Carnaval e Poesia
Pierrô, Arlequim e Colombina, óleo sobre
tela de Di Cavalcanti (1922)
tela de Di Cavalcanti (1922)
Ao som dos clarins de momo atualizamos o “Domingo com Poesia” em ritmo de carnaval e poesia. A poesia está para o carnaval assim como a letra da canção está para o poema. Infinitas são as canções que levam a palavra poética para os salões e invadem as ruas. Inúmeras são as relações do carnaval e a poesia, quando as emoções e os impulsos gritam e celebram a alegria. Podemos afirmar que o carnaval é a poesia do corpo e das cores, é a sensação de liberdade em que perpassa também a poesia. Feliz Carnaval!
ESTATUTO DO FOLIÃO
Antonino Oliveira Júnior*
Art. 1 - Fica decretado, que durante todo o carnaval não haverá lugar para a tristeza e que a alegria deverá reinar na cidade.
Art. 2 – Que ao folião será dado o direito de extravasar sua alegria ao som do maracatu, do caboclinho, do afoxé, do samba e, principalmente, do frevo.
Art. 3 - Fica terminantemente proibida qualquer manifestação de violência, garantindo-se ao folião o direito de brincar em segurança.
Art. 4 - Que será respeitado o espaço do folião infantil, assegurando-se, dessa forma, o futuro do carnaval.
Art. 5 - Que Pierrôs e Colombinas poderão, enfim, se amar sem lágrimas e sem barreiras.
Art. 6 - Que durante o carnaval a cidade estará colorida e iluminada, para deleite dos foliões.
Art. 7 - Que o rei e a rainha do Carnaval serão parceiros do povo na alegria e no prazer da folia.
Art. 8 - Que a quarta-feira de cinzas não será o fim, mas o início da pausa entre um carnaval e outro.
Art. 9 - Que as ruas, praças, becos e ladeiras da cidade serão territórios livres e democráticos, para que sejam ocupados, de forma igual, por Troças, Blocos, Caboclinhos, Maracatus, enfim, por foliões de todas as raças e credos, de qualquer naturalidade e nacionalidade.
Art. 10 - Que o povo seja, definitivamente, dono dos passos e danças que executar; que amanheça na folia e que, exausto, possa adormecer, embalado por um Frevo-de-Bloco cantado à distância.
*Antonino Oliveira Júnior é poeta e membro da Academia Cabense de Letras
Contatos: e-mail: antoninojr@hotmail.com
Turbilhão
Moacyr Franco
A nossa vida é um carnaval
A gente brinca escondendo a dor
E a fantasia do meu ideal
É você, meu amor
Sopraram cinzas no meu coração
Tocou silêncio em todos clarins
Caiu a máscara da ilusão
Dos Pierrôs e Arlequins
Vê colombinas azuis a sorrir
Vê serpentinas na luz reluzir
Vê os confetes do pranto no olhar
Desses palhaços dançando no ar
Vê multidão colorida a gritar
Vê turbilhão dessa vida passar
Vê os delírios dos gritos de amor
Nessa orgia de som e de dor
Vê serpentinas na luz reluzir
Vê os confetes do pranto no olhar
Desses palhaços dançando no ar
Vê multidão colorida a gritar
Vê turbilhão dessa vida passar
Vê os delírios dos gritos de amor
Nessa orgia de som e de dor
A mesma rosa amarela*
Carlos Pena FilhoVocê tem quase tudo dela,
o mesmo perfume, a mesma cor,
a mesma rosa amarela,
só não tem o meu amor.
Mas nestes dias de carnaval
para mim, você vai ser ela.O mesmo perfume, a mesma cor,
a mesma rosa amarela.
Mas não sei o que será
quando chegar a lembrança delae de você apenas restar
a mesma rosa amarela,
a mesma rosa amarela.
*Segundo revela o crítico e pesquisador Ricardo Cravo Albim, "A mesma rosa amarela" foi escrito por Carlos Pena Filho (morto em acidente de carro em 1960, com apenas 31 anos de idade) para o carnaval daquele ano. Apresentado a Capiba para musicá-lo, o compositor de "Maria Betânia" gostou tanto do poema que achou que ele não deveria ser cantado apenas nos quatro dias de carnaval e fez um samba-canção. "A mesma rosa amarela" foi gravado pelo cantor Claudionor Germano (intérprete preferido de Capiba), mas não obteve sucesso. O sucesso veio quando Maysa gravou, uns dois anos depois. Com o passar dos anos, vários outros cantores regravaram a música, inclusive Nelson Gonçalves.
Soneto de carnaval
Vinícius de MoraesDistante o meu amor, se me afigura
O amor como um patético tormento
Pensar nele é morrer de desventura
Não pensar é matar meu pensamento.
Seu mais doce desejo se amargura
Todo o instante perdido é um sofrimento
Cada beijo lembrado uma tortura
Um ciúme do próprio ciumento.
E vivemos partindo, ela de mim
E eu dela, enquanto breves vão-se os anos
Para a grande partida que há no fim
De toda a vida e todo o amor humanos:
Mas tranquila ela sabe, e eu sei tranquilo
Que se um fica o outro parte a redimi-lo.
Oxford, 02.1939
O outro carnaval
Carlos Drummond de AndradeFantasia,
que é fantasia, por favor?
Roupa-estardalhaço, maquilagem-loucura?
Ou antes, e principalmente,
brinquedo sigiloso, tão íntimo,
tão do meu sangue e nervos e eu oculto em mim,
que ninguém percebe, e todos os dias
exibo na passarela sem espectadores?
que é fantasia, por favor?
Roupa-estardalhaço, maquilagem-loucura?
Ou antes, e principalmente,
brinquedo sigiloso, tão íntimo,
tão do meu sangue e nervos e eu oculto em mim,
que ninguém percebe, e todos os dias
exibo na passarela sem espectadores?
Poema para uma quarta-feira em cinzas*
Natanael Lima Jrnada além de uma noite vazia
sem gozo
sem brilho
des
c
o
l
o
r
i
d
a
nossos corpos envolvidos
numa cinza paixão
de uma quarta-feira
sem vida
dezembro/2009
*do Livro “À espera do último girassol & outros poemas”
Carnaval e Poesia
Reviewed by Natanael Lima Jr
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