“FEBRE”, LIVRO DE ESTREIA DE TACIANA VALENÇA, UM PRESTIGIADO LANÇAMENTO
11 de novembro
de 2018 por José Luiz Mélo*
Capa divulgação
Não fosse a poetisa Bernadete Bruto, quem escreveu o
prefácio do livro de poemas “Febre” da poetisa Taciana Valença, onde informa
que este é o primeiro livro que a autora publica, ao se ler o mesmo, a
impressão que nos deixa é de que a mesma tem uma vasta obra publicada, face à
intimidade que mostra com as palavras, suas devotadas servas na expressão dos
seus sentimentos.
Confesso, achei maravilhoso o título que Taciana
encontrou para sua obra-prima. “Febre”. Ele mesmo uma obra-prima de título que
sintetiza em si a expressão maior que se podia dar ao livro/poema, título mais
curto que um Haicai mas com a dimensão de um verso Alexandrino, não sezão,
(febre intermitente), mas uma febre divina, de temperatura máxima, arrocho de
calor que não cede aos antitérmicos mas, que nos pela a pele com sua intensidade
de emoção e sentimento.
Gostei, muito, da maneira como Taciana dispôs os seus
poemas no curso do seu livro. Com subtítulos que per si representam um poema e
que retratam os segmentos dos tegumentos da sua vida, das efervescências e
calmarias, mas sempre numa temperatura extrema: ”Onde a sociedade habita”, “O
que não se explica”, “Poesias para se lambuzar de amor”, “Nas minhas
inquietações”, “Eu por mim”, “E por falar em versos...”
As orelhas, foram escritas pelo Sidney Nicéas. O posfácio
por Luiz Carlos Dias. Ainda o livro inclui uma análise magistral que penetra
nas suas mais íntimas vicissitudes, da Acadêmica Fátima Quintas, que pela sua
invulgar beleza transcrevo logo a seguir, e que sugiro à autora, se ainda não o
fez, publicá-lo na sua prestigiada coluna nas 4as. Feiras no Jornal do Comércio.
A ARTE DO BELO NO DIZER POÉTICO
Folheio os versos de Taciana Valença com uma certa
ansiedade; são imagens que se escondem para muito além do escrito. A sua poesia
nasce do mergulho interior, alcança a metáfora do viver e se transforma em
beleza pura, em simbologia plena, em renovação existencial. Assinala: Morrer
então/ no infinito de mim, / de dor nem tanto assim, /para que nada tenha sido
em vão.
Observa-se na leitura uma íntima ligação entre a forma e
a musicalidade, expressão consistente, o que lhe confere a efervescência de um
eu em plena ebulição. Dizer não basta, importa submergir no texto com vontade
de desnudar-se; ir ao encontro de uma verdade desconhecida, procurando
mistificá-la por entre sussurros e segredos daquele instante que jamais se
traduz. A poesia, clímax da literatura, reclama escavações, arqueologias,
ressignificações, nunca excesso de explicitudes, uma vez que a linguagem
estética é reveladora de intimidades e de subterfúgios do âmago. Por
conseguinte, exorta a alma nas mais profundas reentrâncias.
Há um grito silencioso que somente chega aos ouvidos
quando de posse de intencionais e sedutoras entrelinhas. Taciana cautelosamente
explode em murmúrios quase inaudíveis: Do abstraído ser/ que nem mesmo é, /
continuando sendo/ até nem mais ser... Como se não bastasse a harmonia poética
de um ser que duvida, a autora não usa o ponto final, busca as reticências nas
interrogações do seu próprio existir. Vai além, atravessa planícies e
montanhas, conhece os enigmas da existência, reserva-se, prossegue, segue a
trilha do incógnito e deságua na difusa escultura da transfiguração.
O livro “Febre” traz no título a intensidade que o
perpassa; não esmorece em momento algum; percorre os casulos de um corredor
sinuoso e pleno de vivência; jamais se furta aos mistérios da criatividade,
pelo contrário, excede-se em pujança e vibração ao expor versos que acompanham
as circunvoluções do cotidiano. E repete a poeta: A gente ajeita, / conserta,
refaz. / Pinta o que há de castigado. / Trabalha dia e noite. / Solto,
apertado, / triste como um fado. A vida das coisas simples constitui o que há mais
de impactante na poesia de Taciana. As horas, os minutos, os segundos são
companheiros do pensamento em conflito. Se a letra ganha a distinção do falar,
por que não maquiá-la para além do imensurável? Pois não há intervalos na
cronologia oncológica: fatos se acumulam, sacramentando os impulsos de cada um.
As alegorias prosseguem em tropos de interrogação.
O mundo se espraia em um tempo que não estanca — corre,
segue, avança, até onde? As representações se manifestam de forma sequencial e
pouco translúcida. E a existência se confunde com uma realidade que não tem
nome. Melhor assim. Eis a poesia completa e ancha de recursos abstratos,
filosóficos, humanos. Na metonímia da própria inquietação, tomo de empréstimo o
poema “De repente” para nele debruçar-me com reverência: De repente essa
vontade/ de nem ser, não estar./ Sair sem destino, / num desatino. / Fugir para
o nada. / Pegar carona na vida que passa. / Ir lá fora, pegar as estrelas, /
tocar o sol e o vento.
Ler os poemas de Taciana intensifica a complexidade das
incertezas. Ainda bem. São verdadeiros anseios de transcendência. Respondem e
não respondem à ambivalência que nos habita. Urge acompanhá-los com emoção e
sentimento; sugá-los com prudência e cautela; amá-los na construção do
recôndito.
Fátima Quintas
Recife, 19 de maio de 2018.
*José Luiz Melo é poeta e editor do DCP
“FEBRE”, LIVRO DE ESTREIA DE TACIANA VALENÇA, UM PRESTIGIADO LANÇAMENTO
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Emmanuel Almeida
ResponderExcluirInteressante observar que um Livro de Poemas dessa magnitude , não é comentado, talvez não tenham adquirido para concordar ou discordar do analista ou crítico, como queiram. Infelizmente o Brasil que apregoou Cultura ficou apenas na mancha escura do que foi e representou. Novos tempos virão, espero por verdadeira intensão de Cultura e Educação. Parabéns Poeta Taciana Valença.