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ENTREVISTA EXCLUSIVA COM O POETA PERNAMBUCANO ZÉ DE LARA



GRANDES ENTREVISTAS




Poeta Lara / Foto: Reprodução



O DCP traz nesta edição, a entrevista exclusiva com o escritor e poeta Zé de Lara. Lara é um dos pseudônimos de José Luís Mir anda; também conhecido como “poeta Lara” ou apenas “Lara”. Nasceu em Bom Conselho (PE), no agreste meridional. Participou, informalmente, do Movimento de Escritores Independentes em Pernambuco (MEI-PE). É autodidata. Foi também recitador, e participou de recitais no Recife e em outras cidades do nordeste do Brasil.



DCP - Na sua visão, qual seria a função social do poeta?

*. A função do poeta é uma função dupla: sintática e “ideológica”. Fonética e sintaxe. Arte e sociedade. Estética e política... econômica. Mas a poética politizada ainda é um tabu para a mente ocidentalesca tupiniquim do “aqui-e-agora”: vampiresca e “neocon”. Ginsberg ainda é um “papa-figo” para o patriarcado sertanejo d’antanho.


DCP - PARA VOCÊ, o que nos ensina a poesia?

*. A poesia é mais “saborosa” que a prosa. Por conta, principalmente, de estar impregnada de ritmo, métrica, harmonia, rima, melodia, etc. Tudo isso pode atuar como alguma espécie de “isca” para pré-adolescentes desenvolverem o gosto pela leitura. Começarem a sentir um “sabor” no ato de ler. Daí então é que vem a enorme importância de usar a poesia em sala de aula. E tem também a parte mais especificamente “existencial”, onde, desde a antiguidade, os poetas, na maioria dos casos, estiveram sempre na contramão da postura “pan-racional” de uma visão-de-mundo “proto-cartesiana”, por assim dizer. Orfeu e Dionísio contra Aristóteles e Comte.


DCP - Na atual conjuntura política brasileira, ainda vale sonhar que “amanhã será outro dia”?

*. Tem muita gente afundando no pessimismo conformista e cooptado pela burguesia neoliberal ou neofascista. Já vimos esse filme antes. Mas é preciso um pouco de “negatividade” pra ajudar a perceber alguns aspectos negativos da realidade tupiniquim. Sem cair no comodismo pessimista. Pra mim, o principal argumento contra o conformismo negativista é o fato incontestável de que a condição humana é “bipolar”. E daí, então, concluímos que qualquer um dos lados dessa “bipolaridade” pode tornar-se hegemônico, circunstancialmente, dentro dessa “díade”. Ou acontecer uma “neutralidade” em algum tipo de “meio-termo”.


DCP - Você participou, informalmente, do Movimento de Escritores Independentes em Pernambuco (MEI-PE), surgido no início da Década de Oitenta. Esse “movimento” foi criado com o objetivo de difundir a Literatura “Alternativa” em oposição ao Sistema opressor daquele contexto. Isso é mesmo verdade? Esse objetivo foi alcançado?

*. Eu estou saciado. Mas... se parei de publicar, não parei de escrever. Se algum ex-membro do MEI-PE ainda não está saciado, então a palavra está com ele daqui pra frente. E o debate “ideológico”, ou epistêmico, sempre foi diversificado, e amplo, dentro do MEI-PE; pois elaboramos uma sintaxe coloquial bem costurada. Com muita densidade crítica repassada numa linguagem compreensível para o leitor médio. Tudo isso gestou uma relação entre arte e ideologia que, na maioria dos casos, não descambou para o “panfletarismo” rasteiro; e ao mesmo tempo tornou-se originalmente politizada “à esquerda”, mas sem afundar em ortodoxias ou posturas fundamentalistas, “de direita” ou “de esquerda”.


DCP - O livro que você lançou recentemente, intitulado “Carniça Total”, (uma novela com três capítulos, onde cada um destes três é composto por um conto), e tem como subtítulo “Três contos malassombrados”, sendo também impróprio para menores de 16 anos, lançado pela Imagética Edições em 2019, seria esse livro um espelho de um escritor maduro e conectado com o mundo atual e tudo que dele emana contextualmente na atualidade?

*. É um livro experimental. Mas eu poderia dizer também “neo-naturalista”, ou suprarreal. Com muitas colagens e intertextualidades. E com a ordem cronológica embaralhada também. E é o meu último livro. O que não quer dizer que eu vou parar de escrever. Vou continuar escrevendo e “publicando” no meu blog e na “linha-do-tempo” do Fêice. Porém, em se tratando de livros propriamente ditos, este é, realmente, o meu último livro. Acredito, sinceramente, que já cumpri, nesta “reencarnação” atual, a minha missão especificamente literária. E AGORA JÁ POSSO DESCANSAR. Ou escrever muito lentamente. Sem nenhuma pressa. Relaxando.


DCP - Você se utiliza das redes sociais, e também de “blogs”, para a divulgação da sua produção literária “alternativa”. As novas tecnologias democratizam o debate e contribuem para o acesso ao Conhecimento Geral? Como está, atualmente, os acessos ao seu blog “Egos e Gogas”?

*. Eu gosto do Word. E gosto também do “Fêice”. Mas... no meu “ganha-pão” administrativo, trabalhei mais com Access e Powerpoint do que com Excel. Às vezes, eu apelo para os meus velhos cadernos de “amanuense”; mas eu me “viciei” em Words e Microsofts. E não quero mais voltar para o mimeógrafo e a máquina Burroughs. Ou Remington. Eu agora estou conectado com todas as impressoras digitais do planeta. E estou gostando. (As impressoras digitais estão contribuindo muito para a socialização do poder e a distribuição de renda; mas o futuro pertence ao “Dios Páter”, e não a mim.) Também estou chegando a 2.000 (dois mil) contatos no Fêice; porém continuo com poucos e raríssimos “amigos-de-verdade”.


Cabo de Santo Agostinho (PE) – Xaréu
16 de março de 2020. 

ENTREVISTA EXCLUSIVA COM O POETA PERNAMBUCANO ZÉ DE LARA ENTREVISTA EXCLUSIVA COM O POETA PERNAMBUCANO ZÉ DE LARA Reviewed by Natanael Lima Jr on 00:04 Rating: 5

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