A Crônica da Semana

A força da palavra

por Salete Rêgo Barros*

Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive.

Fernando Pessoa

Usamos e abusamos de palavras, diariamente, sem pensar em seus significados. Dessa forma, parece natural falar, ler e ouvir a palavra partido sem atentar para a sua origem latina – pars, partis, que significa rachado, dividido, desunido.

Como pode um grupo legalmente formado – Partido Político – para representar

o povo, ter por princípio a divisão e a desunião?

Por que não formamos grupos, para representar o povo, denominados Inteiros Políticos? Inteiro significa o que está completo, portanto, a palavra ideal para denominar uma representação sólida. Poderemos criar o Inteiro dos educadores, dos escritores, dos portadores de deficiência, dos profissionais da área de saúde, e por aí vai. Cada Inteiro terá dentre suas funções, a de fiscalizar e cobrar, de nossos representantes no governo, o cumprimento da Lei, e de exigir serviços públicos compatíveis com as taxas e impostos que são pagos; de esclarecer, informar, facilitar e desburocratizar a vida do cidadão; de compor a grade curricular, do infantil à universidade, visando à formação de cidadãos competentes para exercer suas atividades e, também, capazes de se posicionar criticamente diante da vida.

Utopia? Não, se pensarmos que, por mais difícil que isso nos pareça, não podemos deixar de lado a persistência em realizar tudo que faz sentido, mesmo que isso implique em luta, em derrubar obstáculos e inventar soluções. Mesmo debaixo do sol inclemente e da falta de chuvas no Sertão, o mandacaru resiste, persiste, insiste até que faz sua flor desabrochar aos anoitecer, e completar o seu ciclo no dia seguinte, aos primeiros raios de sol.


*Salete Rêgo Barros é escritora e editora da Novoestilo Edições do Autor e produtora cultural executiva da Cultura Nordestina Letras & Artes