IV SARAU VIRTUAL
(Homenagem a Joaquim Cardozo e Mauro Mota)
Nesta IV edição do Sarau Virtual, o DCP tem a
alegria e o privilégio de reunir cinco poetas contemporâneos que se destacam no cenário pernambucano e brasileiro:
ADRIANA
MAYRINCK, DAYVTON ALMEIDA, FREDERICO SPENCER, MARCELO MÁRIO DE MELO E YURI
PIRES
ADRIANA
MAYRINCK*
“Escrever é expressar
o que está no lado de dentro, com todas as nuances, desejos e contradições do
ser mulher, que transborda de encantos e desencantos o despertar das emoções. A
poesia está nas entrelinhas, no olhar, nos detalhes, no lado de dentro. Em
diversas fases uso como ferramenta o poema em prosa, com estilo literário que
passeia por entre o romantismo e o lirismo. As experiências e percepções, no
real e no imaginário, sempre na primeira ou terceira pessoa, definem esse
exercício poético e criativo em versos livres. São passos para um caminho
(in)certo, (i)material, que se revela a cada vivência, ou oculta-se no ir e vir
por entrelinhas. Reflexos, sombras e luz, onde os elementos da natureza
misturam-se por entre metáforas e figuras de imagem. Um olhar íntimo sobre o
efêmero e a casualidade, de uma mulher errante que cria asas e voa por entre
tempos, na busca incansável por abrigo, talvez, de si mesma, (in)finitamente.”
ARDÊNCIAS
Se
tudo em mim arde, e uma parte é o que sabe, e a outra o que sente
Qual
parte de mim me habita, me faz ser, luz e sombra, em segredo
No
labirinto do que fui e sou, te refaço em êxtase, sem medo
Amanheço
em ti, ávida e sedenta, mas guardo desejos no corpo dormente
Rasgo
a neblina que inicia o dia, rastros de luz de tudo o que sonhou
No
pêndulo, do ontem e do agora, em quietude e alegria, sorrio languidamente
Dezembro
cinzento, invade com o frio os raios de sol no meu corpo lentamente
Não
pergunto e busco repostas, no reflexo que o espelho silenciou
Arfante,
aspiro o tempo, agarrada a ti, espero que me leia
Dos
caminhos que tracei, me perdi de promessas, mas te encontrei
Por
entre desertos floridos, espero e vivo por tudo o que desejei
No
calor que me incinera, recolho de ti, a chama que incendeia
Fragmentos
incandescentes, consomem-me, vivências
No
leito quente e acolhedor, esqueço minhas inquietações
No
abraço que me agasalha, refugio-me daquelas ilusões
Sou
esse vulcão que me alucina, que transforma em rima, ardências
*Adriana
Mayrinck, nasceu em 1970, produtora cultural, fundou a
empresa IN-FINITA, morou no Rio de Janeiro e Recife, e em 2017 mudou-se para
Lisboa e divulga os autores brasileiros e portugueses, em seus projetos e
eventos. Representante da União Brasileira de Escritores (UBE-RECIFE), faz
parte da Academia Virtual da Língua Portuguesa, na cadeira OLGA SAVARY. Tem um
livro publicado, participa em algumas antologias no Brasil, Portugal e Suíça e
das edições do Fanzine Alfarrábios.
DAYVTON
ALMEIDA (PE)*
“O que eu sou e todos
os meus aspetos, sem a poesia eu não teria corpo, alma e se quer uma ideia no
imaginário de alguém que ainda pode imaginar o que é a própria poesia. Ainda
que eu falasse a língua dos homens e dos anjos e a do Senhor Deus, sem a poesia
EU NADA SERIA.”
AMOR DOS
DEUSES
Eu
juro em nome de Zeus,
com
a força de Hércules,
a
sabedoria de Atenas
os
sonhos de Ícaro.
a
determinação de Ulisses
que
sempre irei te amar.
Com
a bênção de Afrodite
flechado
por Cupido, eu digo que
o
meu amor é infinito como
os
mares de Poseidon radiante
como
a carruagem de Apolo
Alto
astral como Dionísio.
E
se mesmo assim tu não me queiras,
eu
lutarei com o comando de Ares,
na
companhia de Nike
Só
para garantir a vitória.
Encaminharei
Hermes para tu,
com
escultura do nosso amor,
no
aço que aprendi a manipular com Evaristo,
para
que tu vejas como são As várias formas
do
meu amor por te.
Enquanto
tu estiveres do meu lodo,
por
ironia das Moiras eu ficar sem a tua presença,
Invejarei
Orfeu indo ate o lar de Hades,
só
para tê-la de volta para mim.
*Dayvton Almeida 'O Ser Poeta' é autor, editor,
radialista, ator, diretor de teatro, fundador da Feira de Literatura Independente
da Cidade do Moreno -FELICIDADE, fundador da Casa Ser Poeta e da Biblioteca de
Autores Independentes da Cidade do Moreno. Nasceu
no Bairro de Casa Amarela, em Recife, mora atualmente na cidade do Moreno, onde
é membro fundador da Academia Morenense de Letras e Artes (AMLA) e
correspondente da Academia Luminescência Brasileira. É estudante de Psicologia, com dez livros publicados
pelas Editoras Clube de Autores, Poesias Escolhidas e SANTmel. Em comemoração aos seus vinte anos trabalhando
com as artes, foi homenageado no
carnaval morenense de 2014.
FREDERICO SPENCER (PE)
“Poesia é
a arte de reinterpretar a vida cotidiana através das palavras - surradas e
coloquiais - dando a elas um novo sentido. Através dela podemos sair do campo
da lógica formal para a metafísica possível da estética literária.”
A NÁUSEA E O PÂNTANO
Na
água espessa nave, pele e osso
se
fazia? Ninguém a via
aquática
flor, no lodo
caranguejos
e de conchas se vestia
com
as mãos até o pescoço
no
líquido encarnado e viscoso
manguezal,
de brotos se nutria:
fendas
no lamaçal tremia de gozo
a
tarde nas mãos ardia
o
viço do seu vestido novo
no
movimento das marés
o
vigor de suas pernas transparecia
estranha
paisagem, finas e vadias
neste
pão aquoso.
MARCELO MÁRIO
DE MELO (PE)
“A poesia é a linguagem que mergulha e
voa. Por uma poesia aberta e andante, que expanda os estalos do mundo e as
tremuras da nossa intimidade. Dançamos com as musas, saciamos sua sede, sorvemos
seu fogo e as fazemos relaxar e dormir. Depois, saímos soltando labaredas pelo
mundo. O exercício da metalinguagem poética se completa com o esforço para
meter a linguagem poética no cotidiano, lamber o dia a dia com a língua da
poesia. A percepção atenta ao cotidiano permite a saída do egocentrismo lírico,
calcado nas cruzes mentais do autor, para a sintonia com a ebulição cósmica da
vida e suas sugestões de pauta. Só o mergulho no singular permite a absorção do
pisca-pisca universal e sua tradução. Trata-se de fazer a leitura poética da
vida cotidiana, e não ver a percepção/elaboração poética como um departamento
especial, apartado do mundo, área de primeira classe do navio, esquecendo que o
mar envolve a todos, na viagem e no naufrágio. Há o risco, presente em todos os
caminhos metafóricos, técnicos e temáticos, do desvio da faixa central da
estrada poética para as trilhas da prosa descritiva, raciocinante ou
emotiva. Cabe ao poeta manter o rumo e o
prumo.”
POÉTICA
MENTE
Viver poeticamente
é um grande desafio
é ter poética
mente
nadando no cosmo-rio
ovo posto
nave ave
poe Mar
poetizar
mar da vida incandescida
esfinge a desafiar
sintonias dissonâncias
gritos e balbuciar
abismos a céu aberto
véus e venenos no ar.
Quem quiser viver poesia
tem que se deseducar
tirar cerca do caminho
quebrar bitola e altar
sentir
o cheiro do nunca
o cio do quebra-mar
beijar boca de vulcão
com sereia mergulhar
cavalgar no Minotauro
e voar sem decolar.
Estou de nariz aceso
de tanto poetizAr
esse ar poetizado
não me deixa definhar
enche os pulmões de poesia
respirar é poemar
poemares ares água
nascimento morte mágoa
língua que lava e enxágua
acaso encanto e espanto
me sento e me levanto
na ciranda e na trincheira
falar sério e brincadeira
duas faces da moeda
caminhar e levar queda
nas veredas da poesia
meu pão e meu dia a dia
versos no cotidiano
em um pedaço de pano
ver o manto da princesa
poesia na nossa mesa
também
na ponta da estrela
olhar a luz e bebê-la
fazer do sol alimento
idéia e sentimento
caminhando de mãos dadas
as verdades acabadas
indo
pro redemoinho
poesia fazendo ninho
na nuvem da invenção
com a palavra na mão
poeta faz pá e cava
ata desata e desbrava
mina e ouriversaria
trazendo pro dia a dia
diamante lapidado
seu produto acabado
nosso pão de cada dia
brilho brilhante poesia.
YURI PIRES
(SP)*
“A poesia é uma leitura imponderável do prosaico
que há no mundo e/ou uma leitura prosaica do imponderável que há no mundo.”
REFÚGIO
Ainda que
nem todo
fruto
dê semente,
ninguém
se enterra
em si
impunemente.
RESISTIR
Quero a vivacidade
das coisas inúteis;
a poesia e a sua in-
utilidade.
A potência
é poder não fazer
e, todavia,
a contrapelo,
fazê-lo.
*Yuri Pires, 32 anos, nasceu no Recife (PE) e
reside em São Paulo (SP), é autor de A
Pedra (Lote 42, 2017).
IV SARAU VIRTUAL
Reviewed by Natanael Lima Jr
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SUCESSOS POETISAS E POETAS.
ResponderExcluirSempre bom está em espaços onde a poesia é soberana, o Domingo Com Poesia é simplesmente um lugar dos poetas festeja a sua própria alegria.
ResponderExcluirSucesso Poetas... Vamos fazer a Poesia Circular
ResponderExcluirAgradecemos seu comentário, caro Fernando Matos.
ExcluirMuito boa iniciativa. Viva a poesia! Tenho um cabsl no uoutubr obde pricuri divulgar a poesia. Visitem.
ResponderExcluirOlá Sônia Bierbard, agradecemos sua visita. vamos procurar seu canal. grato e sucesso
ExcluirObrigado pelo espaço, Natanael. O domingo com poesia é fundamental para a divulgação da poesia contemporânea. Parabéns.
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