VI SARAU VIRTUAL
ORGANIZAÇÃO
E EDIÇÃO: NATANAEL LIMA JR.
(Homenagem aos poetas Ivan Junqueira, Zeca Plech, CecÃlia Meireles, Torquato Neto, Bruno Tolentino, Arnaldo Tobias, Maximiano Campos, Francisco Espinhara, Samuca Santos, Erickson Luna, Cruz e Souza, Adélia Prado, Olavo Bilac, Vicente do Rêgo Monteiro e Manoel de Brarros)
Nesta VI edição do “Sarau Virtual”, o DCP encerra as postagens de 2018, agradecendo desde já a sua companhia durante todo este ano. Reunimos nesta edição do "Sarau Virtual", mais cinco poetas contemporâneos que se destacam no cenário literário do estado. São eles: Alberto Lins Caldas, José Geraldo, Marco Polo Guimarães, Natanael Lima Jr. e Sidney Nicéas.
ALBERTO
LINS CALDAS
“o poema, em toda sua
grandeza épica, trágica, narrativa, carnal e dramática passou pela entrega ao
nada de nada do suco de laranja. castrado, ele há muito tempo é só verso,
poesia, performance”.
“*. a poesia fica com
o verso, o poema se separa, retoma o velho caminho onde a densa “força da
narrativa” advém em ser constitutivamente uma “narrativa da força”. o verso
está irremediavelmente envolvido com o “eu”, com as perspectivas limitadas e
tolas do eu, com os desejos, as ilusões, as minúsculas dores e ideias do eu (a
poesia o verso foram raptados pela subjetividade servil, pela opinião, pela
descritividade, pela confissão, pela apoliticidade, pela covardia). o poema é
um enfrentamento polÃtico do horror, um enfrentamento do real – o poema é,
antes de tudo, polÃtica, uma configuração do horror”.
*(fragmentos sobre o
verso o poema ● ensaio-manifesto)
na
multidão um segundo
●
era bela como uma estatua ●
●
de jade com olhos de ametista bebendo cerveja ●
●
negra e conhaque cheia de dor e medo ●
●
olhando pra mim como se eu fosse um leopardo ●
●
logo eu q tenho uma corda no pescoço ●
●
logo agora q vão derrubar a cadeira onde tou ●
●
um segundo meu pescoço se parte e sera tarde ●
●
vira o inferno me fazendo esquecer ●
●
a estatua de jade com olhos de ametista ●
●
bebendo cerveja negra e conhaque me olhando ●
●
como se eu fosse um animal faminto e q deseja ●
●
logo eu q ficarei digerido no nada da morte ●
●
posso mesmo inda gritar agora sera impossivel ●
●
vc não se lembrara os leopardos voam logo ●
●
as coisas podiam ser diferentes mas tudo muda ●
●
agora giro gira giro e reluto em ficar gelado ●
●
trinco dentes vendo girar uma estatua de jade ●
●
com olhos de ametista bebendo cerveja negra ●
●
e conhaque se voltar e sumir na multidão ●
●
nada tenho ou posso dizer mas é uma pena ●
●
essa escuridão invadir minha boca e nada mais ●
JOSÉ GERALDO*
“A poesia é calmante, ao mesmo tempo,
revigorante existencial. Corrente que segura firme minha vida e me põe em
equilÃbrio emocional. Comunicação pacÃfica e generosa. Pote d’água e bandeja nutricional. Enfim,
porto e âncora da minha alma.”
ESCOLHA
Enquanto eles
burlam,
iludem,
tripudiam,
conspiram
e tudo negam.
Prefiro ser poeta,
faço meu protesto
usando palavras,
qual um arco a
lançar
flechas e
na sua trajetória,
finque na linha mestra.
Arranque tacos,
fazendo frestas.
Que minhas palavras
firam as feras,
bando de roedores,
inúteis germes e,
nada o são que prestem.
*José
Geraldo nasceu em 07 de fevereiro de 1951, em Arcoverde, Sertão do Estado de
Pernambuco. Reside na cidade do Cabo de Santo Agostinho desde 1971. Formado em
Administração de Empresas, atuou em várias áreas do comércio e indústria, sendo
um dos primeiros a praticar o comércio hÃbrido em Recife. O contato com a
literatura aconteceu a 15 anos atrás. Participa ativamente de várias atividades literárias promovidas
pela Academia Cabense de Letras e pela Biblioteca Joaquim Nabuco. Em breve lançará o seu primeiro livro de poesia.
MARCO POLO
GUIMARÃES
“Quem nasceu primeiro, o poeta ou o
letrista? E qual a diferença entre os dois? Meu nome é Marco Polo Guimarães e
comecei a escrever poesia aos dez anos depois de ler o poema Ismália, de
Alphonsus de Guimaraens, que me fez descobrir o encantamento de ver tanta coisa
dita com tão poucas palavras. Desde então, para mim, um poema é como uma
semente onde já estão presentes as raÃzes, o tronco, os galhos, as folhas, as
frutas e as flores de uma árvore. Está tudo ali concentrado, como todas as
vitaminas, de A a Z, num simples comprimido. Um poema é a maior concentração de
sentido no mÃnimo de palavras. Palavras que têm música e ritmo próprios, assim
com também seus silêncios.
Me apaixonei pela música mais cedo,
aos cinco anos, ao escutar uma moça tocar no acordeom um Noturno de Chopin que
me levou às lágrimas de tanta emoção. Compus minha primeira música aos oito
anos, criando um baião para cantar a letra de uma canção de cangaceiro cuja
melodia eu não sabia. Passei a estudar piano, acordeom e violão sempre
compondo. Mas só na adolescência comecei a compreender a diferença entre letra
de música e poema. A letra precisa combinar com a melodia, a harmonia e o ritmo
e a interpretação de quem a canta. Ela junta todos estes elementos num só,
formando uma coisa diferente.
Desde então, entretanto, faço tanto
uma coisa como a outra sem dar muita importância nas possÃveis diferenças. O
importante é que cada um, poema ou letra, sejam como um relâmpago na cara, a
definição de Ferreira Gullar sobre o que é poesia. Uma luz tão forte que nos
deixa momentaneamente cegos. Mas quando vamos recobrando novamente a visão, já
vemos tudo com outros olhos. Percebemos que para além das vestes coloridas que
a revestem é possÃvel ver a carne nua da realidade em toda sua potência e
beleza. A realidade por trás do cenário.”
STRIP-TEASE
À
Marilyn Monroe
Vai
começar o espetáculo
Na
desnudação do corpo.
Recrutaram
a república
Dos
artistas para assistir
Teu
strip-tease prostituta
Das
causas e cousas perdidas.
Primeiro
apareces completa
Vestida
de carnes cartilagens
E
matérias diversas.
Depois
te despes
Com
gestos cronométricos
(Correm
rios de murmúrio
Ao
fundo como música).
Tiras
a cabeleira
Feita
de espaço inútil:
Prisões
de trança à carÃcia
Ou
mesmo liberdade
Nos
raios volúveis do vento
Ou
ainda sossego de espuma
Tremebulindo
na pedra.
Depois
são os olhos
Que
não mais serviam pois
Já
tinhas visto
Tudo
que te interessava
E
olhos cegos de vida
São
como secas bolas de vidro.
Vem
agora o nariz
Ou
melhor, vai, já que houve
Substituições
nos perfumes do ar
Sendo
o cheiro atual
Muito
prejudicial à saúde
E
a respirar para morrer
É
melhor não respirar.
Jogas
também a boca
Desgastada
em beijos e batons
Boca
de sorriso desgastado
Feito
à feição dos dentes
Boca
de sorriso ósseo
Imóvel
e acadêmico
Mas
de academias opostas
Às
monas lisas.
Restam
a face e o queixo
Que
podem ser jogados fora
Com
a cabeça. O queixo bronco
A
face de formas várias
Retesada
e engelhada
E
a cabeça sem gema
Feita
com casca de ovo.
O
pescoço agora alicerce
Sem
construção visÃvel
É
também inútil e
Urge
lançá-lo fora.
Não
abrigou nenhuma lâmina
Nem
corda alguma o abrigou
Uma
em busca do calor
Que
há no sangue
A
outra procurando evitar
Resfriações
mortais e buscando
Contorções
românticas.
(Há
maneiras mais modernas
De
assassinato e suicÃdio.)
Os
seios.. Ah! Os seios
Não
prestam mais
Seu
leite sua carÃcia
Foram
sugados
Pelos
filhos e amantes
De
tua maternidade estéril
E
de teu amor estéril
São
seios de cor estéril.
O
ventre fede
Exala
tuas fecundações
Urinárias.
O
ventre deflorado
Não
flora mais flor
De
vida ou sangue
É
um ventre de estátua
Liso
e nulo divorciado
De
sua real utilidade.
Urge
desbastá-lo.
O
tronco é (desde outrora)
Corpo
de caixão
Madeira
cortada à madeira
Do
homem cujas seivas
Defecaste
com os ossos
Que
eram espadas de tua morte
E
com o coração
Que
era a morte de tuas espadas.
Amontoa-se
no inferno
A
salada dos pulmões
FÃgado
rins baço nervos.
Os
nervos - cordas sobre que
Te
equilibraste aramista.
Pernas
e braços restantes
Não
têm mais apoio
Em
nenhum corpo
Não
podem ficar eretos
Caem
para os lados
Para
baixo-cima
Em
todas as direções
Como
moinhos de vento
Enlouquecidos
a vento enlouquecido.
Terminou
o espetáculo
(Nada
te resta) e
Estás
curvada ante o cansaço
E
nós julgamos que te curvas
Aos
nossos inúteis aplausos
Estás
despida e nós
Amargamente
mergulhamos
Em
tua nada-nudez.
NATANAEL
LIMA JR.
“A poesia é matéria fluÃdica, gérmen de
todas as artes, sêmen de um astro que se recusa a ser subterrâneo.”
PAISAGENS
I
A manhã
da cor de tempestades
floresce entre
luz e sombras
II
A tarde
da cor de névoas
sobre as lembranças
despe-se sem porto
III
A noite
da cor de luto
repousa entre musgos
sobre os trópicos
SIDNEY NICÉAS
“A poesia são os olhos da minha alma.
Sem ela minha prosa seria murcha, minha vida descolorida, meus amores sem
graça. Alerto sempre aos alunos nas minhas oficinas de escrita que todo
escritor que quer mais precisa beber da inestimável fonte da poesia. E seguindo
o conselho do mestre Vladimir Nabokov, o bom escritor é antes de tudo um mago.
Não tenho dúvidas de que a poesia é o principal ingrediente para esse magÃstico
que é a Literatura.”
NENHUM
CORPO SEM ALMA ATRACA EM NOSSOS PORTOS-DESTINO!
Há
sextas-feiras nos teus dias
De
domingo a domingo, embutido
Minh'alma
pisando pedras antigas
Desfilando
vadia em teus umbigos
Meus
passos dentro do teu paço
Meu
corpo poesia em teus destinos.
De
ponte em ponte, aponte
Viajo
por séculos em teus casarios
Deslizando
pelos trilhos dos bondes
Terra
de concretos, mares e rios
Subo
arrecifes e torres gigantes
Cidade
de mangue e sonhos bravios.
Não
mais ando, alço voo raso
Profundo
nas margens do camuflado istmo
Centenas
de anos agora as dividindo
Duas
cidades de braços abraçados
Recife
me entrego aos teus cuidados
Olinda
me benzo sob teus sinos.
Sou
morto-vivo velado
Sou
vivo-morto despido
Minhas
velas acesas, infladas
Meus
olhos, desejo repartido
Rezo
pelas irmãs de terra e aço
Em
ladeiras e ruas sou cupido.
Nenhum
corpo sem alma atraca em nossos portos-destino!
VI SARAU VIRTUAL
Reviewed by Natanael Lima Jr
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