CINCO VOZES, CINCO MULHERES, CINCO POEMAS – Para celebrar o Dia dos Pais
Postado por DCP em 08/08/2021
O DCP reúne aqui um grupo de grandes mulheres que se dedicam à literatura,
especialmente à poesia, com o objetivo de celebrar o Dia dos Pais. Cida Pedrosa,
Maria de Lourdes Hortas, Lourdes Nicácio, Noélia Ribeiro e Vernaide Wanderley dedicam
seus poemas e suas vozes nesta homenagem aos nossos queridos pais; presentes,
ausentes, distantes e encantados.
Para Francisco de Assis Bezerra,
meu pai
Cida Pedrosa
Ele era um passarinho
Vivia nu como Deus
Sou cria dos olhos seus
Nascida do seu carinho
Me ensinou a fazer ninho
E a voar pelas plagas
A lamber as minhas chagas
Até que elas se queixem
Me esqueçam ou me deixem
Pra eu viver outras sagas
Pra mim sempre houve vaga
No seu peito, no seu colo
Sempre fui um amor solo
Tão forte que não apaga
Não prescreve, nem divaga
E é como a tez do dia
Maviosa melodia
Saída de uma canção
Cravada no coração
Onde tudo principia
A esperança anuncia
Que um dia vou lhe encontrar
Noutro espaço pra sonhar
Onde a nuvem silencia
Os anjos fazem magia
Nessa hora sem igual
Longe de todo o mal
Da veleidade terrena
De cima uma asa acena
Chamando pro ritual
(do livro Claranã, Confraria do Vento, RJ, 2015.)
ELEGIA A MEU PAI
Maria de Lourdes Hortas
(para minha irmã)
Pai, repousa tua mão na resta dela, ardente
e segreda-lhe o que me revelaste
no silêncio de tua voz exata:
que à manhã eterna, debruçado
esperas por nós e nos contemplas.
Diz-lhe, do teu silêncio desvendado
que à sombra da tarde infinita
placidamente aguardas
o nosso reencontro.
Repete-lhe ao ouvido
que estás na primeira esquina da noite cósmica
lanterna á mão para nos guiar
pelos densos precipícios da volta.
Revela que te banhaste
nas fontes do saber
e lá deixaste o barro
da vã humanidade.
Segreda-lhe que a morte é, apenas
a chave, que fechando os olhos do corpo
abre os da alma
para a imensa e total realidade.
(in FIO DE LÃ, 1979/ Recife)
MEU PAI
Lourdes Nicácio
No peito
nos pés
nas mãos
exibia a dureza
do Sertão.
No seio familiar
um
arbusto
orvalhado
pelas
manhãs.
(do livro Caminhos das águas ao sol, Edições Novo Horizonte, Recife,
2018.)
ASTRONAUTA
Noélia Ribeiro
(a meu pai)
O olhar atento da menina
à imagem
do astronauta flutuante
pisando a lua pela primeira vez
A mesma lua
à qual ela pedia em prece
o retorno do pai
O pai passou a morar na lua
e no coração
sem gravidade
A ausência ficou mais leve
como Armstrong
A tristeza,
guardada dentro da TV
(do livro Espevitada, Ed. Penalux, SP, 2017.)
TRIBUTO E CANTO EM SOL MAIOR
Vernaide Wanderley
(Para Dinamérico e Haydée, in memoriam)
Sei que dormem escondidos
na terra e sopro quente
de estradas e asfaltos
por onde passo a cada dia,
ouso compor versos sem rasura,
canção e pranto em sol maior.
Guardei cada pedaço de verdade
sobre nossa terra afogueada pelo
sol que sabe rolar pedras e crestar
solos, terra batida ao pé das serras.
Os dois já partiram eu sei,
peço ao tempo que esqueça
data e ano quando os levaram,
para que fiquem abençoando faces
desta alma em festa, por todos os
dias que me restam antes da fuga.
Deitem e nunca mais levantem
da rede estendida em meu colo
por onde correm rios que resistem.
Não esqueçam de acalmar ângulos
agudos e farpas da cidade grande,
metropolitana cidade de mil contornos
onde cheguei medrosa no jeito retirante,
por ela fui tratada e aceita como se faz
como filho ou bicho de estimação.
(do livro Geometria das pedras, Novoestilo Edições do Autor, Recife,
2019.)
Parabéns a todas as poetisas. Muito legal. Abraços do ALBERTO ARAÚJO
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