Outubro da Poesia Pernambucana
Poemas de João
Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira, Alberto da Cunha Melo, Edwiges de Sá
Pereira, Austro Costa e Luiz Carlos Monteiro
Homenagem a
Picasso*
João Cabral de
Melo Neto
(09/01/1920 –
09/10/1999)
O esquadro disfarça o eclipse
que os homens não querem ver.
Não há música aparentemente
nos violinos fechados.
Apenas os recortes dos jornais diários
acenam para mim como o juízo final.
*Pedra do
Sono, 1940/1941
Contrição*
Manuel
Bandeira
(19/04/1886 –
13/10/1968)
Quero banhar-me nas águas límpidas
Quero banhar-me nas águas puras
Sou a mais baixa das criaturas
Me sinto sórdido
Confiei às feras as minhas lágrimas
Rolei de borco pelas calçadas
Cobri meu rosto de bofetadas
Meu Deus valei-me
Vozes da infância contai a história
Da vida boa que nunca veio
E eu caia ouvindo-a no calmo seio
Da eternidade
*Estrela da
manhã, 1960
O cerco
Alberto da
Cunha melo
(08/04/1942 –
13/10/2007)
Estamos todos cercados;
e o silêncio do sonho
é nossa arma sagrada:
as pistolas e as línguas de aço
dos inimigos brilham ao sol,
e eles gritam tanto
sobre as velhas colinas,
atrás das cegas estantes,
que sabemos de tudo;
e colados ficamos,
amamos e permanecemos.
A uma estrela*
Edwiges de Sá
Pereira
(25/10/1885 –
04/08/1959)
À estrela que acompanhada a lua
Eu, curiosa, perguntei um dia:
- Qual de vós vale mais, a que flutua
No céu azul da minha fantasia.
Ou tu que, no correr da noite fria,
Erras no céu, assim pálida e nua,
Das esferas ouvindo essa harmonia
Que, até de ouvi-la, o velho mar estua?
E a clara estrela disse-me: “Criança,
Quando fanada a última esperança,
A alma ficar-te de ilusões vazia,
Inda hás de ver-me fulgurar, divina;
Mas onde encontrará a que ilumina
O céu azul da tua fantasia”?
*In
Pernambuco, Terra da Poesia, 2010, p. 117
O canto do
cisne*
Austro costa
(06/05/1899 –
29/10/1953)
Mil amores cantei. Fáceis amores...
Vagas quimeras... leves utopias...
Vãos devaneios de que enchi meus dias
Nos vinte anos azuis dos sonhadores...
Mil amores cantei... mas, entre flores,
Beijos, risos, promessas, fantasias,
Vi-os bater as asas fugidias...
Não me deixaram lágrimas, nem dores.
Este, porém, que se aprimora em pranto
E renúncia em minh’alma – estranho e santo
Amor, a que não trazes teu socorro.
Este, sim! vale o canto que te oferto.
Ouve-o, e guardo-o! Ele é teu. Será, decerto,
O meu canto de Cisne. Canto-o e morro!
*In Pernambuco, Terra da Poesia, 2010, p. 144
Poema
sertaniense ou nas ruas da velha cidade*
Luiz Carlos
Monteiro
(24/101957 –
27/07/2011)
Nas ruas da velha cidade
batidas de sinos vibrando
vai lentamente um cortejo
silencioso avançando
Procissão missa ou enterro
os sem-aviso sondando
se procissão – muito bem
se funeral – isso é mau
Rua velha
velha igreja
última benção
final
In Poemas, 2003,
p. 41
Outubro da Poesia Pernambucana
Reviewed by Natanael Lima Jr
on
09:27
Rating:
Uma maravilhosa apresentação de belos poemas dos nossos inesquecíveis poetas pernambucanos. Edição antológica, de muito bom gosto. Abraços e parabéns.
ResponderExcluirAgradecemos seu comentário. Buscamos sempre o melhor da poesia pernambucana e brasileira.
ResponderExcluirNatanael Jr.
Que seleção, Natanael! Maravilha!
ResponderExcluirAbraços
Márcia
Olá Márcia, agradecemos sua visita e seu comentário.
ExcluirNatanael Jr
muito bom, parabéns!
ResponderExcluir