Um Domingo Leal
Img: Reprodução
O Domingo
com Poesia seguindo sua tradição homenageia nesta edição, por razão da data de
seu nascimento, 20/03/1924, o poeta César Leal, nascido no município de
Saboeiro (CE), viveu na cidade do Recife, até o seu falecimento (05/06/2013).
Considerado como um dos maiores do século passado foi também jornalista e
professor. Enquanto jornalista consagrou-se como crítico literário no Diario de
Pernambuco, onde dirigiu um suplemento literário por mais de 40 anos.
Editou a
Revista Estudos Universitários, da UFPE, durante os anos de 1966 a 2005,
divulgando o trabalho de diversos poetas da chamada Geração 65. Foi professor
emérito de literatura e criador do programa de Pós-Graduação de letras e
linguística da Universidade Federal de Pernambuco.
Publicou
mais de 30 títulos entre poesia, conto e crítica literária. Foi o primeiro poeta
de língua portuguesa a gravar seus poemas para o acervo fonográfico da
Biblioteca de Harvard (EUA), participando de encontros com importantes nomes da
vanguarda literária e acadêmica dos Estados Unidos.
Em vida
recebeu várias comendas, destacando-se a concessão do título de Cidadão
Pernambucano, outorgado pela Assembleia Legislativa de Pernambuco, na década de
90, e o título de Cavaliere da Ordem do Mérito da República Italiana, outorgado
nos anos 80 pelo Presidente Sandro Pertini, por sua dedicação especial à
obra de Dante Alighieri.
Foi
membro titular do Conselho Federal de Cultura do MinC, do Conselho de Liberdade
de Expressão e Criação do Ministério da Justiça e do Conselho Diretor da
Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). Pelo conjunto da obra foi agraciado em 2006
com o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras. No ano
seguinte foi eleito para a Cadeira nº 23 da Academia Pernambucana de Letras,
ocupada anteriormente pelo professor Evaldo Bezerra Coutinho.
Os Editores
Dois poemas de César Leal
Análise da sombra
Analisa-se da sombra
seu caráter permanente:
pela manhã retraindo
a imagem, à tarde crescente.
E aquele instante em que a sombra
adelgaça o corpo fino
como se no chão entrasse
quando o sol se encontra a pino.
Quem a esse instante mira
Analisa-se da sombra
seu caráter permanente:
pela manhã retraindo
a imagem, à tarde crescente.
E aquele instante em que a sombra
adelgaça o corpo fino
como se no chão entrasse
quando o sol se encontra a pino.
Quem a esse instante mira
em oposição ao lado
onde o sol era luz antes
logo vê o passo vago
da sombra que agora cresce
o corpo de onde se filtra
até fundir-se no limbo
que em torno dela gravita.
Forma esse limbo a coroa
que as sombras traz federadas:
soma de todas as sombras
num só nó à noite atadas.
onde o sol era luz antes
logo vê o passo vago
da sombra que agora cresce
o corpo de onde se filtra
até fundir-se no limbo
que em torno dela gravita.
Forma esse limbo a coroa
que as sombras traz federadas:
soma de todas as sombras
num só nó à noite atadas.
Sutilíssimo eterno
Sutilíssimo eterno que habita
minhas saletas interiores
onde trago o tempo guardado
noturno e resignado
sutilíssimo eterno interior
que como um tálamo é
em minha alma limpa e sofrida
como água dormida em pedra
que eterna seiva alimenta
este tempo em mim retido
plumagem livre de flor
forma exata imperecível
sinto-te assim como um trunfo
branda coroa do eterno
além das nuvens, das águas
ouço o teu metal desperto
se existes no ser completo
na cinza móvel das sombras
por que retiras de mim
tudo o que em mim não é pântano?
Sutilíssimo eterno que habita
minhas saletas interiores
onde trago o tempo guardado
noturno e resignado
sutilíssimo eterno interior
que como um tálamo é
em minha alma limpa e sofrida
como água dormida em pedra
que eterna seiva alimenta
este tempo em mim retido
plumagem livre de flor
forma exata imperecível
sinto-te assim como um trunfo
branda coroa do eterno
além das nuvens, das águas
ouço o teu metal desperto
se existes no ser completo
na cinza móvel das sombras
por que retiras de mim
tudo o que em mim não é pântano?
Um Domingo Leal
Reviewed by Natanael Lima Jr
on
14:40
Rating:
Justa homenagem. Belas poesias. Boa semana para todos.
ResponderExcluirMais que justa homenagem ao poeta de Minha Águia
ResponderExcluir