ESPECIAL DRUMMOND
11 de
novembro de 2018 por Natanael Lima Jr. *
Foto: Reprodução. Carlos Drummond de Andrade
O Dia Nacional da
Poesia é celebrado no dia do nascimento de Carlos Drummond de Andrade, um dos mais
influentes poetas brasileiros do século XX, um poeta de alma e ofício.
Drummond nasceu em
Itabira, interior de Minas Gerais, em 31 de outubro de 1902. Foi além de poeta,
contista, cronista, jornalista e tradutor de diversas obras de autores
estrangeiros, entre eles: Marcel Proust, Molière, Balzac, Choderlos de Laclos,
García Lorca e François Mauriac.
Drummond também merece
nossa reverência por ter sido um dos ícones do movimento modernista brasileiro.
Fundou um dos mais importantes veículos de informação para consolidação do
modernismo no país tupiniquim, A Revista.
Em 1930, ele publicou seu primeiro livro,
Alguma Poesia.
Para os que desejarem
conhecer mais a obra de Drummond, suas principais englobam Sentimento do Mundo, A Rosa do Povo, Claro Enigma, Poesia até agora, Antologia
Poética, José e Outros, Corpo. Vários de seus livros foram traduzidos para
o espanhol, inglês, francês, italiano, alemão, sueco e tcheco.
Drummond não integrou
nenhuma Instituição Acadêmica para se tornar um dos mais prestigiados poetas do
Brasil. O poeta faleceu em 17 de agosto de 1987, no Rio de Janeiro, aos 85
anos, deixando cinco obras inéditas: O
avesso das coisas, Moça deitada na grama, Poesia errante, O amor natural e
Farewell.
CINCO
POEMAS DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Congresso
Internacional do Medo
Provisoriamente
não cantaremos o amor,
que
se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos
o medo, que esteriliza os abraços,
não
cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe
apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o
medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o
medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos
o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos
o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois
morreremos de medo
e
sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas
Poema de Sete Faces
Quando
nasci, um anjo torto
desses
que vivem na sombra
disse:
Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As
casas espiam os homens
que
correm atrás de mulheres.
A
tarde talvez fosse azul,
não
houvesse tantos desejos.
O
bonde passa cheio de pernas:
pernas
brancas pretas amarelas.
Para
que tanta perna, meu Deus,
pergunta
meu coração.
Porém
meus olhos
não
perguntam nada.
O
homem atrás do bigode
é
sério, simples e forte.
Quase
não conversa.
Tem
poucos, raros amigos
o
homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu
Deus, por que me abandonaste
se
sabias que eu não era Deus
se
sabias que eu era fraco.
Mundo
mundo vasto mundo,
se
eu me chamasse Raimundo
seria
uma rima, não seria uma solução.
Mundo
mundo vasto mundo,
mais
vasto é meu coração.
Eu
não devia te dizer
mas
essa lua
mas
esse conhaque
botam
a gente comovido como o diabo.
Ausência
Por
muito tempo achei que a ausência é falta.
E
lastimava, ignorante, a falta.
Hoje
não a lastimo.
Não
há falta na ausência.
A
ausência é um estar em mim.
E
sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que
rio e danço e invento exclamações alegres,
porque
a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém
a rouba mais de mim.
Canção Final
Oh!
se te amei, e quanto!
Mas
não foi tanto assim.
Até
os deuses claudicam
em
nugas de aritmética.
Meço
o passado com régua
de
exagerar as distâncias.
Tudo
tão triste, e o mais triste
é
não ter tristeza alguma.
É
não venerar os códigos
de
acasalar e sofrer.
É
viver tempo de sobra
sem
que me sobre miragem.
Agora
vou-me. Ou me vão?
Ou
é vão ir ou não ir?
Oh!
se te amei, e quanto,
quer
dizer, nem tanto assim.
Para Sempre
Por
que Deus permite
que
as mães vão-se embora?
Mãe
não tem limite,
é
tempo sem hora,
luz
que não apaga
quando
sopra o vento
e
chuva desaba,
veludo
escondido
na
pele enrugada,
água
pura, ar puro,
puro
pensamento.
Morrer
acontece
com
o que é breve e passa
sem
deixar vestígio.
Mãe,
na sua graça,
é
eternidade.
Por
que Deus se lembra
—
mistério profundo —
de
tirá-la um dia?
Fosse
eu Rei do Mundo,
baixava
uma lei:
Mãe
não morre nunca,
mãe
ficará sempre
junto
de seu filho
e
ele, velho embora,
será
pequenino
feito
grão de milho.
*Natanael
Lima Jr é poeta e editor-fundador do site DCP
ESPECIAL DRUMMOND
Reviewed by Natanael Lima Jr
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05:02
Rating:
Muito Bom,Muito Bom Mesmo... Parabéns
ResponderExcluirVlw amigo, obg por sua visita. abç
ExcluirBem à moda de Drummond
ResponderExcluirDOMINGO deveria ser
Todos os dias da Semana...