A Contradição Opressores-Oprimidos. Sua Superação (Fragmento)
Paulo Freire*
Foto arquivo: IPF
Paulo Freire
(1921 – 1997)
A violência dos opressores, que os faz
também desumanizados, não instaura uma outra vocação – a do ser menos. Como
distorção do ser mais, o ser menos leva os oprimidos, cedo ou tarde, a lutar
contra quem os fez menos. E esta luta somente tem sentido quando os oprimidos,
ao buscarem recuperar sua humanidade, que é uma forma de criá-la, não se sentem
idealisticamente opressores, nem se tornam de fato, opressores dos opressores,
mas restauradores da humanidade em ambos. E aí está a grande tarefa humanista e
histórica dos oprimidos – libertar-se a si e aos opressores. Estes, que
oprimem, exploram e violentam, em razão do seu poder, não podem ter, neste
poder, a força de libertação dos oprimidos nem de si mesmos. Só o poder que
nasça da debilidade dos oprimidos será suficientemente forte para libertar a
ambos. Por isto é que o poder dos opressores, quando se pretende amenizar ante
a debilidade dos oprimidos, não apenas quase sempre se expressa em falsa
generosidade, como jamais a ultrapassa. Os opressores, falsamente generosos,
têm necessidade, para que a sua “generosidade” continue tendo oportunidade de
realizar-se, da permanência da injustiça. A “ordem” social injusta é a fonte
geradora, permanente, desta “generosidade” que se nutre da morte, do desalento
e da miséria.
Daí o desespero desta “generosidade”
diante de qualquer ameaça, embora tênue, à sua fonte. Não pode jamais entender
esta “generosidade” que a verdadeira generosidade está em lutar para que
desapareçam as razões que alimentam o falso amor. A falsa caridade, da qual
decorre a mão estendida do “demitido da vida”, medroso e inseguro, esmagado e
vencido. Mão estendida e trêmula dos esfarrapados do mundo, dos “condenados da
terra”. A grande generosidade está em lutar para que, cada vez mais, estas
mãos, sejam de homens ou de povos, se estendam menos, em gestos de súplicas.
Súplica de humildes a poderosos. E se vão fazendo, cada vez mais, mãos humanas,
que trabalhem e transformem o mundo...Quem, melhor que os oprimidos, se
encontrará preparado para entender o significado terrível de uma sociedade
opressora? Quem sentirá, melhor que eles, os efeitos da opressão? Quem, mais
que eles, para ir compreendendo a necessidade da libertação? Libertação a que
não chegarão pelo acaso, mas pela práxis de sua busca; pelo conhecimento e
reconhecimento da necessidade de lutar por ela.
(In Pedagogia do Oprimido, 2005, p. 32, 33 e 34)
*Paulo Freire foi um educador e filósofo. É Patrono da Educação Brasileira. É considerado
um dos pensadores mais notáveis na história da Pedagogia mundial, tendo
influenciado o movimento chamado pedagogia crítica.
Poemas de Alberto da Cunha Melo,
Natanael Lima Jr, Frederico Spencer, Márcia Maracajá, Wanderley Guilherme dos Santos e
Antonio de Campos
Patriotismo a meu modo*
Alberto da Cunha Melo
Minha bandeira
é meu coração,
mas olho com amor
a pupila azul
da bandeira da pátria
procurando por mim;
minha pátria
é meu coração;
mas olho com pena
as pálpebras verdes
da bandeira da pátria
se fechando por mim.
*In Poemas a mão livre, 1981.
Ed. Piratas, p. 23
Pátria (des)amada
Natanael Lima Jr
Img: Reprodução |
Ouviram das ruas as margens inflamadas
a voz de um povo, guerreiro
que não desiste, resiste
a desigualdade infame.
O sonho de igualdade
conseguiremos conquistar com braço forte,
em nossos corações, um grito de liberdade
ecoou nas ruas, nas praças
caminhando e cantando...
Ó pátria (des)amada
aviltada,
ave! ave!
junho, 18, 2013
Noite turca
Frederico Spencer
Img: Reprodução |
Anoiteceu
em Istambul
cai a
noite e um homem
freme
na praça, o povo
e suas
bandeiras:
sob o
efeito dos gases das bombas públicas
alucinado
vocifera a liberdade.
Cai a
noite em Istambul
e a
praça arde em chamas:
loucas,
chamas de neon
sob os
holofotes e as lentes do mundo
um
único homem treme:
sob os
motores dos tanques
os
sonhos de uma Turquia repartida.
Ainda
anoitecerá em Istambul
e o dia
na praça amanhecerá azul.
Mulheres
dançarão sob os véus
da
fumaça cinza desse tempo
bélico,
das paixões
das mil
e uma noites.
O sol e o novo vento
invadirão
as praças de Istambul.
12/06/2013
Declaração de reintegração de posse
Márcia Maracajá
Img: Reprodução |
Declaramos ao mundo
e a quem interessar
do universo e desta galáxia
onde a Terra está a plainar
Que no país chamado Brasil
o povo na rua foi lutar
pela democracia que há muito
não se via pras bandas de cá
Isso tudo começou
por uma tal Comissão
intentando desumanizar
os direitos do cidadão
E tão logo os índios no Salão Verde
em ritual xamã se puseram a profetizar
assumiram o poder da terra
que no passado o homem veio lhe roubar
E toda a sua descendência
e irmãos de luta a eles vieram se juntar
um negro rastafari convocou o povo às ruas
e o ritual magicamente pode se perpetuar
E assim o Brasil despertou para a luta varonil
sem armas, mas com palavras
demonstrando a democracia que há tempos aqui
dormiu.
Os irredentos*
Wanderley Guilherme dos Santos*
Img: Reprodução |
Os
produtores do poder são os irredentos de sempre,
são
os irredentos de hoje,
submetidos
pela força, pela ameaça de coação,
mas
que jamais abdicaram de sua liberdade interior.
São
esses irredentos,
é
a esses irredentos, é nesses irredentos que se funda
o
impulso permanente para a transcendência humana de si próprio
a
cada momento histórico.
Neles
e não nos conformados, nos submissos, nos rotinizados.
É
nos irredentos,
nos
que dizem não à arrogância do poder,
nos
que dizem não à altivez do poder,
nos
que dizem não à unanimidade do dogmatismo,
das
opiniões hegemônicas,
nos
que dizem não, nos que dizem não, dos que dizem não!
Só
estes é que, a cada momento,
transcendem
e têm a coragem e a ousadia de tentar transcender o dado,
o
institucionalizado, de desprezar e não se intimidar com o estigma,
com
a discriminação, com o ostracismo,
com
a difamação, com a calúnia, com a infâmia,
com
o assassinato de caráter.
É
nos irredentos que sempre se fundou,
sempre
se funda e sempre se fundará a Democracia.
* Não
resgatado, que ficou à margem.
Texto: conclusão de A
Anomalia Democrática, palestra
publicada na Revista Brasileira de Ciências Sociais, nº 36,
1998
* Cientista político, professor e pesquisador de Teoria Democrática
Capitalismo para todos
Antonio de Campos
o Sol da Liberdade brilhou no céu da Pátria nesse
instante
(Hino nacional)
Img: Reprodução |
Não
quero Copa,
quero
copo de leite, café,
whiskey, vinho ou
cerveja,
e
cheio, pela borda escorrer
Não
quero Scolari,
quero
escola de tempo integral
como
o pão
para
tomar com leite & café de manhã
Não
quero futebol, quero o Sol
brilhando
para todos
em
vez de quente brilhar
para
alguns somente
Não
quero bola, quero bolo saído da padaria
de
quem os donos são padeiros
e
fazem o bolo & o pão
virem
à luz do Sol da gente
Não
quero técnico de seleção,
quero
presidente da nação,
que
faça o jogo
dos
que nele o seu voto jogaram
Não
quero um país
que desde o momento em que nasceu,
sempre
foi descoberto,
e
nunca a si mesmo se descobriu
Não
quero um país de sexta economia
e
última categoria –
quero
um país onde a Liberdade
seja,
realmente,
pelo
Sol da pátria anunciada
&
a Justiça em cada esquina se diga
presente!
A Contradição Opressores-Oprimidos. Sua Superação (Fragmento)
Reviewed by Natanael Lima Jr
on
09:05
Rating:
Nenhum comentário