A poesia plural de Maria do Carmo Barreto Campello de Melo
Maria
do Carmo Barreto Campello/Foto: Divulgação
Maria do Carmo
Barreto Campello de Melo figura entre as mais importantes poetisas
pernambucanas contemporâneas. Nasceu no Recife, em 21 de julho de 1924 e
faleceu no dia 23 de julho de 2008.
Bacharel em
Letras Clássicas e Licenciada em Didática de Letras Clássicas pela Faculdade de
Filosofia do Recife, e pós-graduada com os Cursos de Especialização e de
Aperfeiçoamento em Literatura e LÃngua Portuguesa, pela UFPE. Na década de 60,
trabalhou no Jornal do Commercio, onde era responsável por uma coluna
intitulada “Nossa Página”, dedicada à arte e a temas gerais. Integrou a
Academia Pernambucana de Letras, onde ocupou a Cadeira nº 29, que tem como
patrono Padre Gomes Pacheco, e também acadêmica emérita da Academia
Pernambucana de Artes e Letras.
Publicou, a
partir de 1968, vários livros de poesias que marcaram a cena literária de
Pernambuco, entre eles: Música do silêncio – 1º Momento: Os sÃmbolos; 2º
Momento: Os sobreviventes; Música do silêncio – 3º Momento: Ciclo da solidão;
Música do silêncio – 4º Momento: O tempo reinventado; VerdeVida: o tempo
simultâneo; Música do silêncio – 5º Momento: As circunstâncias; Ser em
trânsito; Miradouro; Partitura sem som; De adeus e borboletas; Retrato
abstrato; Solidão compartilhada; Visitação da vida; A consoada.
Quatro
poemas de Maria do Carmo Barreto Campello de Melo
Poema do puro
amor
E tendo eu te amado
apenas porque te amei
instalo-me em instáveis estruturas
pelos caminhos de um amor insuspeitado.
Que ele me tome me arrebate me ascenda
e me seja ponte asa e travessia
um amor assim acontecido
sem dedução cálculo ou consequência
sem ordem lógica
- só pura acontecência.
E tendo eu te amado
apenas porque te amei
instalo-me em instáveis estruturas
pelos caminhos de um amor insuspeitado.
Que ele me tome me arrebate me ascenda
e me seja ponte asa e travessia
um amor assim acontecido
sem dedução cálculo ou consequência
sem ordem lógica
- só pura acontecência.
Despedida
Meus amigos me despeço. Em mim mesma me irei
deixo a casa, deixo a rua, deixo o fruto e seu sabor
deixo agulha, deixo linha, deixo roca, deixo fuso
deixo a flor como seu odor, deixo faca, deixo bolo
deixo morno, deixo quente, deixo tudo que é pra amar
Meus amigos, já me vou. Muitas voltas irei dar
vou pra o longe, vou pra o perto, para o aqui e o acolá
levo sol e levo sombra, levo quanto é pra levar
levo terra e levo mar, levo sonho e acalanto
levo rosa, levo fruto, levo também riso e canto
levo reza, levo pranto, levo veste, levo manto
nesta ida, nesta vinda, onde devo me encontrar.
Meus amigos, eis que me vou. Nesta longa caminhada
à procura de mim mesma, quantos passos irei dar?
e é pra este reencontro, que tanto devo deixar:
- deixo amor e desamor, me desfaço, me renasço
e tanto devo levar: - levo sonho e acalento, sombra
fruto e verde mar, meus amigos me despeço (já
me cansa meu cansaço) muitos passos inda hei de dar.
Meus amigos me despeço. Em mim mesma me irei
deixo a casa, deixo a rua, deixo o fruto e seu sabor
deixo agulha, deixo linha, deixo roca, deixo fuso
deixo a flor como seu odor, deixo faca, deixo bolo
deixo morno, deixo quente, deixo tudo que é pra amar
Meus amigos, já me vou. Muitas voltas irei dar
vou pra o longe, vou pra o perto, para o aqui e o acolá
levo sol e levo sombra, levo quanto é pra levar
levo terra e levo mar, levo sonho e acalanto
levo rosa, levo fruto, levo também riso e canto
levo reza, levo pranto, levo veste, levo manto
nesta ida, nesta vinda, onde devo me encontrar.
Meus amigos, eis que me vou. Nesta longa caminhada
à procura de mim mesma, quantos passos irei dar?
e é pra este reencontro, que tanto devo deixar:
- deixo amor e desamor, me desfaço, me renasço
e tanto devo levar: - levo sonho e acalento, sombra
fruto e verde mar, meus amigos me despeço (já
me cansa meu cansaço) muitos passos inda hei de dar.
A gaiola
E
era a gaiola e era a vida era a gaiola
e
era o muro a cerca e o preconceito
e
era o filho a famÃlia e a aliança
e
era a grade a fila e era o conceito
e
era o relógio o horário o apontamento
e
era o estatuto a lei e o mandamento
e
a tabuleta dizendo é proibido.
E
era a vida era o mundo e era a gaiola
e
era a casa o nome a vestimenta
e
era o imposto o aluguel a ferramenta
e
era o orgulho e o coração fechado
e
o sentimento trancado a cadeado.
E
era o amor e o desamor e o medo de magoar
e
eram os laços e o sinal de não passar.
E
era a vida era a vida o mundo e a gaiola
e
era a vida e a vida era a gaiola.
Lição de amor
Não
te direi de amor
assim
como tu queres
pois
não se faz o amor, amor existe
e
permeia e transcende coração e mente
e
dá se dando e dando inteiramente
que
despojado é o amor, sem adereços
e
a pele é a melhor das vestimenta
Não
te direi
assim
como o entendes
mas
se eu disser de mim, direi do amor
que
há quem não se dando já deu tudo
e
visitou a face do teu ser impuro
e
adormeceu à sombra dos teus sonhos.
Não
assim
como desejas
só
que me entrego à noite e ao desespero
e
ferida de amor digo teu nome
e
ele me cobre como uma vestidura.
A poesia plural de Maria do Carmo Barreto Campello de Melo
Reviewed by Natanael Lima Jr
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