina Costa é graduanda
em Serviço Social na Universidade Federal de Pernambuco
RASTROS & ATALHOS: SENTIMENTO, VERACIDADE E HUMANIDADE
Reviewed by Natanael Lima Jr
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