OSWALD, O GÊNIO ANTROPÓFAGO
Por Natanael
Lima Jr*
Há sessenta e
quatro anos falecia em São Paulo, em 22 de outubro de 1954, um dos escritores
mais importantes e polêmicos do país e um dos fundadores do movimento
modernista, iniciado oficialmente na Semana de Arte Moderna em 1922.
Oswald
de Andrade, 1920 I Foto: Reprodução
José Oswald de Sousa Andrade foi
poeta, romancista, ensaísta, dramaturgo e jornalista. Foi reconhecido como um
dos mais importantes e polêmicos escritores do modernismo brasileiro.
Oswald escreveu dois marcantes textos,
considerados como subversivos, foram eles: “Manifesto Antropófago”, publicado na
Revista da Antropofagia, que colaborou na sua criação, e o “Manifesto da Poesia
Pau-Brasil”. Escreveu também a primeira
obra reconhecidamente modernista, Pau-Brasil,
livro de poemas.
A antropofagia segundo Oswald “é uma
inversão do mito do bom selvagem de Rousseau, que era puro, inocente, edênico.
O índio passa a ser mau e esperto, porque canibaliza o estrangeiro, digere-o,
torna-o parte da sua carne. Assim o Brasil seria um país canibal. O que é um
ponto de vista interessante porque subverte a relação colonizador
(ativo)/colonizado (passivo). O colonizado digere o colonizador. Ou seja, não é
a cultura ocidental, portuguesa, europeia, branca, que ocupa o Brasil, mas é o
índio que digere tudo o que lhe chega. E ao digerir e absorver as qualidades
dos estrangeiros fica melhor, mais forte e torna-se brasileiro”.
Capa
da Revista de Antropofagia (1928),
onde
o “Manifesto” foi publicado
Oswald de Andrade ironizava frequentemente
em suas obras a submissão da elite brasileira aos países desenvolvidos.
Propunha a "Devoração cultural das técnicas importadas para reelaborá-las
com autonomia, convertendo-as em produto de exportação".
Integrou e liderou o conhecido “Grupo
dos Cinco”, formado por Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Menotti del Picchia
e Mário de Andrade, que defendia as ideias do movimento modernista no Brasil.
Suas principais obras são: Poesia pau-brasil, Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade, Memórias Sentimentais de João Miramar, Serafim Ponte Grande, Os condenados.
*Natanael
Lima Jr.
é poeta, editor do site “Domingo com Poesia” e da “Imagética Edições”
TRÊS POEMAS DE OSWALD DE ANDRADE
Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
Erro de português
Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.
Canto de regresso à
pátria
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo.
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo.
OSWALD, O GÊNIO ANTROPÓFAGO
Reviewed by Natanael Lima Jr
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Um poeta fundamental para compreender a poesia contemporânea brasileira. Excelente postagem.
ResponderExcluirAgradeço o seu comentário, querida poeta
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