RECADOS E RITUAIS DE LOURDES SARMENTO
Postado por DCP em 24|04|2022
Por Natanael Lima jr*
Uma mulher fraterna e humana. Completamente poeta.
Assim é Lourdes Sarmento. A cada obra publicada, um vasto universo. A cada
universo criado, uma poesia que brota nos seus poemas, versos que tocam profundamente
a alma humana.
O crítico de poesia e ensaísta francês, Claude Sorel
cravou um contundente depoimento na orelha do livro O segredo das acácias (Edições
Novo Horizonte, 2017), de Lourdes Sarmento, que de forma precisa expõe os velos
da poesia encantadora dessa mulher e poeta, diz ele: “(...) As palavras do
quotidiano de Lourdes Sarmento são de imagens tão fortes como a queda de um
satélite, inciso dentro do conciso. Como uma pedra preciosa desse Brasil
repleto de riquezas minerais, vegetais, humanas, como o calor dos corações e
dos corpos do Nordeste. Um estilo leve dentro de sínteses densas (lembrando o
estilo japonês) e de meditações filosóficas. Uma poesia de impulsos e
nostalgias, de um romantismo que emociona e, sobretudo, enternece. Lourdes
Sarmento é uma poetisa da felicidade, é uma mulher de paixão”.
Aqui, exponho-me ao desafio de falar
(superficialmente) sobre essa mulher e poeta pernambucana. Lourdes é intensa e densa.
Recorro à Cecília Meireles: “Eu canto porque o instante existe/ e a minha vida
está completa./ Não sou alegre nem sou triste:/ sou poeta”. Também busco
Florbela Espanca: “Ser poeta é ser mais alto/ É ser maior do que os homens/
Morder como quem beija/ É ser mendigo e dar como quem seja/ Rei do reino de
Aquém e de Além-Dor”.
Lourdes se situa nesse infindo universo humano e poético.
Como afirmara Friedrick von Hardenberg: “A poesia é a arte de exercitar a
alma”, como também dissera Sophia de Mello Breyner Andresen: “A poesia é das
raras atividades humanas que, no tempo atual, tentam salvar uma certa
espiritualidade. A poesia não é uma espécie de religião, mas não há poeta,
crente ou descrente, que não escreva para a salvação da sua alma – quer essa
alma se chame amor, liberdade, dignidade ou beleza”.
Os poemas selecionados foram extraídos do livro O
segredo das acácias (Edições Novo Horizonte, Recife, 2017, 2ª edição).
*Natanael Lima Jr. é editor, poeta e produtor
cultural
POEMAS DE LOURDES SARMENTO
SELECIONADOS POR NATANAEL LIMA
JR.
RECADO I
O passado é o alicerce
prossigo:
não devo despertar fantasmas
nem lamentar desencontros. O
futuro é o agora
deixo-o vivê-lo
na dimensão do pensamento;
seu lugar no mundo.
RECADO II
Amigos, adormeci
as mágoas, sou
simplesmente o caminho
ao amor.
Escrevi O Segredo das Acácias
nos momentos de terrível solidão,
em cada poema a libertação;
espasmos destas flores
pintando de amarelo ouro
a imagem da vida.
RECADO III
Onde minha palavra
estiver,
tu viverás dela.
Somos um só desejo
a única reserva,
enquanto para mim
é infinitamente difícil
despedir-me.
RITUAL I
Parte-se uma esmeralda
dentro de mim
(estilhaços da pedra
caem como granizos
no
coração dos homens)
Não sou o talismã antigo
- senha
das estrelas
que
bebem a noite
A palavra é minha agonia
que respira imenso verde
como a água do mar
onde habito
e os ventos pastam
no silêncio que carrega
a
esmeralda partida.
Se vivo nesta pedra, ou dela apenas
exercito a vida –
não cumpro o ritual do verso
não cumpro o tempo dos cristais
nada me assegura o instante.
RITUAL II
Caem as últimas granadas
no colo da dama, onde o vento
leva sem retorno –
apenas rubro –
para riscar o corpo
no espaço do mundo.
O canto da pedra
maior do que o tempo
vara as madrugadas –
apenas rubro –
de mãos e sonhos
sobre outro corpo refletido,
e as garras da granada
rasgam os olhos do desejo
sem desejo.
Apenas rubro –
os dentes da pedra
mordem a vida dormindo.
Querida Lourdes Sarmento, grata por sua poesia e parabéns pela merecida homenagem. Beijos
ResponderExcluirMárcia Sanchez Luz
Poesia que transcende o pensamento, navega a alma.
ResponderExcluirJose Luiz Melo
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