LUCILA NOGUEIRA E TÊREZA TENÓRIO – FRENTE A FRENTE
Postado por DCP em 05/09/2021
Ineditamente o site Domingo com Poesia (DCP) traz no “frente a frente” duas importantes poetisas que marcaram época na cena literária nacional: Lucila Nogueira, carioca de nascimento, mas pernambucana de coração e Têreza Tenório, recifense, um dos nomes mais emblemáticos da conhecida Geração 65 de escritores pernambucanos.
Lucila
Nogueira nasceu
no Rio de Janeiro, em 30 de março de 1950, mas a sua relação com a capital
pernambucana foi intensa e duradoura. De origem luso-galega, foi poetisa,
ensaísta, contista, professora universitária, crítica literária e tradutora. Além
de sua carreira literária e acadêmica, foi promotora de justiça em Pernambuco.
Lançou mais de 20 livros, traduzidos
em vários países, entre eles: Portugal, França, EUA, Cuba e Colômbia. Recebeu a
Medalha Euclides da Cunha da Academia Brasileira de Letras em seu centenário
(2009). Foi a primeira mulher a representar o Brasil no XVI Festival
Internacional de Poesia de Medellín/Colômbia (2006). Ocupou a cadeira 33 da Academia
Pernambucana de Letras, eleita em março de 1992.
Para o escritor Lourival Holanda, “Lucila
fez muito bem à nossa geração. Tinha um modo muito especial não somente de
fazer, mas de ser poesia. Ela tinha singularidade. A gente achava Lucila
exótica, mas ela era a poesia dela. Teve sempre um caráter muito forte e criou
uma sensibilidade poética em todos os alunos com quem conviveu".
Lucila faleceu no Recife, em 25 de
dezembro de 2016, aos 66 anos.
Têreza
Tenório nasceu
no Recife, no dia 30 de dezembro de 1949. Além de escritora e poetisa, ela foi
advogada e integrante de movimentos sociais contra a violência. Têreza foi um
dos nomes mais emblemáticos da conhecida Geração 65 de escritores
pernambucanos, contemporânea de Alberto da Cunha Melo, Jaci Bezerra, Raimundo
Carrero, entre tantos outros.
Publicou oito livros, entre os quais “Poemaceso”,
uma obra plurifacetada para Alberto da Cunha Melo. Este livro lhe rendeu alguns
prêmios, como o da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), em 1986.
Uma das características da sua vasta produção
literária é o emprego de elementos míticos, de crenças diversas (mitologia
européia, ocultismo e tradição judaico-cristã), mas sem negar sua procedência,
seu ativismo latino, afirmara Alberto da Cunha Melo, em um comentário sobre
Têreza.
Têreza faleceu no Recife, no dia 07 de junho de 2020, aos 70 anos.
LUCILA NOGUEIRA E TÊREZA TENÓRIO – FRENTE A FRENTE
FALARÃO MEUS POEMAS PELAS RUAS...*
Lucila Nogueira
Falarão meus poemas pelas ruas
de cor como receita de viver
e aqueles que sorriam pelas costas
recitarão meus versos sem os ler
Falarão meus poemas pelas ruas
de cor como receita de viver
dirão que fui um mar misterioso
onde quem navegou não esqueceu
Falarão meus poemas pelas ruas
de cor como receita de viver
dirão que era poesia e não loucura
meu jeito de sonhar todos vocês
Falarão meus poemas pelas ruas
de cor como receita de viver
perguntarão por que vivi tão pouco
sem dar-lhes tempo de me perceber
— e aqueles que sorriam pelas costas
recitarão meus versos sem os ler
*(poema indicado por Maria de Lourdes Hortas)
CORPO DA TERRA*
Têreza Tenório
Pela janela o verde
nos revela
o coração da mata acesa
o úmido
veio das aromáticas
resinas
dentre nossas raízes
enlaçadas
a destilar a essência
do teu hálito
em mim
corpo da terra
desvelado
*(poema indicado por Maria de Lourdes Hortas)
POEMA XXIII DO LIVRO DO DESENCANTO*
Lucila Nogueira
Estou mais para
Elis e Janis Joplin
Florbela Espanca,
eu sou Virginia Woolf
amante de
Essenine e Sá-Carneiro
sobre os campos;
de trigo de Van Gogh
Compreendo mais
Holderlin e Nietzsche
que a loucura de
Kant ou de Descartes:
tudo que em mim
pareça comedido
não, passa de uma
máscara de vidro
Livro do
Desencanto,
1991
O ÚLTIMO POEMA
Têreza Tenório
A estranha face amarga,
o sonho rubro, a lágrima,
o dilacerado peito, a água,
o sangue, o grito, as ávidas
mãos da Mulher – mãe e amada
entre os cabelos de suor e nada.
DESPEDAÇA-ME
Lucila Nogueira
a Maria da Anunciação de Sá Aragão
despedaça-me
mas não deixes inacabada
palácio inviolado em memória do nada
regressão miserável às visões abstratas
despedaça-me
mas não me deixes miragem na vidraça
porque eu sei satisfazer a tua carne
mesmo assim aérea na alucinação
PAISAGEM DO RECIFE
Têreza Tenório
Mil olhos cresceram como rios
e encheram cidades. A enxurrada
afagou papiros, peixes. Garças mortas
são n’água.
Calcamos silêncios e matinais
num longo desgaste. Hieróglifos
brotaram das esfinges onde retinas
são lótus.
Hipocampos, monstros do dilúvio
(a alucinação configurada).
Teus cabelos são pontes sobre os rios:
és pátria.
Duas grandes destaques da nossa poesia!
ResponderExcluirGosto de Lucila e adoro Tereza Tenório.
ResponderExcluirAmo poesias pois nas horas vagas também faço alguns versos! Ademar Silveira!
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