Para
Davi, que chegará em novembro (conto) de Salete Rêgo Barros
Com duas varetas de palha de coqueiro,
fita adesiva colorida, tesoura sem ponta, papel de seda, crepom e linha número
dez, pequenas mãos desajeitadas cortam o papel de seda em forma de quadrado,
com aproximadamente trinta centímetros de lado, e colam um dos palitos na
diagonal. Os olhos mexem-se freneticamente e um pedaço de língua aparece no
canto da boca ligeiramente molhada.
Com o outro palito elas traçam um arco
colando-o cruzado por cima do palito que já está fixo, fazem dois furinhos no
lugar onde as duas varetas se cruzam (um furo de cada lado), passam a linha
pelos buracos e, sem cortá-la, dão um nó. Amarram a linha a partir do nó
deixando um pequeno espaço. Por último, fazem uma rabiola bem colorida com o
papel crepom, cortando as tiras, colando-as, em seguida, num fio de linha.
Depois, amarram a rabiola na parte de baixo da vareta reta.
Segurando o troféu elas escolhem um
local onde o sol brilha com intensidade. Agora, voltadas para o alto, as mãos
tentam em vão o equilíbrio necessário.
– Ei, Moço, o que faço?
– Ora, você deve esperar que o vento
sopre.
– Vai demorar muito?
– Depende. Se você ficar aí, parado,
vai.
As mãos se voltam, os pés sentem a
quentura da areia e os olhos procuram um local mais ameno. O troféu é agarrado
firmemente enquanto o pensamento voa alto – é preciso ter cuidado para que ele
não se prenda nos galhos de alguma árvore ou na fiação elétrica.
– Moço, e o vento, quando vai soprar?
– Moço, e o vento?
– Moço?
Bolas de gude correm de um lado para o
outro, impulsionadas por petelecos certeiros. O troféu aguarda num canto, sob
um pesado carretel de linha, e as mãos que cortaram e colaram papeis, agora
acertam brilhantes coloridos.
Quando os bolsos ficam pesados até não
poder mais, folhas secas começam a rolar, a rolar, a rolar. O vermelho, o
amarelo, o azul e o verde ganham altura, elegantemente, buscando o infinito com
a habilidade de quem soube esperar.
Recife,
maio de 2015
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