A PA/LAVRA VISCERAL DE NOÉLIA RIBEIRO
Postado por DCP
em 27/06/2021
[Curadoria de Natanael Lima Jr.]
Noélia Ribeiro é pernambucana e radicada em
Brasília
Foto: Reprodução
Noélia Ribeiro é pernambucana e mora em Brasília desde 1972. Graduou-se em Letras na UnB (Português e Inglês). Publicou Expectativa (1982), Atarantada (Verbis 2009), Escalafobética (Vidráguas, 2015) e Espevitada (Penalux, 2017). Tem poemas publicados em antologias, jornais e nas revistas digitais Mallarmagens, Germina, Acrobata e InComunidade, entre outras. Participa da antologia As Mulheres Poetas na Literatura Brasileira (Arribaçã, 2021), organizada pelo poeta Rubens Jardim. Em 2017, recebeu, da SECULT-DF, o Prêmio FAC – Igualdade de Gêneros na Cultura; foi homenageada no Salão Nacional de Poesia Psiu Poético, em Montes Claros (MG), e integrou a exposição Poesia Agora, na Caixa Cultural do Rio de Janeiro. Integra a Associação Nacional de Escritores (ANE-DF) e União Brasileira de Escritores (UBE-RJ).
DCP - Qual a sua opinião sobre a função social da poesia e do poeta?
Noélia Ribeiro
- Considerando a afirmação de Octavio Paz de que a atividade poética é
revolucionária por natureza, penso que o poeta (ou a poesia) não pode
prescindir de sua função social, uma vez que, ao tocar o leitor com as
palavras, torna-o agente de mudança. Não nos esqueçamos de que a poesia é um
exercício de alteridade que modifica visões de mundo. Então, embora pareça
inútil, a poesia tem enorme importância, especialmente por seu caráter
transformador e investigatório sobre o lugar que ocupamos no Planeta.
CINCO POEMAS DE NOÉLIA RIBEIRO
NADA EM TI ME
SURPREENDE
Nada em ti me
surpreende
Conheço teu contorno
Teu sotaque
Teu afeto
Sei do calor
De tuas mãos
Conchas onde guardo
Meu segredo
Deitada à sombra
De teu corpo
Sou nascituro cego
Incompleto
Nada em ti é cedo
GUERNICA
Há um quê de desumano
em meu abraço
Não percebe?
Possuo destroços em
lugar de órgãos
infortúnios de um
tempo sem pecado
o traço de Picasso na
face
e nas extremidades
pequenas avarias
Creia:
houvesse algo entre
nós, desmoronaria
ELIOTEMPO
O tempo futuro de Eliot
cinge passado e presente.
Não pressupõe a espera,
esse monstro devorador
das noites e das intuições.
O futuro aprisiona a todos
como se fôssemos ladrões
da hora encarcerada
na caixa de aviamentos.
Que desenho faremos
com a linha obscura
que atravessa as veias do calendário?
Pagaremos para ver a costura
do tempo na malha do nada?
O futuro mostra-se muito caro
SALÃO DE BELEZA
Secador na cabeça.
Batom nude.
Sombra cintilante.
Dedos esticados.
Unhas cor-de-rosa.
Óleo secante.
Som de TV na parede:
Polícia atira
bomba na mão
de manifestante.
Dedos na grama.
Na plaqueta do caixa:
Manicure grátis
às aniversariantes.
CARNAL
Carne de pescoço,
que enlaço,
apesar do lapso
e do prato de ração.
Carne fraca e crua,
ossobuco de moer,
alcatra-me nua,
rente ao chão,
chã de dentro de você.
Que alegria ver meus poemas publicados neste Domingo com Poesia! Grata,
ResponderExcluirNoélia Ribeiro.
É sempre muito interessante o Domingo com Poesia! Especialmente este que traz a poeta e produtora cultural Noélia Ribeiro com seus poemas de leveza e ao mesmo tempo de boa reflexão.
ResponderExcluirObrigada, querida Celi.
ExcluirBeleza amiga. EVOÉ Escalafobética Atarantada
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