Raymonde
por Antônio Campos*
camposad@camposadvogados.com.br
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Não podemos conceber nenhuma outra
prova de existência do que a que nos é dada pelo calor das grandes amizades.
Raymonde, esposa e musa inspiradora de Cícero Dias, recentemente falecida,
fazia parte desse miradouro que o tempo não apaga criado por Raissa Maritain no
seu belo livro “As Grandes Amizades”, em que a autora francesa compartilha
intensamente, com seus leitores de todas as épocas, a história de homens e
mulheres que comungavam com ela e seu marido famoso, o filósofo Jacques
Maritain, muitos gestos, atitudes e pensamentos. A amizade na visão intuitiva
de grandes figurantes que ficaram marcados na história intelectual da França,
durante um período vivenciado, também, por Raymonde e seu marido, o
pernambucano de Escada, pintor Cícero Dias.
Raymonde foi a vida inteira uma
mestrissima na arte de fazer amigos e amigas, sabendo manter como mulher e
esposa amorosa, com o seu jeito de francesa bela e inteligente, aquilo que
raras souberam descobrir, embora morando longe daqui: esse jeito brasileiro e
nordestino de cativar pessoas, de sorrir, de falar até com o nosso sotaque, de
cozinhar e de vestir tão brasileiramente quando vinha com marido passar férias
de verão em Recife.
Uma Amizade tão cordial como a que une
irmãos, irmãos que eram, estivessem pertos ou distantes: Cícero Dias, Zé Lins
do Rego, Gilberto, Renato Carneiro Campos, Marcelo Carneiro Leão, Raymonde e
Madalena Freyre. Raymonde não era apenas participante da vida de seu marido
como esposa, companheira e secretária. Ela sabia com perfeição receber, ao lado
do marido, celebridades como Picasso, George Braque, Henri Matisse e Fernand
Léger, para citar alguns grandes nomes que se tornaram amigos do casal e da
casa parisiense a mais brasileira das casas de Paris. Tudo ali tinha o sabor de
Pernambuco feito por Raymonde.
Diziam na casa de meu pai, além de
Gilberto Freyre, outros amigos do casal Cícero e Raymonde, que visitavam sua
casa em Paris, que Raymonde, além de falar português impecável, sabia como
raros preparar um prato pernambucano de sabor incomparável, dentre as muitas
receitas que ela aprendia quando vinha com o marido rever o engenho Jundiá, da
família de Cícero Dias, na cidade de Escada, onde ele, com poucos anos de
idade, iniciou o hábito da leitura precoce e começou a pintar. Essas
revelações, que muito prezo, são todas páginas de memória, dos falares ouvidos
por mim e Eduardo, éramos ainda jovens, na casa de meu pai, e das lembranças
trazidas nas conversas da varanda da casa de meu tio, Renato Carneiro Campos,
de quem Raymonde e Cícero Dias eram amigos.
Cícero Dias, na pintura, mergulhava no
interior humano, transitando entre o real e o imaginário, no meio de tudo isso,
aqui e acolá, o canavial e suas plumagens feitas de verde. Foi um dos maiores
pintores do século em que viveu. Raymonde era leveza e delicadeza em pessoa ao
lado do marido, naquela Rue Long Champ, em Paris, onde residia há quarenta
anos, plantando flores e cultivando grandes amizades.
Como dizia Nelson Rodrigues, o amigo é
um acontecimento, o resto é paisagem. Em Cícero Dias e em Raymonde tudo era uma
celebração em conjunto de acontecimento e paisagem.
*Antônio Campos é advogado,
escritor, editor, membro da Academia Pernambucana de Letras e curador da
Fliporto.
Raymonde
Reviewed by Natanael Lima Jr
on
08:41
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Boa Noite. Desculpe minha falta de entendimento. Quero saber se o programa é dedicado a poetas novos e de sensualismo.. Obrigado.
ResponderExcluirMari, boa tarde
ExcluirNão entendi sua pergunta, pode refazê-la?
Frederico Spencer
Editor de texto