A EXPOSIÇÃO DOS MÚLTIPLOS SÓIS DE JÚLIA LEMOS

Por Natanael Lima Júnior 

O DCP tem o prazer de trazer nesta edição, ineditamente, a força da poesia Júlia Lemos; clarividente e exposta a múltiplos sóis. Selecionamos cinco poemas extraídos do seu mais recente livro “A exposição dos sóis”, Ed. Penalux, 2017, SP. Júlia é pernambucana do Recife, iniciou sua trajetória como atriz nos palcos recifenses. Seus primeiros trabalhos foram publicados no Diario de Pernambuco e Jornal do Commércio; organizando e participando de vários recitais poéticos em Olinda e Recife. Em 1981 lançou seu primeiro livro de poesia, “Carmem Antonia Migliacchio Enlouqueceu” e em 1977 publica “A Casa Estrelada”. Escreveu os ensaios: “Sobre uma poesia de Larvas Incendiadas” e “Patativa do Assaré – um trovador nordestino. Integra várias antologias no Brasil e Portugal.

CINCO POEMAS DE JÚLIA LEMOS

SOLAR

Aqui no Recife

para saber as horas

não é preciso consultar o relógio:

meio – dia Sol na cara,

uma hora,

Sol a pino

Três horas da tarde:

O Sol define o meu destino.

CANDEIA

O olhar soturno que Deus me deu

não é para ferir o mundo

mas para amá-lo.

Ama-o com a candura

dos olhares límpidos

e subo ao mais alto edifício

de onde eu possa ser a candeia

que ilumine toda a cidade.

SOBRE O TEMA DA ROSA

O amor desfaz-se em pétalas

à medida do vento sobre ela,

a rosa, símbolo dessa coisa

frágil e bela.

Mas sem a rosa

os dias como que passam

lívidos

e há pétalas soltas

junto com balas perfurando

livros.

PALAVRA

Amigos me perguntam

o que é ser poeta.

Digo que é fazer

a reportagem do mistério,

romper o silêncio

além da exterioridade do dia

- que passa

requerendo da pedra

a palavra.

OUTONAL

O faço no dia

em que o Sol não se mostra?

Sob a luz baça,

ainda vejo fotografias pálidas

daquelas a quem amo.

Descobri que nenhuma força

desfaz aquilo que se construiu

em milênios:

um amor que se formou

pelas entranhas da terra

e que se revela agora

como as folhas maduras

desse outono.